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Crítica | The Walking Dead: Daryl Dixon – 3X06: Contrabando

Chegando em Barcelona.

por Kevin Rick
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Depois do pequeno fôlego que foi Limbo, Contrabando marca um retorno ao que essa terceira temporada de Daryl Dixon parece incapaz de abandonar: o melodrama forçado, a alternância entre boas ideias isoladas e tramas que se arrastam, e uma sensação persistente de que há sempre um grande potencial desperdiçado. É um episódio mais movimentado que os anteriores, cheio de revelações, tentativas de dar densidade emocional aos personagens secundários e uma nova virada na jornada de Daryl rumo a Barcelona, mas, ao fim, a série volta a tropeçar onde sempre tropeça, na artificialidade das motivações e na falta de peso das consequências.

O núcleo de Solaz del Mar, que agora domina metade do episódio, tenta finalmente dar alguma espessura ao conflito entre Fede e Antonio, mas o resultado é mais um amontoado de flashbacks explicativos e dramas de novela do que uma construção orgânica de personagens. A revelação sobre Maria, a esposa morta que une e separa os dois homens, funciona em tese como a origem trágica de suas diferenças, mas na prática soa como uma tentativa tardia de justificar conflitos que nunca tiveram grande substância, ainda mais agora ao final da temporada. A própria lembrança da filmagem do documentário e da explosão até possui alguma força visual, mas é sabotada pela forma didática com que o episódio se apressa em “explicar” um passado que não importa tanto para os eventos em andamento.

Fede, que até aqui era um vilão funcional, mas um tanto ambíguo, se transforma num vilão de manual, envenenando Roberto para apagar provas e garantindo seu lugar na lista dos antagonistas descartáveis da série. O gesto, que poderia ser moralmente devastador, é apenas mecânico, em mais uma engrenagem para empurrar Carol de volta ao protagonismo. A cena em que ela descobre o envenenamento e tenta salvar o garoto até tem alguma tensão, especialmente pela performance sempre competente de Melissa McBride, mas é o tipo de momento que funcionaria melhor se não estivesse cercado por tanto sentimentalismo barato.

O que sustenta o interesse, curiosamente, continua sendo o mesmo que já funcionava em Limbo: o deslocamento de Daryl. O arco dele em Barcelona, agora ao lado de Paz, é o que mais se aproxima de uma narrativa minimamente envolvente. O episódio acerta ao colocar Daryl em contato com a resistência local, um grupo de refugiados que luta contra El Alcázar. A tentativa de emboscada ao comboio na Ciutat Vella não é particularmente original, em mais uma operação fracassada, mais tiros e mais zumbis surgindo pontualmente para lembrar o gênero em que estamos, mas pelo menos é um momento que respira alguma urgência.

A presença de Paz também é um dos raros acertos dessa temporada. Sua relação com Daryl, ainda que construída com os clichês de sempre (a confissão íntima, a dor do passado, o pacto de continuar juntos), carrega uma naturalidade que falta ao restante da série. Talvez porque o episódio consiga encontrar neles dois algo que há muito se perdeu em The Walking Dead: a noção de solidariedade silenciosa, de empatia construída no gesto e não no discurso. Quando Daryl convence o grupo a seguir com o plano, ou quando ambos percebem o fracasso e decidem avançar mesmo assim, há uma honestidade.

Os flashbacks, porém, voltam a pesar. A tentativa de conectar o Daryl adulto ao menino que fugiu do pai abusivo é compreensível, mas a execução é preguiçosa. Essa insistência em amarrar o passado traumático ao presente da jornada soa mais como um gesto automático do roteiro do que como um aprofundamento real. A figura de Merle, evocada rapidamente, é puro fan service, e o contraste entre o menino que foge e o homem que salva já é autoexplicativo sem precisar ser mostrado. Sem falar que depois de tantos anos, precisamos mesmo de um backstory do Daryl?

Do ponto de vista técnico, Contrabando é um episódio bem montado, com um bom uso de cores e ótimo design de produção em Barcelona. Há uma atenção interessante na textura urbana da Espanha, com planos que valorizam as ruínas e os becos, algo que a série vinha esquecendo. A direção também tenta dar fluidez aos momentos de transição, especialmente na sequência do ataque ao comboio, que, mesmo genérica, é visualmente coerente e bem editada.

O grande problema, porém, é o mesmo de sempre: o episódio tem energia, mas não tem propósito. O enredo de Solaz insiste em existir como se fosse o coração da série, mas soa cada vez mais como um desvio tedioso que impede Daryl de respirar. Carol, por mais que traga peso dramático, está presa a uma trama que parece girar em torno de uma pequena novela campestre em meio ao apocalipse. E quando o episódio tenta injetar emoção, como o beijo com Antonio, o resgate de Roberto ou o confronto final com Fede, o resultado é um amontoado de momentos que querem ser catárticos, mas carecem de qualquer preparação emocional real.

Ao final, Contrabando deixa a sensação de que Daryl Dixon não sabe mais o que quer ser. Quando se aventura em episódios isolados, encontra histórias pequenas, humanas, quase poéticas, que lembram o charme original desse universo. Mas quando tenta construir uma narrativa ampla, volta a ser refém de roteiros formulaicos e emoções fabricadas. O título, aliás, parece involuntariamente apropriado: há algo de “contrabandeado” na própria natureza da série — um contrabando de ideias recicladas, de sentimentos emprestados, de conflitos que já vimos mil vezes antes.

Mesmo assim, há lampejos de algo bom. A jornada de Daryl e Paz rumo a El Alcázar, se bem conduzida, pode resgatar o espírito errante e solitário que dá sentido à presença dele nesse universo. Porque, no fim das contas, é só quando o personagem se afasta das comunidades e volta a andar sozinho por um mundo em ruínas que The Walking Dead parece lembrar de onde veio e, quem sabe, ainda para onde pode ir.

The Walking Dead: Daryl Dixon – 3X06: Contrabando (EUA, 12 de outubro de 2025)
Desenvolvimento: David Zabel
Direção: Daniel Percival
Roteiro: Marta Gene Camps
Elenco: Norman Reedus, Melissa McBride, Óscar Jaenada, Eduardo Noriega, Alexandra Masangkay, Hugo Arbues, Candela Saitta, Greta Fernández, Yassmine Othman, Gonzalo Bouza
Duração: 60 min.

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