- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Falar mal de The Walking Dead é algo praticamente redundante nos dias atuais. A franquia virou uma espécie de chacota com seus derivados intermináveis que flutuam de qualidade nivelada mais por baixo, mas, curiosamente, os seriados seguem com boas premissas. O retorno de The Walking Dead: Dead City é um bom exemplar disso, que, apesar do conceito de juntar Maggie e Negan não me agradar, tem algumas ideias curiosas em torno de uma Manhattan pós-apocalíptica que é palco de uma guerra entre facções e comunidades, com um tom meio neo-western e uma tentativa de expansão de mitologia. Infelizmente, a execução da primeira temporada deixou a desejar, desbocando em um desfecho horrendo que prepara muito do que vemos aqui em Power Equals Power.
De maneira geral, temos um capítulo bastante protocolar, reorganizando a narrativa depois de um salto temporal e estabelecendo o conflito principal da temporada: Nova Babilônia e seus xerifes vs Manhattan e suas gangues, em razão do novo recurso de metano, um combustível substituto para o etanol. O conceito de uma nova fonte de energia sendo disputada por diferentes comunidades que querem estabelecer controle no início de uma nova civilização é algo divertido de assistir, então o conflito central da trama chama minha atenção, particularmente na forma que a narrativa insinua uma guerra de alta escala entre os grupos (duvido muito que teremos algum tipo de escopo, porém).
Dito isso, a forma como ambos os grupos são apresentados aqui é quase cômica, para não dizer idiota. Do lado da Nova Babilônia, os personagens agem como se estivessem no século 19, com execução pública, citações de leis violentas e uma missão de expedição que até inclui uma espécie de historiador (ai, ai). Entendo – e até gosto – das influências de velho-oeste, principalmente em termos visuais, mas a produção força a barra na caracterização de alguns personagens e na maneira abrupta que tudo acontece, com recrutamentos obrigatórios e uma viagem aparentemente muito mal organizada (tudo soa como uma desculpa esfarrapada para levar Maggie de volta à Manhattan). A falta de urgência nesse bloco é outro agravante, com um ritmo claudicante entre diversas interações inúteis e uma luta com zumbis super desnecessária como prova de fogo. Os diálogos, as cenas e os conceitos por trás da narrativa todos são caricaturais e artificiais demais.
Do lado de Manhattan, as coisas não são lá melhores, com um bando de gangues genéricas que se vestem como motoqueiros encapsulando o corpo do grupo que enfrentará a Nova Babilônia. Eles querem caos e nada além disso, sendo livres, irresponsáveis e coisas clichês do tipo. A presença de Negan na história é descartável, com a motivação sendo o fato de que ele, em tese, é o único que pode reunir e liderar esse bando de criminosos (uma motivação horrivelmente desenvolvida). A partir disso, temos mais interações caricaturais e pouco inspiradas, com o único destaque sendo o carisma de Jeffrey Dean Morgan em seus maneirismos teatrais e retorno à forma sádica para conseguir controlar o grupo de “soldados” que se prepara para a chegada dos xerifes. Temos até o retorno da Lucille!
Em miúdos, o episódio todo é uma preparação para termos xerifes lutando contra motoqueiros por conta de uma fonte de combustível que a grande maioria dos personagens não parece ligar. Seria até um conceito curioso se TWD fosse mesmo numa veia de balbúrdia, mas sabemos que o encaminhamento aqui é outro, com melodramas e uma construção de mundo frágil, reciclando elementos de outras guerras entre comunidades que tivemos ao longo dos anos. Olhando o lado positivo, penso que as interações entre Maggie, Ginny e Hershel são interessantes do ponto de vista dramático, além de que o conflito em si tem potencial de ser divertido se a direção souber explorar a cidade abandonada e o caos em torno disso tudo (não apostaria nisso, porém). Apesar de chato e indiferente, Power Equals Power faz um trabalho eficiente de organizar o tabuleiro, trazendo um conflito relativamente curioso e quem sabe a oportunidade para a produção explorar o gênero do terror (a falta de zumbis segue sendo um problema), mas de maneira geral é um capítulo que “promete” mais uma temporada medíocre dos derivados da franquia.
The Walking Dead: Dead City – 2X01: Power Equals Power (EUA, 04 de maio de 2025)
Desenvolvimento: Eli Jorné
Direção: Michael E. Satrazemis
Roteiro: Eli Jorné
Elenco: Lauren Cohan, Jeffrey Dean Morgan, Gaius Charles, Željko Ivanek, Mahina Napoleon, Logan Kim, Lisa Emery, Dascha Polanco, Keir Gilchrist, Kim Coates, Jake Weary
Duração: 58 min.