- Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas de todos os episódios da série e, aqui, de todo nosso material do universo The Walking Dead.
Com o grupo de Nova Babilônia na ilha, Why Did the Mainlanders Cross the River? começa a desenvolver a guerra entre diferentes facções que deve tomar conta da temporada, onde somos apresentados aos Foragers, uma espécie de seita que vive de maneira naturalista ao redor dos outros grupos de Manhattan. Diferente de Another Shitty Lesson, esse episódio não tem qualquer criatividade em termos do uso de zumbis, como falarei mais à frente, mas é um capítulo que mantém alguns elementos dramáticos razoáveis. Logo de cara, temos um flashback de Hershel com Dama, contextualizando a razão da traição do garoto e insinuando um conflito entre ele e Negan, com ambos tendo um primeiro contato aqui.
A motivação de Hershel soa um pouco forçada nessa ideia dele comprar o projeto de Dama, arriscando a vida de todos à sua volta. Mas de qualquer forma, o conceito de uma nova geração que não conhece o mundo anterior é bem abordada através dos olhos do personagem, enxergando beleza no universo pós-apocalíptico. Boa parte desse episódio é destinada para essa ideia simbólica de novos costumes em torno dessa realidade, com o núcleo dos Foragers servindo para trazer uma qualidade ao mesmo tempo bizarra e estranhamente terna para o pós-morte, inclusive com um funeral que é, sim, grotesco, mas que evoca certos sentimentos ocultos de Hershel e Maggie lidando com luto – a forma como Glenn é sempre referenciado me deixa feliz.
No entanto, essa sequência é o mais próximo de um verdadeiro horror no episódio, porque os blocos com as criaturas são muito ruins. Seja a sequência esquisita de zumbis fazendo uma emboscada com um mato alto, seja a cena de Negan passando por um corredor dos monstros, a direção de Edward Ornelas é fraca e não inspira qualquer sentimento de urgência. O fato de que um bando de figurantes morrem um atrás do outro não ajuda, no mesmo problema recorrente da série em só matar indivíduos desimportantes. A falta de um tato para a coreografia e a construção das cenas é visível, motivo pelo qual voto para que a série assume seu lado mais caótico quase cômico de zumbis-bombas, mesmo que vá contra tudo que a franquia representa…
Para além desse problema com o exercício de gênero (algo que aparentemente TWD nunca vai consertar), o episódio tem um ritmo claudicante. Entendo a premissa de um capítulo menos de ação para organizar a narrativa e estabelecer o conflito que veremos nas próximas semanas, mas o roteiro de Brenna Kouf carece de eficiência e de substância para justificar muitos dos blocos parados da trama dos personagens de Nova Babilônia – atrapalha o fato de nenhum coadjuvante ser interessante. Do lado do Negan, as coisas são um pouco melhores, com a tensão entre o personagem e Croat borbulhando num esquema do personagem de derrubar Dama. Como repeti muitas vezes, nunca comprei a redenção do personagem e sempre vou achar essa abordagem equivocada, mas, já que fizeram, o conflito interno do ex-antagonista é funcional aqui, meio que voltando de maneira forçada às suas raízes.
Why Did the Mainlanders Cross the River? não é de todo ruim, sendo uma ponte entre os eventos cacofônicos da semana passada com o que devemos ver na briga entre diferentes grupos em torno do metano. O drama de Maggie e Hershel também segue funcionando de maneira razoável, da mesma forma que a presença de um Negan gradualmente se tornando seu passado sombrio ajuda a manter a história curiosa, principalmente se ele passar a rasteira em todo mundo. A paciência do roteiro, porém, resvala demais na inércia e na repetição, com uma trama que anda a passos curtos, agravada por uma direção péssima nas cenas de terror e muitos elementos genéricos na construção desse novo enredo que é similar demais à temporada de estreia.
The Walking Dead: Dead City – 2X03: Why Did the Mainlanders Cross the River? (EUA, 18 de maio de 2025)
Desenvolvimento: Eli Jorné
Direção: Edward Ornelas
Roteiro: Brenna Kouf
Elenco: Lauren Cohan, Jeffrey Dean Morgan, Gaius Charles, Željko Ivanek, Mahina Napoleon, Logan Kim, Lisa Emery, Dascha Polanco, Keir Gilchrist, Kim Coates, Jake Weary
Duração: 58 min.