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Crítica | The Walking Dead: World Beyond – 1X01: Brave

por Iann Jeliel
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Brave

  • Há SPOILERS. Leiam aqui as críticas de World Beyond e, aqui, as de todo o universo The Walking Dead.

Toda vez que inicio uma nova obra, procuro saber o mínimo de informações possível, visando a uma isenção de expectativas, já que geralmente elas influenciam de algum modo na impressão geral de algo, especialmente quando direcionadas sobre propostas específicas. Certamente, se soubesse que World Beyond fosse uma série teen no universo de The Walking Dead, por mais que tentasse abstrair essa informação, meu subconsciente trabalharia em negação a essa combinação, criando algum gosto ruim antes mesmo de vê-la em prática. Então, acabei sendo pego desprevenido com essa abordagem e pude averiguá-la dentro do contexto no qual está inserida. Por mais sem noção que pareça, há algum sentido pensando em The Walking Dead como marca, que na sua decrescente de audiência não consegue mais renovar seu público e sustenta o que lhe resta com a eterna promessa de um universo expandido. Brave Brave Brave 

World Beyond, portanto, é uma arriscada aposta para solucionar essas duas dores de cabeça. Você atrai o público fiel que tende a acompanhar pela desculpa de “oferecer respostas” aos ganchos de continuidade deixados pelas séries anteriores – Rick Grimes (Andrew Lincoln), especialmente –, além de expandir essas continuidades a toda amplitude de um novo mundo remetente às adaptações de universos distópicos adolescentes (tais como Divergente, Maze Runner, Jogos Vorazes, dentre outros). Há facções, sociedade pré-estabelecida e regrada por adultos que prometem a cura para o problema que gerou a distopia utilizando os jovens – nesse caso, o pai deles –, fazendo com que eles se motivem a confrontar essas regras para tentarem de algum modo salvar esse universo. Ok, nem todas essas características estão aqui, por enquanto, mas as semelhanças de premissa são evidentes, o que não é necessariamente ruim, como dito, em termos de produto traz uma notabilidade nova à marca, e como qualitativa não deixa de ter potencial para no mínimo oferecer algo diferente do que havia se tornado rotineiro na série mãe e ou mesmo em Fear The Walking Dead.

Contudo, mesmo diante de mais recursos para consolidar o potencial para além do mínimo, o piloto Brave não consegue passar dele sob nenhuma óptica. Visualmente, é nítido o maior capricho da produção em relação às anteriores, o que era necessário, afinal não dá para vender uma série do porte da marca de The Walking Dead com o mesmo orçamento que estavam utilizando para as últimas temporadas. No entanto, esse capricho visual é acompanhado de uma tonalidade constantemente ensolarada e estranha, passando uma sensação novelesca e de conto de fadas em vez de “desértica”, como em Fear. Ao longo do episódio, isso meio que vai se confirmando, uma vez que a proposta tende a usar o tom jovial para desviar as origens grotescas da marca, o que é um problema. Talvez seja proposital, evitar o gore e o grafismo inicialmente para propor uma crescente em choque aos personagens que se aventuram em quarteto numa jornada para além das muralhas em que viviam.

Só os próximos episódios para confirmar, mas a impressão dada é de ser um desvio consciente e geral para outra tonalidade que trai um pouco as origens do programa. Fico dividido disso ser bom ou ruim, porque é bom em certa medida que The Walking Dead se desvincule mesmo dessa dramaticidade gerada somente pelo apelo do choque gráfico, mas é preciso compensar isso de alguma forma, algo que o flashback que esconde o visual da morte da mãe das protagonistas, para estabelecer o trauma que sustenta o drama das duas no episódio, não exatamente compensa. E aí é que está, é um problema além do apelo gráfico, porque a cena em si é só demonstrada no fim de todo um episódio que não consegue articular convincentemente a dramática de seus dois sustentáculos. Não que as personagens sejam chatas por serem jovens, mas elas são chatas porque são desinteressantes, falta química e energia em suas interações, algo que vale para os outros dois secundários, que surgem ali só por surgir, não conquistam presença e formam naturalmente um time por qual iremos torcer para conseguir cumprir a missão.

Até se tenta fazer isso, mas sem sucesso por enquanto. Num cenário ainda neutro de zumbis, soa artificial. E não tem jeito, não há série no mundo que se sustente sem bons personagens, ao menos não temos a sensação de condená-los pela péssima iniciativa de sair em caminhada de quase 2000 quilômetros, sem experiência, no mundo em que já conhecemos bem. Isso é bom porque o mínimo que a série queria consegue ser atingindo: comprar a ideia diferente e enxergar um futuro de possibilidades com esse diferente numa recompensa gradativa de novas informações sobre o walkingverso. Portanto, ainda que falte vigor na identidade da série, a curiosidade para saber seus próximos passos fala mais alto que seu enfraquecido piloto.

The Walking Dead: World Beyond – 1X01: Brave | EUA, 04 de outubro de 2020
Criação: Scott M. Gimple, Matthew Negrete
Direção:
Magnus Martens
Roteiro: Scott M. Gimple, Matthew Negrete
Elenco: Aliyah Royale, Alexa Mansour, Hal Cumpston, Nicolas Cantu, Nico Tortorella, Annet Mahendru, Julia Ormond, Joe Holt, Beth Leavel, Christina Marie Karis, Christina Brucato, Dani Fish, Aislin Freya Pax, Gabriella Garcia, Matt Burke, Pritesh Shah, Samantha Lorraine, Maliyah Monae Kellam
Duração: 50 minutos

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