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Crítica | The Walking Dead: World Beyond – 1X09 e 10: The Deepest Cut e In This Life

por Iann Jeliel
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World Beyond
  • Há SPOILERS. Leiam aqui as críticas de World Beyond e, aqui, as de todo o universo The Walking Dead.

Com o fim da primeira metade da sexta temporada de Fear The Walking Dead, World Beyond decidiu não estender demais o prazo de The Walking Dead no ano, entregando seus dois últimos episódios em uma exibição sequencial, embora não conjunta, já que eles ainda são dois episódios separados. Sendo assim, falaremos de cada um separadamente.

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1X09 – The Deepest Cut

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World Beyond vinha em uma crescente interessante que teve início quando Huck (Annet Mahendru) começou a ganhar sua parcela de protagonismo. A personagem foi basicamente a ponte transicional para a série começar a ganhar ares mais sóbrios, e o gancho de The Sky Is a Graveyard em minha mente só deixava o cenário de conflitos ainda mais interessante, carregando a personagem com uma ambiguidade que poderia render ótimos direcionamentos dramáticos para a season finale. Infelizmente, novamente por problemas de tom, a série não consegue sustentar essa ambiguidade até lá, ou não a explora de maneira adequada a construção dos personagens, incitando um maniqueísmo vigente à história desde o começo que soa bastante conveniente antes do momento decisivo.

The Deepest Cut começa vilanizando a personagem por meio da dúvida, pensando estar valorizando sua ambiguidade, quando na verdade a coloca no limiar da “traidora” novelesca com o vitimismo de ser forçada a fazer aquilo. Esse sentimento é muito vindo da construção bem óbvia do episódio, que organiza seus fatos da forma mais linear e didaticamente bonitinha possível, para que sintamos a tensão de saber que os personagens estão sendo levados para algum tipo de armadilha. E a demora dessa armadilha se concretizar leva a crer que Huck tem um planejamento calculado sobre cada próximo movimento do grupo. Na óptica dos outros personagens, a impressão é de que ela sempre esteve um passo à frente, ou seja, ela tinha esse plano sobre o controle desde muito antes, o que vai fornecendo a dúvida para nós, público, se existe a ambiguidade ali ou se não passa apenas de um teatrinho para um plano maior.

O grande pecado do episódio é não ter focado em Huck também, porque se era para deixar claro seu envolvimento nos conflitos até o momento – como o forjar de Silas (Hal Cumpston) como culpado da morte do mágico (Scott Adsit), ou a própria do episódio em ter cortado a perna de Felix (Nico Tortorella) –, teria que haver uma aproximação à personagem para deixar claro que essas atitudes na sua mente estariam divididas, tal como o flashback dela estabeleceu. Ao invés disso, a série prefere ficar de misteriozinho que infla o capítulo, pois fica bem claro desde a investida consciente da personagem para furar o pneu até o momento que não mostra Felix se cortando no arame, passando para o momento que revela que Percy (Ted Sutherland) levou um tiro, de que Huck foi a responsável geral sobre tudo. Tratar como um grande twist é subestimar a inteligência do espectador.

Até gosto de como o episódio usa os flashbacks para evoluir o dilema de Felix com sua eterna devoção de favores a alguém que o salvou, assim como gosto da resolução interna de Elton (Nicolas Cantu) perante a recém-descoberta da morte da mãe (Christina Brucato), só que essas dramaticidades são a parte da construção geral do episódio que só tinha o intuito de elaborar o panorama para Huck ser a vilã da finale, um processo, como dito, bastante injusto com a construção da personagem até aqui. O auge dessa injustiça vinda de mistérios desnecessários vem na última cena com Hope (Alexa Mansour) decifrando o mapa, mesmo após não ter acreditado na palavra de Íris. Uma ludibriação extremamente manjada, gratuita e desonesta para promover o gancho que seria bem mais carregado se ambos os lados fossem valorizados.

The Walking Dead: World Beyond – 1X09: The Deepest Cut | EUA, 29 de novembro de 2020
Criação: Scott M. Gimple, Matthew Negrete
Direção: Sydney Freeland
Roteiro: Maya Goldsmith, Ben Sokolowski
Elenco: Aliyah Royale, Alexa Mansour, Nicolas Cantu, Nico Tortorella, Annet Mahendru, Julia Ormond, Joe Holt, Jelani Alladin, Ted Sutherland
Duração: 49 minutos

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1X10 – In This Life

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Questionei a falta da construção de ambiguidade do episódio anterior, que direcionava Huck como quase uma vilã para essa season finale, com a ciência de que nela esse discurso seria convertido como “não é bem assim”. Era óbvio que existiria uma oferta motivacional aí que daria base inclusive para a sustentação da trama da temporada inteira. Ou isso ou Huck iria se submeter realmente ao papel de vilã e tentaria manipular Hope para ir ao seu lado, uma vez que a própria era vítima de sua missão e que no caminho tinham construído um vínculo verdadeiro. No fim, acabou sendo um pouco de cada. O que foi bom para o episódio, mas péssimo para um desfecho de uma temporada que poderia ser bem melhor se tivesse uma construção já pautada em unidade com as características de tal desfecho.

Pelo lado positivo, diferente do anterior existe uma tensão ambígua só pelo fato de dar espaço de fala a Huck, que convence só no tom de voz que não se trata de um mero teatro. Dá para perceber o conflito ali na personagem, mas não de um modo óbvio. Há um olhar determinado a cumprir a missão, mas um coração que tentou realizá-la de um modo que não prejudicasse os companheiros. Uma pena que isso não é levado para a próxima camada, deixando alguns furos como o fato de ela ter largado Iris (Aliyah Royale) e Felix no lugar onde sabia que havia os recursos da CRM, aquela salinha que ela tenta desviar Iris e é justamente o motivo que fez o confronto que ela tanto queria evitar, inevitável. Quando acontece é bacana, a luta de Iris e Felix junto à perseguição da CRM para o grupo de Elton passa grandiosidade, mas está dentro de uma construção que não faz tanto sentido, principalmente levando em conta o aspecto de controle que Huck tinha sobre a situação desde o início, algo confirmado no capítulo.

E aí entra o lado negativo, em que as motivações que fizeram a jornada acontecer e todos esses desdobramentos poderiam ser facilmente evitáveis ou reduzidos com simples mudanças de percurso ou pelo diálogo, que de uma forma ou de outra aconteceu porque não tinha jeito no momento, mas que teve jeito em outras oportunidades. É a gradativa do “misteriozinho” que deveria estar lá só para chamar a atenção inicial, fisgar o público, e não ser um sustentáculo dramático, porque precisa de substância para isso. Se conhecêssemos a lógica por trás do universo da CRM, essas conveniências poderiam ser tratadas de um outro modo, mas fica a impressão de enrolação e inflação de informações em um curto período de tempo. Mesmo que algumas justificativas, como se livrar de Percy e seu pai, sejam plausíveis, porque foram intempéries ali que precisavam de soluções práticas e acabaram criando mais conflitos, logo, valorizando o próprio.

Mas não funciona para todos, como o de Silas que é jogado pelo ralo no momento em que aceita sua redenção e se sacrifica novamente, entregando-se a CRM só para dar mais trabalho ou dizer que a separação do quarteto não foi em vão para diferentes explorações da narrativa. “É sobre o futuro…”, como dizem várias vezes os personagens ao longo do episódio. Realmente, a série em si parece pensar tanto nele que se esquece de traçar uma linha coerente com seus movimentos presentes, resolvendo e abrindo tantas portas que esquece de fechar as anteriores por completo. Para que fazer mistério com o fato de o pai delas (Joe Holt) estar bem ou não com aquela doutora (Natalie Gold)? Por que não deixar essas cenas para quando isso fosse realmente importante?

Essas entregas de respostas em cima da hora, junto de ganchos para um futuro na prática um tanto distante, vão inflando o episódio a ponto de passar a sensação de dependência de fatos que ainda vão acontecer, e não de fatos que já aconteceram e precisavam ser valorizados em desfecho. Ainda é um episódio autossustentável pelo suspense próprio, mas que definitivamente não sustenta a importância dramática da criação desse spin-off.

The Walking Dead: World Beyond – 1X10: In This Life | EUA, 29 de novembro de 2020
Criação: Scott M. Gimple, Matthew Negrete
Direção: Magnus Martens
Roteiro: Matthew Negrete, Maya Goldsmith, Ben Sokolowski
Elenco: Aliyah Royale, Alexa Mansour, Hal Cumpston, Nicolas Cantu, Nico Tortorella, Annet Mahendru, Julia Ormond, Joe Holt, Jelani Alladin, Ted Sutherland, Natalie Gold, Christina Marie Karis, Samantha Lorraine, Maliyah Monae Kellam, Jeris Donovan
Duração: 51 minutos

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