Home ColunasCrítica | The Wind in the Willows – 1X01: The Further Adventures of Toad

Crítica | The Wind in the Willows – 1X01: The Further Adventures of Toad

Uma noite com amigos e um sapo muito exagerado.

por Luiz Santiago
388 views

Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 4
Número de episódios: 52
Período de exibição: 27 de abril de 1984 a 23 de março de 1988
Há continuação ou reboot?: Sim. A série é seguida por Oh! Mr Toad! (1989 – 1990) e segue-se ao telefilme The Wind in the Willows (1983).

XXXXXXXXX

Assistir a The Further Adventures of Toad, estreia da ótima série britânica The Wind in the Willows (O Vento nos Salgueiros, obra de Kenneth Grahame), é ser atingido por uma sensação de paz e estranha alegria. Nada é feito às pressas, e nem por isso o tempo é desperdiçado. O campo inglês, em miniatura e feito à mão, mostra em seu próprio ritmo, e as figuras antropomórficas — um sapo vaidoso, uma toupeira gentil e um texugo resoluto — mostram uma relação bem mais madura do que a história aparenta, à primeira vista. Sem precisar didatismo ou discurso chato de repreensão, o episódio abraça a infantilidade calculada dos personagens, sem jamais ser infantil. Cada detalhe, dos cenários aos gestos, é pensado com grande cuidado, e isso reflete na maneira como nos conectamos e entendemos essas figuras.

O Sapo (David Jason, numa dublagem magistral, assim como todo o restante do elenco), com seu narcisismo e gosto pela farsa, é o fio condutor de relatos tão fantasiosos quanto o próprio narrador. A história, centrada na sua versão dos fatos sobre uma fuga da prisão e aventuras posteriores, não perde tempo tentando convencer ninguém de sua veracidade — e a escolha por uma narração não confiável permite que o humor se instale logo nas primeiras cenas. Texugo (Michael Hordern) e Toupeira (Richard Pearson), ouvintes involuntários do grande recital egocêntrico, agem com uma paciência impressionante. O programa da noite, com danças, cantorias e falação sem parar, deixa claro que qualquer debate será vencido pela insistência de quem fala mais alto (e este será O Sapo, claro). Mesmo assim, o roteiro encontra espaço para sensibilidade e profundidade nas relações, onde conselhos e preocupações reais (como perder os únicos amigos que tem) entram em cena, mostrando uma abordagem madura que evita que o episódio soe como “lição de casa emocional”.

É evidente, desde os primeiros segundos, que não se está diante de uma produção convencional. A Cosgrove Hall Films, estúdio britânico celebrado por sua qualidade artesanal, produziu a série usando a técnica de animação em stop motion com marionetes esculpidas em plasticina. Cada personagem possui um esqueleto metálico interno que permite movimentos calculados milimetricamente. Os cenários, pintados manualmente com materiais simples como musgo, papelão e tecido, trazem uma estética de delicadeza quase extinta. A textura não vem do realismo gráfico, vem da maravilhosa construção manual, da escolha por mostrar o campo inglês como lembrança e não como registro fotográfico. O resultado é um universo íntimo e visualmente deslumbrante.

A construção dramática não depende de grandes reviravoltas nem de trilhas histriônicas. A música tema, composta por Keith Hopwood e Malcolm Rowe e interpretada por Ralph McTell, funciona como extensão do ambiente, com violões e flautas criando um clima quase terapêutico. Embora o episódio se apoie na figura do Sapo, é nas reações dos seus amigos que o texto revela maturidade. Toupeira observa as narrativas com leve espanto e Texugo contrapõe os crimes do colega com firmeza. Juntos, eles tentam oferecer ao Sapo uma saída honrada. O texto não precisa transformar esses momentos em arcos exageradamente dramáticos. Basta o gesto, a tentativa, o tempo que se dedica à conversa. E essa contenção é um dos trunfos da proposta estrutural do episódio. Ao construir sua história com base em nuances, o texto confia na inteligência do espectador e não investe tempo em fórmulas previsíveis.

Parte do encanto de The Further Adventures of Toad está em assumir riscos narrativos que muitas animações, mesmo décadas depois, evitam. O episódio é contemplativo, lento, cheio de digressões aparentemente bobas, mas são nesses desvios que se constrói um pano de fundo afetivo e forte para o trio protagonista. Ao invés de escancarar valores sociais e familiares, o episódio mostra personagens em conflito consigo mesmos, em ambientes que não competem por grandiosidade, em situações de conflito de consciência e atitudes que preferem o absurdo à obviedade, e com isso ensinam… vejam só, valores sociais e familiares. A produção valoriza o tempo da fala, a textura da imagem e o detalhe da modelagem, sem cair na armadilha da pressa comum nas estreias. Existe aqui uma segurança rara, uma confiança tão tranquila naquilo que está sendo contado, que o episódio não se preocupa em vender suas lições de maneira chamativa. Ele sabe o que está apresentando e permite que a mensagem seja transmitida pela própria arte. Que falta faz esse tipo de construção, não?

The Wind in the Willows – 1X01: The Further Adventures of Toad (Reino Unido, 1984)
Direção: Jackie Cockle
Roteiro: Rosemary Anne Sisson (baseado na obra de Kenneth Grahame)
Elenco: Richard Pearson, Peter Sallis, Michael Hordern, David Jason, Ian Carmichael, Una Stubbs, Beryl Reid, Edward Kelsey, Jonathan Cecil, Brian Trueman, Daphne Oxenford
Duração: 20 min.

Você Também pode curtir

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Presumimos que esteja de acordo com a prática, mas você poderá eleger não permitir esse uso. Aceito Leia Mais