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Crítica | Three Rivers – A Série Completa

por Leonardo Campos
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Quando lançada em 2010, a série Three Rivers surgiu como uma opção da CBS para a substituição de Plantão Médico, drama médico duradouro que havia chegado ao seu necessário desfecho após 15 temporadas. Carol Barbee, criadora do novo programa, alegou que um dos diferenciais da nova série era o afastamento da estrutura novelesca de Grey’s Anatomy, dando ao público um material mais consistente para consumo. As intenções foram grandiosas, mas infelizmente a série não durou mais que uma temporada, haja vista a baixa recepção do público diante do esperado. O resultado foi o cancelamento, com tramas não amarradas e desfecho com a sensação de “precisamos de um telefilme”, o que não ocorreu, situação que por sua vez, não impede que a série funcione dentro de seu feixe de 13 episódios com a habitual estrutura de 40 minutos de duração, exibidos entre 2009 e 2010. Barbee, a showrunner da série, escreveu 10 episódios, acompanhada de uma sala de roteiristas menos badalada que o habitual, isto é, com poucos dramaturgos envolvidos no processo de composição dos episódios da temporada.

Não fosse a recepção morna, teria durado mais algum tempo. A crítica não avaliou muito bem na ocasião e observada uma década depois de seu fim, podemos concluir que ao menos nos episódios iniciais, faltou identidade para Three Rivers. Aliás, já em seu episódio piloto, o que encontramos é uma estrutura que se enraíza por conflitos dramáticos diferentes dos grandes sucessos da época, mas ainda assim, não garante magnetismo do público, tendo em vista que a dinâmica é a mesma. Dramas pessoais se misturam com as mais diversas situações médicas, a maioria no formato procedural, resolvida dentro de uma unidade da temporada, poucas vezes se deslocando para outros momentos. A evolução dos personagens principais atravessa, sim, toda a série, mas os casos médicos ficam geralmente para resolução, satisfatória ou não, dentro do episódio em que é apresentado. E não são poucas as situações, afinal, conflito é a essência básica do drama e para isso, o time de produtores de Three Rivers preenche os seus episódios com situações altamente delicadas, intensas e conflitantes.

Neste hospital conhecido por seu diferencial na infraestrutura, uma grávida que está prestes a perder o seu feto e a sua própria vida depende das complicações de uma doadora para sobreviver diante de sua situação complexa. Noutro momento, uma estudante universitária precisa de um transplante duplo de pulmões para garantir a sua continuidade neste plano, situação seguida do protagonista que precisa convencer a sua equipe e os gestores a deixa-lo colocar um ex-paciente viciado em drogas na lista de espera por um novo coração. Há também um acidente de ônibus que ceifa a vida de um jovem estudante e jogador de futebol, algo que deixa os seus pais abalados e incapazes de decidir se autorizarão ou não a doação de órgãos para pacientes que esperam urgentemente uma cirurgia. Ao longo dos episódios, ainda temos a esposa de um bilionário que decide comprar um fígado para o seu transplante no “mercado informal” e a famosa cadeia de doação que envolve um grupo relativamente grande de doadores.

Entre aneurismas, derrames, convulsões e outros acontecimentos desastrosos, temos um esmagamento de uma criança, uma vítima de acidente de carro que deseja desligar as máquinas para que sua morte possa salvar outras vidas,  além de uma coreana que perde a visão após a queda de um avião e depende do transplante de córneas para voltar a enxergar. Num determinado episódio, o ex-companheiro de uma noiva tira a vida da jovem no altar da igreja, tentativa do time de escritores de ampliar o gradiente dos dramas humanos apresentados pela série. Diante do exposto, a dinâmica dramática de cada um dos episódios é dividida entre o paciente que aguarda o órgão, o doador, vivo ou já falecido, representado por sua família ou tutor, e a equipe médica, pressionada diante dos prazos de um segmento que não abre espaço para perda de tempo. Trajados pelos figurinos da equipe de Rachel Sage Kunin, quase sempre abordados com peças em diálogo com as suas respectivas dimensões sociais, os personagens da série circulam entre os espaços do hospital ou corredores de outras unidades doadoras.

Situado em Pittsburgh, na Pensilvânia, o ficcional Three Rivers Hospital é um ponto importante no campo dos transplantes estadunidenses e tem a sua equipe gerenciada pela Dra. Sofia Jordan (Alfre Woodard), uma senhora que possui laços mais que profissionais no local. O protagonista da ação é o Dr. Andy Yablonski (Alex O’Loughlin). É ele que tem um passado complicado, um relacionamento não resolvido adequadamente com a Dra. Lia Reed (Amber Clayton). Ele divide a cena com o residente em oftalmologia, Dr. David Lee (Daniel Henney) e Dra. Miranda Foster (Katherine Moennig), ele ainda tateando o campo da cirurgia e ela tentando driblar o legado referencial de seu pai, o Dr. William Foster, um dos fundadores do hospital que no passado teve um romance com a Dra. Sofia Jordan, conflito que é explorado, mas não ganha continuidade face ao encerramento da série. Pam Acosta é a enfermeira que mais se destaca, noutro papel coadjuvante da excelente Justina Machado, na mesma função na temporada final de Private Practice, outro drama médico finalizado em 2013. Destaque ainda para Ryan Abbott (Christopher Hanke), aqui, numa função administrativa, responsável pelo agendamento dos transplantes.

Na seara estética, Three Rivers trilha o espectador por uma jornada visual sem deixar de lado os cuidados necessários para nos manter no processo imersivo. O hospital de grandes proporções é um espaço convincente, erguido pelo design de produção de Philip Toolin, competente ao criar uma dinâmica visual que mescla bem tecnologia, laboratórios, recepções e outros ambientes tomados pelos tons que vão do azul ao verde, a paleta basilar dos dramas médicos. Frank Byers, na direção de fotografia, acompanha a agitação dos personagens por meio de planos que buscam captar ao máximo a tensão dos cirurgiões e pacientes em situações sempre delicadas. O setor capricha também na iluminação, sempre preocupada em delinear esses momentos e as figuras ficcionais que os protagonizam. A direção musical de Richard Marvin evita o dramalhão e trabalha bem os momentos de maior estresse, preocupação de um setor envolvido numa série que nalguns trechos parece um filme de ação com conflitos desgovernados.

Ademais, Tim Jarvis assina a maquiagem e os efeitos especiais, importantes para acreditarmos que as vísceras, corações e demais órgãos internos do ser humano estão sendo realmente manipulados neste espetáculo de representação, cancelado, como já mencionado, depois de sua primeira temporada. Os médicos aqui são abordados dentro de sua zona de trabalho, circundantes dentro de um hospital que não para nunca. O sentimentalismo das relações confusas, os desejos sexuais e outras dispersões ganham algum espaço, mas não tomam muito o foco da produção, mais focada no cotidiano frenético de profissionais que tal como os demais personagens dos dramas médicos, estão aptos e sempre esperançosos ao salvar vidas alheias, não exclusivamente porque é belo ou é certo, mas porque tal ação é a comprovação certificada de suas respectivas competências no exercício de uma função que requer garra e firmeza para suportar tanta tensão e estresse. Se você decidir pensar em Three Rivers como uma minissérie fechada em seus 13 episódios, talvez não sinta tanto o corte de laços brusco em seu desfecho.

Three Rivers (Idem, Estados Unidos/2009-2010)
Criação: Carol Barbee
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Alex O’Loughlin, Katherine Moenning, Daniel Henney, Christopher J. Hanke, Justina Machado, Amber Clayton, Alfree Woodard, Devika Parikh
Duração: 60 min. (Cada episódio – 13 episódios no total)

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