Home TVEpisódio Crítica | Time Jam: Valérian & Laureline – Episódios 1 a 10

Crítica | Time Jam: Valérian & Laureline – Episódios 1 a 10

por Luiz Santiago
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A ideia de uma série de TV que adaptasse os quadrinhos da dupla de agentes espaço-temporais Valérian e Laureline começou a ser cogitada por Jean-Claude Mézières e Pierre Christin em 1976. Um inicial conceito, intitulado Os Asteroides de Shimballil, foi produzido em 1982, com o intuito de ser o piloto da série, mas quando o projeto enfim entrou em produção, décadas depois, a ideia central e os responsáveis pela adaptação eram outros. Os desenhos e descrições, antes deixados de lado pelos autores, foram posteriormente impressos como adendo a um álbum especial de Os Maus Sonhos, lançado em 2000.

Foi apenas em 2007, depois de duas outras tentativas de levar Valérian & Laureline para a televisão, em 1991 e 2001, que a união entre as produtoras Satelight (Japão), Dargaud (de quadrinhos) e EuropaCorp (sob comando de Luc Besson) fez a empreitada sair do papel. Já no primeiro episódio, Contretemps / Time Matters temos a formalização do código dos agentes temporais e a primeira viagem de treinamento de Valérian, que sai de Galaxity, em 2417 com destino à Normandia, França, 912, onde uma Laureline já muito bem treinada e cheia de dotes físicos junta-se a Valérian, a despeito de toda a contrariedade do agente temporal, que não poderia intervir em absolutamente nada naquela realidade.

As diferenças desta história de apresentação para o que temos nos quadrinhos, tanto em Os Maus Sonhos (1967) quanto na dupla A Cidade das Águas Movediças (1968) e Terras em Chamas (1969), estão tanto nas datas quanto na aplicação das regras de viagens no tempo. Nas HQs, a alteração não é algo bem vindo, mas não parece um elemento tão neurótico e ter uma organização tão burocrática em Galaxity para lidar com isso. Tampouco os quadrinhos lidam com o desaparecimento da Terra “só porque Valérian salvou Laureline na Idade Média“, fator que faz com que os dois terráqueos, agora sem lar, procurem Central Point, no centro da Galáxia, onde talvez tenham pistas para o que aconteceu com o terceiro planeta do Sistema Solar.

As resoluções para qualquer adequação dos personagens é resolvida rapidamente e isso é admirável, porque estamos falando de episódios com no máximo 26 minutos. No início, Laureline acha que Valérian é feiticeiro mas isso é rapidamente resolvido, embora de maneira não tão interessante quanto nos quadrinhos. Após ficar resolvido que viajariam juntos na nave Tempus Fugit, o primeiro caso que eles resolvem, depois de chegarem em Central Point e serem perseguidos, é o salvamento de Baral, representante da Confederação de Aldebaran, aqui perseguido por Vlagos (vilão que será constante na série, agindo nos bastidores, sempre buscando vantagens em alguma coisa que o permita dominar a Galáxia).

O tom de space-opera é estabelecido e o espectador entende que a série terá dois grandes objetivos centrais, primeiro, a tentativa da dupla de ganhar dinheiro e sobreviver em Central Point até que consigam alcançar o seu segundo objetivo, que é encontrar o planeta Terra. Como esse afastamento de Valérian de Galaxity permite que ele e Laureline tenham aventuras juntos como caçadores de recompensas e prestadores de serviços difíceis através da Galáxia, a procura pela Terra é colocada em segundo plano e as viagens dos agentes ganham destaque.

Ao longo desses 10 episódios, além das tramas já apresentadas, a dupla passa pelo planeta desértico de Fulbok; encaram uma missão de disfarce em Bethel; são empregados pelos Shingouz para caçar uma relíquia; enfrentam problemas e criam um vínculo muito bonito com um androide portador de livre-arbítrio apelidado de Roger; procuram uma nave desaparecida há 153 anos em Derdekken; recebem uma missão do rei Gorod IV para que seu filho, Príncipe Koren de Antares seja encontrado (e essa história é incrível, apresentando-nos uma espécie que na adolescência muda de gênero diversas vezes até atingir um gênero fixo, chegando oficialmente à vida adulta); salvam um belíssimo quadrúpede Goumoun em extinção e têm 24h para entregar ovos de Drazel pela Rota 188, tempo que não podem desperdiçar de jeito nenhum, pois podem enlouquecer se os ovos chocarem na nave.

A partir do episódio 5, as histórias passam a ter um melhor encadeamento, algo que não havia antes. Os cliffhangers ainda não são os melhores, mas cada história passa a ter uma boa noção de continuidade interna, mostrando personagens, cenários e alianças feitas anteriormente. Na maior parte do tempo, os diálogos entre Valérian e Laureline estão relacionados às missões que cumprem juntos e não algo entre eles mesmos. Quando isso acontece, um deles não perde a oportunidade de provocar o outro, gerando boas risadas, embora certas declarações de Valérian em relação à sua companheira sejam desnecessárias, marcadas por um tom machista e injusto, posto que Laureline mostrou diversas vezes seu valor, salvou o dia uma porção de vezes e tem um nível de observação da realidade que complementa o de Valérian, já que eles são de épocas diferentes e vêem o mundo de diferentes maneiras, usando isso para ultrapassar os obstáculos que encontram pelo caminho.

A mistura de técnicas 2D e animação em CGI pode parecer estranho à primeira vista, mas rapidamente nos acostumamos com o padrão e passamos a admirar a imaginação dos cenários, muito bem adaptados dos quadrinhos. Os desenhos, a exploração de planetas, a presença de animais e diversos outros personagens saem com todo vigor das páginas de Jean-Claude Mézières e Pierre Christin,  nos dando belas e incríveis imagens desse Universo rico que é o da série Valérian & Laureline.

Estes dez primeiros capítulos do show, exibidos entre 20 de outubro de 17 de novembro de 2007, não fazem feio em relação ao material original. As mudanças necessárias para a adaptação encontraram seu próprio caminho, mas mantiveram a grande imaginação das páginas das HQs. Uma ótima pedida para quem gosta de bons desenhos de ficção científica.

Time Jam: Valérian & Laureline – França, Japão, 2007 — 2008
Criadores: Stéphanie Joalland, Marc Journeux
Direção: Philippe Vidal
Roteiros: Peter Berts, Jean Helpert, Stéphanie Joalland, Marc Journeux (baseado na obra de Jean-Claude Mézières e Pierre Christin)
Elenco (vozes): Gwendal Anglade, Mélodie Orru, Sophie Deschaumes, Emmanuel Rausenberger, Pierre Tessier, Bruno Carna-Constantin, Gilbert Lévy, Laurence Dourlens, Véronique Soufflet, Eric Missoffe, Caroline Combes, Kate Lock, Alison Dowling, Wayne Forester, Nigel Greaves
Duração: 24 a 26 min. (cada episódio)

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