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Crítica | Titãs – 1X01: Titans

por Gabriel Carvalho
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Contém spoilers.

Ninguém esperava muita coisa de Titãs. O resultado, porém, está longe da tragédia anunciada. Nada mais jovem que a série que encontramos em seu episódio de entrada, uma reunião entre adolescentes e jovens adultos que, aparentemente, encontrará vigor na relação entre os personagens, como aconteceu em tantas encarnações do super-grupo, culminando em uma animação baseada, realmente, apenas nisso, com doses de humor descerebrado. Por esse primeiro episódio, se auto-intitulando o nome da série, o enfoque atribuído à narrativa acaba deslocando um pouco o relacionamento do espectador com aqueles que deveriam ser o coração da obra: os Titãs. A juventude daqui é rebelde; agride policiais, tortura criminosos e foge de casa após ver sua mãe sendo assassinada; rouba lojas, come besteiras altamente calóricas e corre pelado pelas matas; veste roupas extravagantes, incendeia prédios e esquece como foi parar em um carro à beira da estrada. Juventude. F***-se o Batman.

Até o presente momento, Titãs mostra-se, narrativamente, centrada em Rachel Roth (Teagan Croft), futuramente conhecida como Ravena, jovem garota descobrindo as suas facetas demoníacas, o seu outro eu nunca antes explorado. A juventude sempre vai flertar com os próprios demônios dos indivíduos que apossa, nessa passagem da infância para a adolescência. Sua mãe não comprou comida? Os plebeus têm que reclamar. Em decorrência do fato da atriz interpretando a personagem possuir apenas 14 anos, há de se questionar o fato da idade de todos os outros personagens serem extremamente superiores à dela. Os intérpretes de Robin (Brenton Thwaites) e Estelar (Anna Diop), por exemplo, possuem mais do que o dobro que Teagan, enquanto o de Mutano é quase dez anos mais velho – o que, provavelmente, impedirá um relacionamento amoroso em termos breves. A série vai ter que contornar essa problemática, porque afeta as interações dentro do grupo, extraindo uma certa credibilidade.

O que as pessoas, contudo, estavam esperando em relação a Titãs, na realidade? As reclamações foram, basicamente, centradas no diálogo estético da série com os quadrinhos. A composição visual da série, nesse caso, é interessante, em uma mistura entre o lúdico e o realista. O visual da Estelar, a começar pela polêmica, funciona. A intenção é ser deslocada – uma alienígena em outro planeta, buscando se encontrar. Já o cabelo da Ravena é, de fato, bastante artificial. Não tenho nada a acrescentar em relação ao cabelo de Grayson por razões óbvias, por ser um cabelo da modernidade jovem e rebelde, por isso, em linhas gerais, o trabalho de cabelo é decente. Agora, o figurino é outra história. Estelar, com uma caracterização tanto criticada, mas competente dentro do caráter da série, vibrante, é colocada em uma posição estratégica, de deslocamento em relação ao mundo terrestre. Robin, um guerreiro, com uma armadura colorida, mas cores apagadas. Já Ravena está normal – apenas cores góticas, porque ela é uma menina gótica.

Saindo do âmbito estético, em um único episódio, Titãs desenvolve um universo com mais potencial para o futuro, sem ter que sair de dentro do seu escopo particular, que alguns outros vistos pelas redondezas da DC Comics. O Coringa, por exemplo, é citado diretamente, sem medo de referenciar. O piloto, entretanto, é um episódio de contexto, sem sair muito do foco com que se compromete, em uma linearidade que cansa e, no final das contas, acaba dando margem a uma compensação conclusiva. O Mutano, no caso, é apresentado rapidamente, em uma cena com mais caráter trivial do que as demais, muito certinhas dentro desse contar de histórias simplificado, mas sem pulsação suficiente para ser, factualmente, o contar de histórias que precisamos. A irmandade entre Dick Grayson e Rachel Roth, ao menos, parece ser uma temática promissora – o encontro com uma família. Os Titãs, enfim, serão basicamente uma oportunidade para cada uma daquelas pessoas se encontrarem consigo mesmas.

Robin, protagonista da série, também recebe atenção, mas ao alcance do que a personagem de Teagan necessita, em uma composição de flashbacks e presente. O mentor, o pai, fica para o passado, nesse distanciamento do Cavaleiro das Trevas que, todavia, também o distancia de uma verdadeira felicidade. A missão é o objetivo e agora ela é cuidar de uma menina possuída. Santo objetivo, Menino Prodígio. Ao não saírem de dentro do que entenderam como essencial, para estabelecer muito sobre Rachel logo em um capítulo, os roteiristas, portanto, não possibilitam, com o texto, um envolvimento de simpatia entre o público e os atores, mesmo com pontuais diálogos muito bons – Batman e Robin tem uma relação mais profunda aqui, em menos de uma hora, do que em Batman & Robin. O mistério envolvendo Estelar, figura ainda misteriosa, intriga, e o sentimento é de futuro extremamente promissor. Com boas cenas de lutas, bom sangue cenográfico, bons xingamentos e boas retomadas do passado, ansiamos pela próxima semana.

Titãs – 01X01: Titans – EUA, 4 de outubro de 2018
Criação: Akiva Goldsman, Geoff Johns, Greg Berlanti
Direção: Brad Anderson
Roteiro: Akiva Goldsman, Geoff Johns, Greg Berlanti
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop, Teagan Croft, Ryan Potter, Lindsey Gort
Duração: 45 min.

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