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Crítica | Titãs – 2X11: E.L._.O.

por Gabriel Carvalho
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“Deixa eu ver se entendi isso direito. Bruce Wayne de alguma forma milagrosamente organizou para que todas nós nos encontrássemos nessa lanchonete no meio de lugar algum para fazer um mansplaining para que nós uníssemos os Titãs novamente?”

Contém spoilers.

Não que essa segunda temporada esteja boa, mas esse seu décimo-primeiro episódio, ainda que problemático em vários aspectos – a serem pontuados no decorrer da crítica em questão -, possui uma espirituosidade que a série estava devendo há um tempo. Há, no geral, uma esquisitice que certamente contribui tanto para movimentar a história quanto para sustentar um ritmo energético. Por pontuar variadas insinuações, às vezes óbvias demais, o roteiro do episódio aponta o caminho para uma de suas reviravoltas: Jericó não está morto, como antes pensávamos – para ser sincero, ninguém pensava isso realmente. Embora grande parte dos questionamentos que surgem em meio ao capítulo soarem não terem respostas, a verdade é que elas podem morar nos super-poderes do garoto, morto acidentalmente. Como esse personagem X escapa da sua cela? Como estes outros quatro coincidentemente param no mesmo lugar? Foi o Batman mesmo? Continua sendo confuso demais tudo o que acontece, especialmente a epifania de Dick Grayson (Brenton Thwaites) na prisão, que nunca mostra uma precisão necessária para confirmar as suas deduções sobre Jericó. Por um ponto de vista negativo, o roteiro permanece abraçando as saídas mais simplistas para chegar aonde quer chegar. Porém, por outro, enfim se é dado espaço para a trama brincar um pouco com suas possibilidades, sem precisar se ater a uma burocracia chata de ponto A a ponto B.

Logo, que tal um pouco de aventura, sem reais pretensões de se chegar a algum objetivo? Nesse episódio, o que temos, consequentemente, é basicamente quatro mulheres se unindo por ocasião do “destino” em uma lanchonete aleatória, que quer as quatro ao mesmo tempo no mesmo lugar. No caso de Donna (Conor Leslie), uma ligação supostamente de Rachel (Teagan Croft) avisa-a de sua localização. Já a adolescente, que encontrava-se escondida dos demais, se encaminha de ônibus para lá em decorrência dos seus pesadelos, que retornaram. Dawn (Minka Kelly), por sua vez, precisa reabastecer o seu carro exatamente no mesmo lugar que elas, enquanto Kory (Anna Diop) quer puramente comer donuts, que o capitalismo a vendeu por meio de um comercial intruso. Nisso, o protagonismo feminino é interessante, e até rende lugar para um duo de Rachel com a alienígena no clímax, quando ambas vão resgatar Dick da prisão. Mais interessante que isso, entretanto, são as excentricidades que percorrem o caminho das personagens, como o senhor da propaganda que avisa que seu restaurante tem os melhores donuts na região, o que prova ser uma mentira, pois nem se vendia esse alimento lá. Ao mesmo tempo, Dick continua a ter alucinações com seu mentor, que vão se tornando mais e mais realistas e esquisitas. Legal a série conseguir tornar crível o intérprete do Batman em ação mesmo “velho” – sua coreografia é um ponto positivo.

De pistas misteriosas, o episódio está recheado, mas seu auge é o momento de reencontro entre as quatro personagens no Elko Diner. No caso, a aparição de Bruce Wayne (Ian Glein) só pode ter sido consequência de uma possessão, ao meu ver. Ele surge, conversa o que tem para conversar e depois some. É estranho, certamente, contudo, não deixa de ser um tanto interessante esse aproveitamento especial do personagem. Não seria a série que tanto aprendemos a criticar, porém, caso núcleos desnecessários não interrompessem a boa progressão do episódio. Jason (Curran Walters) e Rose (Chelsea Zang) estão vivendo um romance em algum lugar perto de Gotham, mas sua narrativa nada tem a ver com o restante do capítulo – nem as retomadas pontuais ao núcleo do Laboratório Cadmus. Pelo menos, no entanto, os personagens demonstram química juntos, especialmente Jason, que, num momento doce, recita uma música para a sua namorada. O problema é que, em meio a um episódio de reviravolta, soa pouco oportuna aquela que pontua Rose como uma espiã do Exterminador, pois acontece no momento mais anti-climático possível. Em resposta ao retorno esperado de Jericó, o que se abre consegue inclusive consertar equívocos do passado, como a conversa besta – e encenada pessimamente – entre o cruel Exterminador e o antigo Robin. Será, pois, que aquele Wilson era, na verdade, Jericó possuindo o corpo de seu pai?

Poucas respostas são exatas, mas por isso o clima é tão gostoso. Claro que Bruce Wayne pode ser simplesmente Bruce Wayne – o que seria muito ruim -, no entanto, a reviravolta corrobora também para a outra hipótese. Apenas depois que veremos aonde que a temporada quer chegar verdadeiramente. Mesmo assim, por que diabos existiu aquela trama de Rachel com as garotas “perdidas”, se esse episódio rapidamente abandona tal núcleo para tratar do interesse da garota em resgatar Dick? Existe uma enorme contradição no que a temporada quer explorar acerca da personagem, que parte, anteriormente, de uma conversa com o seu eu demoníaco – no caso, a possessão da gárgula e o assassinato de uma pessoa – para um retorno a sua relação com Dick, completamente avulsa ao mostrado no capítulo passado. É o seguinte: a série não consegue tratar do seu enredo maior ao mesmo tempo que trabalha os núcleos dos seus personagens. Para ser sucinto de uma vez por todas, Rachel é simplesmente mal-escrita, e esse episódio não foge muito disso. Nem para a garota, nem para os demais. Na altura do campeonato, ademais, o núcleo de Kory já está estragado e não tem mais conserto, com a personagem verborragizando enquanto alcoolizado sobre os seus problemas para um garoto de programa qualquer – que é simpático, ao menos. Fora isso, Dawn é uma decente surpresa do roteiro, enquanto Donna nada tem a contribuir.

Por quarenta minutos, a temporada opta por aproveitar oportunidades, ao invés de querer chegar, abruptamente, a algum lugar. Por quarenta minutos, a série não quer muito mais do que aproveitar a sua jornada, o que margeia espaço para criatividade – como é o susto com “O Enforcado”. Por fim, que momento enervante aquele em que o cérebro de Gar (Ryan Potter) está exposto e sendo manuseado pelos cientistas! É bem curioso que, mesmo sendo a parte menos interessante acerca do núcleo de Conner, os Laboratórios Cadmus rapidamente se tornaram uma promessa boa de antagonismo. Parece que, quando quer, a série consegue entregar virtudes, que engrandecem a sua própria mitologia. Como seria interessante, portanto, uma temporada inteira pautada nesse envolvimento secreto e enigmático de Jericó com os personagens. Isso ocasionaria algo mais esquisito e mais centralizado também, pois daria para se explorar vários núcleos em paralelo, porque o garoto seria o cerne de tudo, quiçá sendo a grande resposta para os empecilhos vividos pelos personagens, uma ajuda celestial no meio de vários problemas. No geral, portanto, a série consegue um resultado positivo nesse seu episódio, não necessariamente por uma precisão na execução dramatúrgica, mas pela estranheza que ocasiona e que não poderia ser mais do que bem-vinda. Em meio a tantas perguntas presentes, que Jericó seja tal resposta universal para elas.

Titãs – 02X11: E.L._.O. – EUA, 15 de novembro de 2019
Criação: Akiva Goldsman, Geoff Johns, Greg Berlanti
Direção: Millicent Shelton
Roteiro: Bianca Sams
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop, Teagan Croft, Ryan Potter, Minka Kelly, Conor Leslie, Curran Walters, Chelsea Zang, Ian Glein, Natalie Gumede
Duração: 45 min.

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