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Crítica | Titãs – 3X01 a 03: Barbara Gordon, Red Hood e Hank & Dove

por Ritter Fan
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  • spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Titãs finalmente retorna às telinhas, depois de um hiato prolongado pela pandemia, com os três primeiros episódios da 3ª temporada sendo exibidos no mesmo dia. Como costumo fazer em casos assim, escrevi três críticas separadas, cada uma como se os episódios tivessem sido lançadas semanalmente, ou seja, não assisti todos de uma vez para escrever de forma a evitar a “contaminação” de um pelo outro.

Mas, antes, considerando que essa é a primeira vez aqui no site que escrevo sobre a série, deixem-me abordar o que tenho achado dela até aqui, já que minha relação com mais essa empreitada super-heroística é classicamente aquela de amor e ódio (não façam cerimônia e pulem essa parte do texto se quiserem ir direto para as críticas dos episódios da 3ª temporada, logo abaixo). Meu amor vem do fato de Novos Titãs, por Marv Wolfman e George Pérez, ter sido, ao longo dos anos 80, minha leitura preferida da DC Comics. Adorava o conceito da criação de uma nova versão da clássica equipe de jovens super-heróis encabeçada por Dick Grayson e os personagens então introduzidos e linhas narrativas eram cativantes. Vê-los em carne e osso na tela da TV é um prazer inenarrável, mesmo considerando que a atmosfera em si da série seja angustiante e pesada, uma escolha que não desgosto, mas que cria problemas que a própria série não sabe resolver bem.

E aí vem a parte do “ódio”. E não é exatamente ódio, pois eu realmente não odeio nada que vem do audiovisual. Eu posso até desgostar tremendamente, mas ódio é um sentimento forte demais para algo tão passageiro assim. Seja como for – e aqui ecoo os sentimento gerais de meu colega Gabriel Carvalho, que escreveu semanalmente sobre as duas primeiras temporadas – Titãs não caminha para frente de maneira organizada, mesmo que a primeira temporada, no agregado, tenha sido boa e a fraquíssima segunda temporada tenha tido seus bons momentos, como por exemplo o episódio de introdução do Superboy e Krypto.

O que parece é que a equipe criativa tem algo como vergonha de realmente usar o material que tem à disposição, deixando o lado psicológico pesado dos Titãs originais atropelar a história que deveria ser a principal, além de colocar Dick Grayson talvez demasiadamente nos holofotes. Mas, pior do que isso, é a forma como especialmente a segunda temporada lidou com seus personagens, matando Aqualad com um tiro no mesmo episódio em que ele é introduzido, e Donna Troy com choque elétrico, além de o tão temido Exterminador com uma espadada na barriga por sua própria filha ainda cheirando a leite. O caso da Moça Maravilha talvez seja o mais revoltante pelo absoluto ridículo da situação, o que inclui o acompanhamento de seu corpo pela “futura” Ravena com o objetivo de reviver a Amazona (WTF???).

Ou seja, Titãs tem o grande mérito de aproveitar personagens interessantíssimos dos quadrinhos da DC – quando é que eu poderia imaginar ver Rapina e Columba em live-action??? – e o mais do que gigantesco demérito de simplesmente desperdiçá-los quase que completamente com histórias sem sentido, que parecem ser amarradas com barbante e chiclete. É quase como assistir a uma colcha de retalhos – preta e branca, claro, para emular o “ranger de dentes” que a série tenta passar o tempo todo – sendo feita de maneira desleixada, desperdiçando linhas narrativas clássicas, e com receio de realmente usar o potencial dos ricos personagens.

Mas já falei demais sobre o passado. Vamos aos novos episódios!

3X01: Barbara Gordon

Se Titãs sempre pareceu ser mais a “história de Dick Grayson pós-Batman” do que uma série sobre uma equipe de jovens – e não tão-jovens – super-heróis, o primeiro episódio do terceiro ano da série, que, de uma tacada só, adapta o potente arco Morte em Família e faz referência à maravilhosa HQ A Piada Mortal, vem para mergulhar ainda mais na mitologia do Homem-Morcego, usando-a como trampolim narrativo para o que parece ser a chegada do Capuz Vermelho, mais outra menção aos quadrinhos. Para isso, sem nenhuma cerimônia, Jason Todd, de volta à Batcaverna e, aparentemente, drogando-se com drogas experimentais de sua própria fabricação (forçadíssimo, obviamente, mas esperemos alguma contextualização melhor antes de condenar completamente), parte para tentar capturar o Coringa contra as ordens de Bruce Wayne, que está impotente em um avião, sendo espancado até morte pelo Palhaço do Crime com o uso do icônico pé de cabra.

Mas icônico para quem? Vamos lá, sejamos sinceros, pois leitores de quadrinhos costumam ser megalômanos: nós somos uma parcela ínfima da audiência de filmes e séries de super-heróis. Elas não são feitas para nós e sim para o grande público, pelo que a “icônica” morte do segundo Robin pelas mãos do Coringa só funciona mesmo para essa parcela ínfima, pois, para o restante, o que acontece é a morte de um personagem desagradável, que ainda não havia mostrado seu valor, por outro personagem clássico, mas que não aparece em tela, em uma sequência que só pode ter sido filmada para tirar todo e qualquer peso do acontecimento.

Jason Tood nunca se beneficiou de uma construção maior na série do que a do “rebelde sem causa” padrão e o Coringa, bem… o Coringa, se alguma coisa, foi apenas uma menção aqui e ali por Grayson ou Wayne ou talvez até Todd, como uma ameaça perene de Gotham. Narrativamente – dentro da série! – essa morte simplesmente não vale absolutamente nada, é algo jogado no colo dos espectadores de maneira tão aleatória quanto o acontecido com Donna Troy (ok, ok, admito que o caso de Troy foi pior, mas vocês entenderam). E é por isso que temos mais um arco famoso apressadamente inserido na série somente para “chocar”, mas falhando miseravelmente até nessa missão, pois qualquer pessoa, até uma criança de cinco anos (que espero que não esteja vendo essa série), conectaria com o reaparecimento em seguida do choramingador mor. Em outras palavras, peso dramático zero.

E o que essa morte causa? A transferência da ação da série – pelo menos nesse começo – para Gotham City, colocando Dick Grayson no centro absoluto do palco e trazendo Bruce Wayne, desta vez ao vivo e a cores e não como um efeito da bipolaridade do passarinho circense, para mais próximo ainda de toda a equação, com o que pode ser sua efetiva aposentadoria, depois que ele aparece, em contraluz, com outro (ou o mesmo) pé de quebra na mão, dizendo que espancou o Coringa até a morte em mais uma sequência poderosa que vai completamente pelo ralo pela forma simplista como ela é tratada.

E todas essas cambalhotas narrativas existem unicamente para introduzir Tim Drake (Jay Lycurgo), que vemos rapidamente como um entregador de comida fã da Dupla Dinâmica (quero ver como farão para ele ser treinado…) e Barbara Gordon (Savannah Welch, que teve sua perna direita amputada na vida real em razão de um acidente em 2016) na série, esta agora Comissária de Polícia no lugar de seu falecido pai, e pós-A Piada Mortal, em mais um aceno às HQs que apenas os leitores de quadrinhos entenderão e perceberão a magnitude. Afinal, Gordon, que muito obviamente será a Oráculo – ou uma versão dela – é outra jovem adulta “estragada” pela vida, completamente azeda, sem papas na língua e incapaz de sequer um olhar de compreensão mesmo quando Grayson pede encarecidamente que ela o ajude com o psicopata que se fantasia de morcego, mesmo considerando que o que ela diz faça sentido. Ou seja, entrou na série mais uma personagem rangedora de dentes para misturar-se no bolo genérico já existente, ainda que ela, talvez mais que os demais, tenha razão para ser assim.

E o restante dos Titãs nessa história toda? Bem, como se poderia esperar, eles são apenas enfeites que aparecem algumas vezes para justificar o nome da série e introduzir linhas narrativas que, espera-se, serão abordadas de maneira decente. Gar parece caminhar para finalmente transformar-se em mais do que apenas um tigre verde; Kory, novamente com seus poderes sem uma explicação para isso, parece agir com a líder deles em São Francisco e tem um lampejo estranhíssimo (a série é cheia disso, não?) que a faz “reaparecer” no meio da rua, Conner e Krypto continuam sendo Conner e Krypto da mesma forma que Dawn e Hank continuam sendo Dawn e Hank. Além disso, Rachel permanece em Themyscira (espero que retorne já como Ravena, com boa compreensão dos seus poderes, pois, sinceramente, já cansei do desenvolvimento a passo de cágado dela) e Rose (com a consciência de Jericó) parece não existir, já que ninguém sequer menciona a jovem. Ou seja, o que temos é fru fru para parecer que a série não é só do Dick Grayson e seus problemas familiares na cidade onde cresceu e que o fez se tornar o chato de galochas que é.

Barbara Gordon é, portanto, um começo decepcionante para a 3ª temporada de uma série que, a essa altura do campeonato, ainda luta para encontrar-se de vez e mostrar sua relevância. Do jeito que a coisa vai, quer parecer que os showrunners não aprenderam a lição…

3X02: Red Hood

Basta um pouco de coesão para um episódio dar certo. Red Hood surpreende por ter foco e por saber introduzir um novo personagem – ou melhor, uma nova persona de um personagem já conhecido, claro -, o Capuz Vermelho, dando-lhe a importância devida e, de quebra, trazendo os Titãs de São Francisco para Gotham de forma a providenciar o encontro de linhas narrativas. E, como se isso não bastasse, não há enrolação e o roteiro de Tom Pabst não perde tempo em revelar a identidade do misterioso sujeito de máscara vermelha, com direito até mesmo à menção ao começo de carreira do Coringa.

No entanto, para que não precisemos esgarçar absurdamente nossa tolerância sobre inverossimilhanças internas, mais conhecida como a suspensão da descrença, teremos que aceitar que a linha temporal de acontecimentos não é a que parece ser. Afinal, quanto tempo passou desde que Jason Tood morreu espancado pelo Coringa? Isso não fica exatamente claro, pois não sabemos quanto tempo passou entre a prisão do Coringa após o assassinato e o suposto assassinato do Palhaço do Crime pelo Batman. O que sabemos é que o episódio começa logo depois da morte do Coringa, mas é de se esperar que um tempo grande tenha passado entre a morte de Todd e o tempo presente, caso contrário será completamente impossível sustentar que o garoto marrento, do nada, conseguiu tornar-se um mestre criminoso, com direito a uniforme tático customizado e o icônico capacete vermelho (aliás, gostei bastante do que fizeram com o uniforme, mais do que o de “plástico” de Asa Noturna). Na verdade, mesmo que estejamos falando de três, quatro, cinco ANOS da morte dele, já fica difícil aceitar, mas temos que dar um desconto.

E, se o desconto for dado, aceitando-se que o tempo que passou foi suficiente para a transformação, então a execução da chegada do Capuz Vermelho para aterrorizar Gotham funciona muito bem em termos televisivos e até em termos de um episódio da série Titãs, diferente do que abre a nova temporada. Há uma lógica e fluidez para os eventos que cria situações extremas para Asa Noturna e companhia, além de Barbara Gordon e a polícia da cidade lidarem com um bom grau de gravidade para os atos perpetrados pelo novo vilão. Vale apenas dizer que, mesmo que não tenha havido enrolação na revelação da identidade dele, a direção de Carol Banker poderia ter investido mais no suspense e na solenidade do “grande” momento, o que infelizmente acabou sendo algo normal, com uma reação nada espantada de Dick Grayson, o que chega a ser cansativo. Por outro lado, não foi nada cansativo ver um Vincent Kartheiser barbudo como Hannibal Lecter… digo, Dr. Jonathan Crane, vulgo Espantalho, servindo de consultor da polícia a pedido do próprio Bruce Wayne e fazendo de Dick Grayson seu fornecedor de maconha…

No lado exclusivo dos demais Titãs, as visões de Kory intensificam-se, agora de certa forma transformando-a em uma perigosa sonâmbula. Claro que isso tem conexão com a chegada de sua irmã Estrela Negra ao final da temporada anterior e é bom ver que o showrunner já está preparando o terreno para essa outra linha narrativa. Minha única reclamação nesse ponto é o quanto isso (os sonhos, as visões) é um elemento recorrente na série, pelo que poderiam ter escolhido outra forma de introduzir o futuro conflito real tamaraniano. Aliás, falando em elemento recorrente, o que é mesmo aquela briga entre Hank e Dawn, hein? Ela não quer ele de uniforme? Ele não queria usar o uniforme se fosse para agir sozinho? Já não estou entendendo é mais nada entre esse casal de passarinhos que só fica se bicando…

Red Hood, funciona tão bem que ele muito facilmente poderia até mesmo ter sido o episódio inicial. Afinal, considerando que a tão “badalada” morte de Jason Todd foi extremamente maltratada, ela poderia ser simplesmente pulada e trocada por algo menos dramático como, por exemplo, “Jason ficou de biquinho com o Batman e foi embora de casa há meses e ninguém mais tem notícia dele”. Seria mais honesto, seria mais condizente até com a personalidade dele, evitando o sub-aproveitamento de tramas vindas dos quadrinhos apenas para satisfazer aquela famosa meia dúzia de fãs.

3X03: Hank & Dove

Se o que aconteceu ao final de Hank & Dove realmente aconteceu, sem volta, sem reviravoltas do tipo “Krypto comeu o explosivo no último milésimo de segundo”, eu tiro meu chapéu para a série, pois as mortes idiotas de Aqualad e Moça Maravilha podem ser consideradas como compensadas pelo fim explosivo de Hank depois de um episódio que teve toda a construção clássica de que teria um final feliz de último segundo. O Capuz Vermelho matar Rapina desse jeito, com uma bomba grudada ao corpo (e eu me forço a aceitar que Conner não tem velocidade suficiente em seu corpinho clone para arrancar a bomba a tempo para que isso seja possível), depois que toda a equipe – menos Gar e Kory, que ficam só flanando – faz das tripas coração para resolver o assunto é algo raro de se ver e merece aplausos.

E olha que eu sempre gostei de Hank, mas, se isso aconteceu, estamos diante da primeira morte da série inteira que realmente foi bem construída e que teve o peso dramático necessário. Será um desserviço gigante à série se inventarem de revelar que ele está vivo na base do “sem corpo (ou pedaços de corpo), sem morte”, pelo que minha avaliação final fica pendente de confirmação acima de qualquer suspeita de que Rapina agora pode ser servido como prato principal no Dia de Ação de Graças.

Em termos de estrutura, o bom e velho truque da “contagem regressiva” funcionou maravilhosamente bem, criando tensão desde o segundo em que Hank atende a ligação de Jason e burramente cegue as instruções do jovem psicopata, instruções essas que nós sabíamos que iam levar a algo bem ruim, mas que não poderíamos imaginar que seria tão ruim assim. Claro que irrita um pouco ver Dick andando e não correndo e conversando calmamente, além de Dawn, em 45 minutos, planejar e executar o roubo do carro forte e ainda levar as barras para o ponto de encontro com Jason, sem sequer desconfiar de armadilhas do sujeito, mas o forte de Titãs nunca foi a verossimilhança e, se me fizeram engolir que choque elétrico mata uma Amazona, que uma mísera espadada mata o Exterminador e que Jason Todd, alguns dias depois de morto, retorna como Rei do Crime de Gotham, então eu posso fechar os olhos para esses problemas substancialmente menores.

A direção de Millicent Shelton, mesmo que tropece um pouco na progressão temporal, soube tirar o máximo proveito das várias frentes que se abrem ao redor de Hank, incluindo aí a própria conexão entre ele e Dawn, que, para surpresa de absolutamente ninguém, é reacendida (e depois explodida, he, he, he…). E, por incrível que pareça, o grandalhão Alan Ritchson teve uma boa performance final (se ele morreu mesmo, ainda espero vê-lo novamente em chorosos flashbacks, porém), com momentos de sabedoria e de tristeza pelo que está prestes a acontecer que realmente trazem à tona o drama de seu personagem substancialmente mal resolvido em termos narrativos, mas não por culpa do ator.

Hank & Dove pode ser um dos melhores episódios da série tão facilmente como um dos piores, caso todo o investimento no drama e na morte de Rapina tenha sido em vão. Espero que o showrunner não dê uma de engraçadinho e tenha cojones de manter o que foi estabelecido aqui, sem qualquer mitigação. Caso contrário, a série inteira tornar-se-á, em definitivo, uma grande piada.

Titãs – 3X01 a 03: Barbara Gordon, Red Hood, Hank & Dove (Titans – EUA, 12 de agosto de 2021)
Showrunner: Greg Walker
Direção: Carol Banker (3X01 e 3X02), Millicent Shelton (3X03)
Roteiro: Richard Hatem e Geoff Johns (3X01), Tom Pabst (3X02), Jamie Gorenberg (3X03)
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop, Teagan Croft, Ryan Potter, Curran Walters, Minka Kelly, Alan Ritchson, Joshua Orpin, Savannah Welch, Vincent Kartheiser, Jay Lycurgo
Duração: 43 min. (3X01), 44 min. (3X02), 40 min. (3X03)

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