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Crítica | Titãs – 3X05: Lazarus

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

E chegamos ao obrigatório episódio-flashback que tem a honrosa, mas difícil função de contar tintim por tintim todo o processo de transformação de Jason Todd em Capuz Vermelho e, mais importante do que isso, fazer-nos acreditar nele. Devo dizer que, mesmo que sejamos forçados a engolir um caminhão de doze eixos de conveniências, na categoria de capítulo razoavelmente autocontido, como foi Conner na temporada passada, até que Lazarus funciona razoavelmente bem.

E o que mais me impressionou nem foram os eventos em si, já que eles eram, de uma forma ou de outra, esperados e o episódio não trouxe tanta novidade assim, mas sim o espaço dado a Curran Walters para trabalhar seu personagem. Esperava que qualquer coisa focada exclusivamente – ou quase – no segundo Robin seria uma tragédia de atuação, já que o ator, para mim, era, até aqui, apenas capaz de fazer biquinho e choramingar pelos cantos, além de me irritar profundamente. Mas eis que eu me deixei levar pela confusão entre roteiros ruins e capacidade dramática. Foi só escreverem algo um pouquinho melhor para o jovem e, voilà, temos um ator de verdade vivendo um personagem tridimensional.

Definitivamente, uma grande e bem vinda surpresa que, casada com as presenças constantes de Iain Glen e Vincent Kartheiser como dois mentores para Jason, o resultado final foi o maior show de interpretação da série toda até aqui, não que isso seja difícil, claro. Obviamente, porém, Lazarus acaba sendo mais uma prova de que Titãs é muito mais uma série do Batman e de seus filhos psicologicamente estragados do que verdadeiramente dos demais personagens não-derivados da mitologia do Morcegão, mas isso é algo que também não é novidade nenhuma, ainda que seja cansativo.

Afinal, pensem aqui comigo o quanto esse arco da morte e ressuscitação de Jason Todd não daria uma minissérie bacaníssima, não é? Só aqui em Lazarus havia material suficiente para ocupar facilmente dois ou três episódios, de forma a evitar que o roteiro de Bryan Edward Hill precisasse fazer milagre para condensar a origem do Capuz Vermelho em pouco mais de 40 minutos, o que inevitavelmente levou à correria e à redução do impacto e da relevância de muita coisa. Para começar, a relação Bruce Wayne-Jason Todd, que nunca havia sido antes trabalhada, ganha um supletivo de 2º grau que queima o potencial verdadeiro que a dupla mentor-pupilo tinha, ficando tudo resumido a um tratamento psicológico pela Dra. Leslie Thompkins (Krista Bridges) que é atropelada pela decisão de Bruce de aposentar o Robin, combinação que o leva para o colo do Dr. Jonathan Crane, o Espantalho.

E essa segunda conexão também é apressada, feita no afogadilho, sem que verdadeiramente vejamos a queda de Jason Todd. Além disso, em termos temporais, infelizmente, temos que aceitar que tudo acontece em três meses e, por tudo, quero dizer tudo mesmo, inclusive o plano de se transformar em Capuz Vermelho, com uniforme, tomada de assalto do submundo, estratégias assassinas e assim por diante, algo que me parece que só nasce de verdade depois da morte de Jason, em míseros dias (e não meses), o que é absolutamente ridículo. Mas tem mais: a morte não fazia parte do plano, mas Crane tinha uma carta na manga, ou seja, um providencial Poço de Lázaro no meio da cidade cuja existência nem o Batman sabia e um verdadeiro quartel-general (dentro da prisão?) onde ele age livremente. Já vi mágico tirar muita coisa da cartola, mas nem o Mandrake (ou a Zatanna, só para ficar no mesmo universo) seria capaz disso sem ficar completamente ridículo.

Mas, como eu disse desde o começo, para se ter a mínima chance de apreciar Lazarus, é necessário fechar os olhos para muita coisa e engolir o que nos é entregue, o que é agradável como uma endoscopia… Quando fazemos isso, o que sobra é um episódio que pelo menos conta uma história decente (hummm…) e que consegue parar por tempo suficiente em um personagem só para percebermos que seu ator sabe mesmo atuar. E isso sem contar com as referências bacanas naquele cofre de Bruce Wayne e a “visita” surpresa de ninguém menos do que Donna Troy em um sonho de Jason vestindo roupa preta, o que pode significar seu retorno com aquele uniforme cheio de estrelas que ela já usou nos quadrinhos (porque, na DC, não humanos que morrem retornam vestindo preto, não é?).

Uma coisa, porém, é importante notar. Nada em Lazarus parece minimizar ou mitigar a culpabilidade de Jason sobre seus atos. Ou melhor, quase nada, pois há aquele ensaio ali com a introdução de Molly (Eve Harlow) e a procura do jovem Diego (Cole King) que eu espero fortemente que não seja usado lá para a frente para criar um arco de redenção para esse psicopata assassino que explodiu o Hank. Será o fim da feira se Titãs estiver disposto a transformar o Capuz Vermelho em anti-herói, mas o pior é que, na medida em que escrevo isso, cada vez mais tenho certeza de que é exatamente o que acontecerá.

Lazarus entrega uma competente versão a jato do que poderia ser uma sensacional história ao longo de alguns episódios, mas que de jeito algum torna mais fácil aceitar a trajetória transformadora de Jason Todd de pirralho birrento a gênio do crime. Pelo menos descobrimos que, sem o capuz, o rapazinho lá dos pitis histéricos chorosos, quem diria, sabe interpretar!

Titãs – 3X05: Lazarus (Titans – EUA, 26 de agosto de 2021)
Showrunner: Greg Walker
Direção: Boris Mojsovski
Roteiro: Bryan Edward Hill
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop, Teagan Croft, Ryan Potter, Curran Walters, Conor Leslie, Joshua Orpin, Vincent Kartheiser, Iain Glen, Eve Harlow, Krista Bridges, Cole King
Duração: 45 min.

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