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Crítica | Titãs – 3X09: Souls

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Não tem como escapar: mortes em quadrinhos – e em suas adaptações audiovisuais – são normal e compreensivelmente temporárias e o que conta mesmo são as circunstâncias com que elas ocorrem e o que elas trazem de relevante para a história sendo contada, e, talvez mais ainda, como e porque exatamente os personagens retornam à vida. A grande verdade, claro, é que poucas vezes as HQs acertam e menos ainda filmes e séries conseguem trazer a gravidade e solenidade necessárias para que isso aconteça sem que seja fácil demais apontar as conveniências aqui e ali ou que tudo aconteça rapidamente demais.

O tão aguardado episódio do retorno de Donna Troy faz esforço para ser mais do que um estalar de dedos para a Amazona ao conectar sua morte com a de Tim Drake e, interessantemente, com a de Hank Hall, além de, estranhamente, com o suicídio(???) de Bruce Wayne. O primeiro sinal desse esforço é o visual, com o episódio alterando radicalmente a pegada sombria e urbana da série e trocando-a por paisagens praianas em Themyscira, com Rachel tentando apressar a ressurreição de Donna e um purgatório nevado, com fotografia em preto e branco, em que os três mortos, recusando-se a “irem para a próxima etapa”, unem-se para combater Dementadores de forma a atravessarem uma ponte que em tese deveria trazê-los de volta à vida.

Em um universo em que aceitamos com tranquilidade a existência do Poço de Lázaro que, vale ressaltar, foi usado mal e porcamente para trazer Jason Todd ao mundo dos vivos, não é difícil conceber que as Amazonas tenham um ritual que, ainda que de maneira incerta e por razões misteriosas (um pouco de preguiça de roteiro, mas tudo bem…), pode ter o condão de ressuscitar suas mortas, assim como não é difícil imaginar um Purgatório como o que vemos no episódio. O problema é, como já disse acima, toda a mecânica de como a coisa acontece.

É importante, primeiro, não deixar que “fotografia bonita” embace a visão de quem assiste a série, servindo como curativo para os problemas que Souls inegavelmente tem. Sim, a fotografia em preto e branco é muito eficiente, charmosa até, assim como a direção de arte no bar a que Hank leva Donna e Tim. O mesmo pode ser dito dos figurinos das Amazonas e até dos interiores na Ilha Paraíso, mesmo que as sequências externas na praia sejam pedestres demais, destoando completamente do restante graças a uma iluminação chinfrim e um mise-en-scène quase amador.

A beleza técnica não é nem de longe suficiente para lidar, inicialmente, com a completa falta de desenvolvimento de Rachel, por exemplo. Meses se passaram com ela por lá na terra das Amazonas, mas ela, aparentemente, nada aprendeu, mesmo que em tese demonstre um pouco mais de controle sobre seus poderes. Chega a ser frustrante vê-la colocar a perder todo o processo lento de ressurreição de Donna, mas o pior é notar que não parece existir nexo causal algum entre tudo o que vemos em Themyscira – e que, de novo, vem acontecendo há meses e meses – com a maneira como Donna finalmente volta à vida. Até prova em contrário, se não houvesse ritual algum e se Rachel também sequer tentasse ressuscitá-la com seus poderes, ela mesmo assim retornaria. Por essas é outras é que eu digo que o importante é o como e o porquê do retorno e não só sua mera execução.

Como se isso não bastasse, tenho enormes dificuldades primeiro para aceitar que um episódio que simplesmente não era para ser sobre a batfamília, é transformado em um pela presença de Bruce Wayne no começo e no fim. Além disso, como engolir que ele realmente tentou se matar e, ainda por cima, com fogo e não… sei lá… com um tiro na cabeça? E olha que eu estou pensando neste Bruce Wayne da série e não o dos quadrinhos e, mesmo assim, apesar de tudo o que ele perdeu e fez, não consigo fazer a ponte para que ele chegue a esse ponto radical a essa altura do campeonato da vida dele. A não ser que haja circunstâncias atenuantes (como ele estar sendo controlado mentalmente – o que seria ridículo, logicamente), todo o enquadramento do episódio capitaneado pelo personagem me parece aleatório demais, especialmente porque Donna surge exatamente ali, para salvá-lo. Espero que haja um mínimo de lógica para esses desdobramentos, ainda que eu desconfie que ficarei a ver navios neste quesito.

No entanto, felizmente, nem tudo se pede. O breve retorno de Hank Hall, que não só aparece escutando Bon Jovi, como também dirigindo um Thunderbird vintage, é, inegavelmente, o melhor que o episódio tem a oferecer. Claro que a saída de Alan Ritchson para estrelar outra série já telegrafa que ele não retornará à vida ao final (até porque isso destruiria Hank & Dove, o melhor episódio da temporada até agora), mas Souls, se alguma coisa, serve para dar aquele belo fechamento ao seu arco, fazendo-o sacrificar-se por seus amigos e, bem ao final, voltar a ser Rapina com seu irmão Donnie (Elliot Knight), o Columba original, para ajudar almas que se recusam a seguir em frente ali no Purgatório. Um final simples, mas simbólico e elegante, para o personagem.

É uma pena, portanto, que Souls não tenha conseguido ser uniformemente bom, perdendo oportunidades com Rachel e Donna, além de enxertar Tim Drake e, mais estranho ainda, um Bruce Wayne suicida na história. O showrunner Greg Walker continua substancialmente sem rumo, mesmo que acabe entregando um episódio muito melhor que os dois anteriores (o que não era difícil, lógico), mas fica a esperança de que o retorno de Donna e Rachel e a inclusão de Tim na equipe traga uma lufada de ar fresco para a estirada final da temporada.

Titãs – 3X09: Souls (Titans – EUA, 23 de setembro de 2021)
Showrunner: Greg Walker
Direção: Boris Mojsovski
Roteiro: Richard Hatem
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop, Teagan Croft, Ryan Potter, Curran Walters, Joshua Orpin, Vincent Kartheiser, Damaris Lewis, Jay Lycurgo, Savannah Welch, Eve Harlow, Debra Hale, Alan Ritchson, Iain Glen, Elliot Knight
Duração: 45 min.

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