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Crítica | Titãs – 3X13: Purple Rain

Menos lazarento do que podia ter sido.

por Ritter Fan
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  • Há spoilers. Leiam, aqui, as críticas dos demais episódios.

Não havia como consertar a 3ª temporada. Nem de longe. Por melhor que o episódio final pudesse ser, Greg Walker fez tanta besteira, mas tanta besteira ao longo dos 12 anteriores que nem se ele entregasse as chaves da série para medalhões da produção audiovisual mundial, vivos ou mortos, alguma coisa significativa poderia ser feita. Dito isso, foi surpreendente constatar que o encerramento da temporada poderia ter sido muito pior, o que, diante de coisas horrorosas como Prodigal, The Call is Coming from the House e Troubled Water, só para citar os exemplos mais recentes, já é uma vitória. Afinal, temos que tentar encontrar alguma positiva em tudo, não é mesmo?

O que Purple Rain faz de certo é, em primeiro lugar, encerrar sem muita dificuldade o “reino de terror” do Espantalho, o que, no processo, acabou entregando a Dick Grayson a primeira coisa inteligente que ele faz em muito tempo: decidir não correr atrás das bombas espalhadas por Crane e atacar diretamente a Mansão Wayne, o quartel-general do vilão. Sim, eu sei que era óbvio que ele tinha que fazer isso (e, diria mais, ele tinha mesmo era que ter mandado Conner lá para acabar com tudo em uma fração de segundo, mas isso jamais seria feito), mas, como eu mais ou menos disse acima, temos que comemorar as pequenas coisas quando estamos falando de Titãs.

Outro acerto foi não exagerar na inevitável redenção de Jason Todd. Já havia ficado claro que ele acabaria de alguma forma retornando de sua vilania enlouquecida, pelo que nem mais reclamarei disso para fins deste episódio (mentira, reclamarei sim, pois aceitarem na boa que ele matou Hank para se divertir é demais da conta). Dick já havia dito que ele jamais voltaria para os Titãs e fiquei contente – o quanto de contente é possível ficar com essa temporada, claro – que ele realmente não voltou e que sequer permaneceu com Bruce Wayne, com sua parceria com Asa Noturna tendo sido breve e criada de forma a cumprir um objetivo bastante específico. Além disso, gostei que não vilanizaram o Superboy – pelo menos não agora e certamente não por uma razão infantil como a que o episódio anterior deu a entender – e que não inventaram de colocar Tim Drake em meio à pancadaria, basicamente entregando-lhe precipitadamente o manto de Robin III. E, claro, dei a primeira risada sincera na temporada quando Batgar deu com as fuças na janela do quarto de Dick na mansão.

Viram só? Dois parágrafos inteiros elogiando um episódio de Titãs. Deve ser algum recorde, pelo menos depois de Hank & Dove que, em retrospecto, parece ser o único episódio realmente bom da temporada toda. E, se o showrunner tivesse se atido a esses pontos acima, sem invencionices, talvez ele até tivesse conseguido soltar um final que conseguir quebrar a aparentemente intransponível barreira do mediano. Mas não foi o caso. Parece ser mais forte que Walker. Ele precisa chutar o proverbial pau da barraca narrativo e mandar ver em aleatoriedades imbecis que devem ter parecido “espertas” na hora da reunião da equipe “criativa”.

Afinal, em uma série que faz de tudo para ser sombria e adulta, as centenas ou milhares de mortes que Crane causou com a explosão de sua primeira bomba de toxina faz até todo sentido, certamente muito mais do que pedir absinto em um bar. Esse poderia ter sido um momento interessante e até… hummm… ousado da parte de Walker, mas não, pelo visto isso era mais do que ele tinha permissão para fazer. A solução brilhante e que está no título do episódio justamente para sublinhar o quão ela é bacana na cabeça destes geniais roteiristas foi criar uma chuva de água do Poço de Lázaro. Imediatamente lembrei-me da ridícula chuva de kryptonita em Cavaleiro das Trevas III: A Raça Superior, só que, aqui, a coisa consegue ser mais patética ainda. O “plano” mirabolante tem tantas peças móveis e exige tanto da suspensão da descrença – e parte da premissa que todo mundo que morreu estava em local aberto, lógico – que ele parece algo escrito para alguma HQ dos anos 40, com direito até a outra auto referência (só pode ser isso) de Donna Troy brincando com eletricidade…

Mas obviamente que tem mais. O que raios foi aquela “grande revelação” de que a policial Vee (Karen Robinson) era uma agente infiltrada da ARGUS? Que deus ex machina mais xexelento, não? Afinal, se a ARGUS estava ali o tempo todo, a organização precisava mesmo esperar a cidade ser despedaçada para tomar tenência? E, pior que isso, os roteiristas (um deles ninguém menos que Greg Walker) sequer sabem usar um deus ex machina para valer e transformaram a “reviravolta” em algo completamente inconsequente para o desenvolvimento da trama e para o fechamento da história. Afinal, a única função da ARGUS foi permitir que Barbara usasse o uplink de satélite deles para remotamente tomar controle do batcomputador, algo que poderia muito facilmente ser feito de outra maneira qualquer, seja usando os computadores achados no lixo da timcaverna de Tim Drake, seja mandando Batgar se infiltrar na Mansão Wayne ou, claro, mas aí estou me repetindo, pedir para Conner dar um pulo na batcaverna para quebrar tudo. Ou seja, não só Walker me vem com um deus ex machina completamente tirado de sua cartola, como sequer consegue trabalhá-lo de maneira decente.

Esses são os problemas macro, já que há vários outros menores, que incomodam em graus diferentes. Por exemplo, que tal todo o arco de ressurreição de Donna Troy ter tido como objetivo ela sair dos Titãs? Ela vai passear em Paris e depois trabalhar com Roy Harper (aquele name drop completamente idiota para fazer os olhos de fã bobão brilharem) na ARGUS, como assim? E a trama envolvendo a destruição e reconstrução da nave de Estrela Negra serviu para o que mesmo? Para ocupar tempo dos episódios porque não tinha mais nada para colocar no lugar? E vem cá, ninguém vai falar nada da tentativa de suicídio de Bruce Wayne? E está tudo bem o Batman retornar para Gotham depois que tudo acabou, mostrando suprema babaquice – como a ARGUS – ao não mover um dedo para ajudar em nada? E o que foi aquele trailer que Dick aparece dirigindo ao final??? Sério, deu vergonha alheia…

No entanto, entre mortos, ressuscitados e feridos, acho que é possível dizer que Purple Rain foi o melhor final de temporada de Titãs até agora, pois a 1ª temporada não teve um, vamos combinar, e o da 2ª… bem… o da 2ª teve a morte de Donna com um choquinho. Esse aqui segurou suas pontas. Mal e porcamente, mas segurou, mesmo que isso signifique que temos que aceitar e aplaudir a chuva lazarenta e a aparição da ARGUS completamente do nada e para não fazer nada que preste. Titãs é assim, uma série para pessoas de fibra, que, mesmo morrendo de fome, reviram a lixeira para achar uma salsicha parcialmente mastigada e celebram como se tivessem acabado de ser servidos com um canapé de caviar russo e uma taça de Dom Pérignon. Que venha a 4ª temporada para sofrermos mais!

Titãs – 3X13: Purple Rain (Titans – EUA, 21 de outubro de 2021)
Showrunner: Greg Walker
Direção: Chad Lowe
Roteiro: Richard Hatem, Greg Walker
Elenco: Brenton Thwaites, Anna Diop, Teagan Croft, Ryan Potter, Curran Walters, Joshua Orpin, Vincent Kartheiser, Damaris Lewis, Jay Lycurgo, Savannah Welch, Iain Glen, Karen Robinson
Duração: 51 min.

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