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Crítica | Todas As Razões Para Esquecer

por Luiz Santiago
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Existe um grande número de versões cinematográficas sobre a jornada de alguém após o fim de um relacionamento. Términos são sempre muito difíceis e mesmo quando existe um afastamento civilizado e, “para o bem dos dois lados”, a separação em si nunca é uma coisa boa. E como sempre, haverá consequências pessoais. É nesse ponto que o roteiro de Pedro Coutinho firma os pés, mostrando todo o processo de “superação” e entendimento de Antonio (Johnny Massaro) após o término de seu relacionamento com Sofia (Bianca Comparato).

Todas As Razões Para Esquecer (2018) é uma caminhada pelas dúvidas de um jovem afetado pela tristeza, confuso sobre o que quer na vida e sem perspectivas a curto e médio prazo, o que é um passo para a tomada de decisões absurdas, apenas para aplacar a dor do momento, sem pensar ou mesmo se importar com os anunciados efeitos colaterais. Primeiro longa-metragem de Pedro Coutinho, Todas As Razões surge como uma curiosa formulação, uma década depois, do dilema e olhar de jovens na ponta dos millennials e no início dos pós-millennials a que fomos apresentados em Apenas o Fim, charmoso filme de Matheus Souza lançado em 2008. Aqui, porém, o senso de sofrimento, o peso das responsabilidades, a tecnologia e o choque entre práticas de diferentes gerações se aglutinam, para o bem ou para o mal do protagonista.

Johnny Massaro (O Filme da Minha Vida) cria um personagem com quem o público consegue traçar diversos pontos de identificação, não só por compartilhar alguns dissabores explorados pelo roteiro, mas pela maneira como ele lida com as coisas. Calado a maior parte das vezes, Antonio passa boa parte de sua vida com medo de algumas coisas importantes. Se expor, tomar decisões, falar verdades, pedir coisas, assumir vontades e desejos que, de alguma forma, fazem com que ele pareça indiferente a tudo. E por mais que isso possa sugerir algo ruim para a construção do personagem, o texto e o ator seguem um rumo bem diferente, nunca tornando essas caraterísticas imensamente reprováveis ou tão intragáveis que atrapalhem o andamento do filme. É claro que a obra se beneficiaria de uma montagem mais ágil e criativa no desenvolvimento — especialmente nos momentos de solidão de Antonio –, com menos repetições nesse “processo de cura e encontro” do personagem, introduzindo outras coisas para ele fazer.

O roteiro me lembrou tanto Sem Ana, Blues (excelente conto de Caio Fernando Abreu), que não consegui deixar de pensar em como a obra cresceria caso o protagonista se visse diante de uma variedade maior de coisas, não necessariamente que ele tivesse que fazer, mas que tornasse relevante algo que o texto trabalha nas entrelinhas, o tempo inteiro. Há opção demais, barulho demais e conselhos demais em um momento onde o silêncio breve e a oportunidade de encontrar-se consigo mesmo seriam as melhores coisas. O final da obra se tornaria mais sólido se esse processo movimentado de caminhos fosse incorporado. Mas, é importante deixar claro, não estamos falando de escolhas capazes de tornar o filme ruim.

Massaro está muito bem no papel principal e Bianca Comparato segue de perto, como um par romântico que não cai no elemento vilanesco barato (ponto para o roteiro!) e com uma simpatia capaz de criar também uma identificação com ela, afinal, em um relacionamento e em discussões que aí ocorrem, a busca por respostas e o caminho para se acertar uma desavença devem vir pelo diálogo. Se o outro lado não fala nada, é impossível ir para algum lugar. Isso faz de Todas As Razões Para Esquecer uma espécie de “cartilha de comportamentos comuns”, dos dois lados da moeda, nos momentos antes e depois do film de um relacionamento. Um longa que mostra a fragilidade, a dor e o aprendizado que uma separação pode trazer.

Todas As Razões Para Esquecer (Brasil, 2018)
Direção: Pedro Coutinho
Roteiro: Pedro Coutinho
Elenco: Johnny Massaro, Bianca Comparato, Regina Braga, Maria Laura Nogueira, Victor Mendes, Thiago Amaral, Rafael Primot, Eduardo Mossri, Rita Batata, Larissa Ferrara
Duração: 91 min.

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