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Crítica | Todo Mundo em Pânico 4

por Fernando JG
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Se a ideia inicial era seguir o que uma tradição de filmes vinha fazendo até então, como Pânico, Premonição, etc., com uma sequência de histórias e uma personagem principal que atravessa vários filmes seguidos, é evidente que o quarto filme da franquia definitivamente sinaliza exaustão. Chega à exaustão pelo simples fato de um esgotamento natural do modelo proposto pelos irmãos Wayans. Os personagens vão se acabando, morrendo, e ainda que Zucker tenha se esforçado, e brilhantemente, para inserir novos arranjos e oferecer uma boa repaginada na narrativa, chegou a hora de dizer adeus. Mas que seja de modo decente e sem esculhambo, como acontece no quinto e último filme. O arco narrativo que conhecemos, desde Todo Mundo em Pânico, se encerra neste filme com a conclusão da história de Cindy (Anna Faris) e Brenda (Regina Hall), que já havia sido morta no anterior, mas que, neste, aparece como participação mais que especial. Numa ideia geral proposta pela franquia desde o início, este é o que coloca o ponto final, e, como disse na crítica anterior, o quinto filme, de 2013, surge como uma readaptação de tudo o que foi produzido ao longo da década, mas que não vinga. 

O prólogo pega rabeira no sucesso de Jogos Mortais (James Wan, 2004) e introduz dois personagens com as pernas amarradas, tendo de cortá-las para escapar. Como trata-se de Scary Movie, certamente o personagem cortaria o pé errado, e assim o faz. Esta é apenas mais uma das entradas divertidíssimas da franquia, e conta com a atuação de Shaquille O’Neal para cobrir uma cena, que é, na verdade, uma paródia com o próprio jogador, que é constantemente lembrado por seus erros de arremesso. Metalinguístico, Todo Mundo em Pânico parece respirar bem.

Diante de tantos prólogos icônicos, e de tantas referências que reconhecemos à primeira vista, como: “Cindy, a TV tá vazando”, ou “hoje 50 negros foram espancados pela polícia, mas o mundo só quer saber o que vai acontecer com a branquelinha que caiu no poço” ou as cenas do Michael Jackson que aparecem em vários momentos, e até mesmo o prólogo com a cena inicial de O Exorcista (William Friedkin, 1973), entre outros momentos marcantes da série de filmes, me pego pensando com frequência como a franquia Todo Mundo em Pânico não pode ser considerada um clássico de gênero e subgênero? Apesar de alguma espécie de humor se encontrar datada, elas ainda se mantêm décadas depois, influenciando tipologias do gênero, e sobretudo arrancando o riso de quem assiste, ainda que um riso de canto de boca – e, como disse outra vez, não procure uma cinematografia impecável, pois, além de indecoroso, definitivamente não é a proposta da produção. A verdade é que Scary Movie nos pega pelo ridículo do ridículo; pela parodização extrema; pelos chistes; pelo nonsense; aspectos estes que, levados ao limite pela franquia, funcionam com o público em geral, por uma ligação quase instintiva entre os atos dos personagens e o espectador. 

A propósito do arco narrativo, a gente recebe uma Cindy que acaba de sair da âncora do jornal e agora trabalha como cuidadora de uma idosa, em Nova York. Logo descobrimos que a casa é mal assombrada, e a primeira paródia se apresenta. O Grito (Takashi Shimizu, 2004) é o substrato do enredo que se desenrola dentro de casa, e as cenas em que Cindy conversa em japonês com o menino-fantasma são hilárias. Ao lado de fora da casa, o mundo está sendo atacado por alienígenas, como em Guerra dos Mundos (Steven Spielberg, 2005), e, para fugir de tudo isso, Cindy e Brenda, que reaparece do nada, vão para um lugar chamado A Vila (M. Night Shyamalan, 2004), onde aprontam todas numa vila conservadora e familial. 

Brenda continua sendo uma personagem extremamente necessária para Scary Movie, e o fato da produção decidir revivê-la, ainda que sem motivo aparente, só demonstra o quão importante ela é para o enredo. Neste filme, Brenda acaba tendo relações sexuais com um alienígena e se infectando com uma doença sexualmente transmissível, e, ao fim, dá à luz a um filho extraterrestre. O que é memorável. 

As paródias são todas muito bem articuladas, até mesmo a de O Segredo de Brokeback Mountain (Ang Lee, 2006), que dá absurdamente certo e apenas insinua o que está acontecendo entre Mahalik (Anthony Anderson) e CJ (Kevin Hart). As calças rasgadas no traseiro, as conversas na cabana e a estranha proximidade entre ambos torna tudo muito obsceno e divertido. Sem  tantas intenções sexuais em sua direção, David Zucker aposta no humor pelo humor, como quando o personagem de Charlie Sheen toma uma cartela inteira de viagra sem querer, ou quando Cindy se reposiciona no enquadramento da câmera, que não a estava pegando – propositalmente, é verdade. Isso traz a marca estilística do diretor, que dificilmente erra. 

É interessante que neste filme, pensado como o encerramento oficial, não ocorre a clássica cena de atropelamento ao final, como acontece nos anteriores, que parodia Premonição (James Wong, 2000). Enfim, tudo isso dá uma conclusão definitiva a todos os arcos abertos, a todas as histórias que vinham se desenrolando até então, nos outros longas. Todo Mundo em Pânico se despede com a ridicularização do momento tosco de Tom Cruise no programa da Oprah Winfrey em 2005, em que ele tem um descontrole emocional, e coloca um ponto final de excelência na franquia. Scary Movie 4, sob direção de David Zucker, assume para si o desfecho de um dos mais memoráveis, pelo bem ou pelo mal, filmes do subgênero paródia. 

Todo Mundo em Pânico 4 (Scary Movie 4, EUA, 2006)
Direção: David Zucker
Roteiro: Craig Mazin, Jim Abrahams, Pat Proft
Elenco: Michael Madsen, Anna Faris, Craig Bierko, Carmen Electra, Charlie Sheen, Bill Pullman, Chris Elliott, Regina Hall, Kevin Hart, Cloris Leachman, Beau Mirchoff , Simon Rex, Molly Shannon, Leslie Nielsen
Duração:83 min.

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