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Crítica | “Todos os Cantos” – Marília Mendonça

A maior voz do feminejo em um projeto ousado, em todos os sentidos.

por Arthur Barbosa
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Em 2021, a inesquecível Marília Mendonça, a “Rainha da Sofrência”, nos deixou em um grave acidente aéreo ocorrido na cidade de Caratinga, em Minas Gerais (MG).  Apesar da sua partida precoce aos 26 anos de idade, a cantora deixou um legado exponencial de talento, de sororidade e de permanência na música sertaneja, historicamente tendo a hegemonia de artistas masculinos, como a dupla Zezé de Camargo & Luciano e o cantor Luan Santana. Dentre os grandes sucessos de Mendonça, vale destacar o álbum Todos os Cantos – o quarto da cantora, o qual foi lançado em fevereiro de 2019, e inclusive transformou-se em um documentário original Globoplay, intitulado Marília Mendonça – Todos os Cantos, sendo uma das iniciativas mais inovadoras do cenário sertanejo brasileiro, uma vez que o público, não só fez parte da gravação ao cantor com a cantora os sucessos musicais, como, também, foram agraciados com apresentações gratuitas e acessíveis nas principais cidades do país.

Além de conquistar o coração de milhares de fãs, Marília – que foi uma das inspirações para a composição do protagonismo de Raíssa, na série Rensga Hits!, ambientada no universo do feminejo – abordou em suas canções características que envolvem qualquer relacionamento amoroso entre duas pessoas, desde a profunda experiência emocional até a força feminina em se reinventar apesar das adversidades da vida em confiar em um homem. E a voz potente dela conseguiu se reinventar da melhor maneira possível: na época, ela realizou shows inéditos gratuitos em todas as capitais do Brasil, pegando o público de surpresa em gravações noturnas ao vivo. O resultado não poderia ter sido outro: o nascimento de um álbum único – Todos os Cantos -, o qual retrata fielmente a essência da arte da cantora e a imensa conexão forte e indescritível que ela criou com o público. “Uma noite sonhei que me apresentava em todas as capitais do Brasil, Acordei e, na mesma hora, liguei para o meu empresário”, comentou a artista à imprensa na época do lançamento.

Entre as faixas de maior sucesso, destaca-se Ciumeira, pois nela há uma exploração direta e intensa sobre o ciúme por outra pessoa, revelando, assim, a insegurança interior aos relacionamentos. Já Bom Pior que Eu retrata a dor de um rompimento, ao explicar a angústia que muitos seres humanos sentem ao ver um ex-companheiro partir. Por outro lado, Bebi Liguei tem um toque de leveza e de humor à narrativa, mostrando as emoções após uma noite de bebedeira, afinal de contas  costuma-se dizer que revelamos os nossos mais profundos segredos após bebermos muitas doses de álcool. 

Essas músicas, portanto, evidenciam a capacidade única e peculiar de Marília Mendonça em traduzir os sentimentos universais, como o amor, em letras de música sertaneja, as quais refletem profundamente as relações amorosas e todo o universo conturbado desse tipo de interação interpessoal. Uma curiosidade: em algumas capitais, como em Salvador, na Bahia, ela contou com participações especiais, como o cantor Léo Santana, que dividiu os vocais do sucesso Apaixonadinha durante a gravação no Pelourinho, ao passo que em Brasília, no Distrito Federal, ela dividiu o palco com o cantor Gaab, nos embalos de Intenção.

Ademais, percebe-se que o sucesso estrondoso de Todos os Cantos não está evidente apenas nas composições, e sim na coragem da Marília em apresentar as músicas sem anúncio, ou seja, de forma inesperada para o público em geral e, principalmente, para os fãs mais acalorados pela presença da cantora em todas as capitais do país. Como consequência, além de aumentar a popularidade dela, houve um compromisso com a socialização da música, tornando-a acessível aos seus fãs de regiões fora do famoso eixo  Rio-São Paulo, como os estados do Norte e do Nordeste. Em virtude disso, em 2019, a cantora ganhou o prêmio de Melhor Álbum Sertanejo no Grammy Latino, reconhecendo o talento e a importância da artista na popularização da música sertaneja para o Brasil e também para o público internacional.

Dessa forma, nota-se que Todos os Cantos é muito mais do que um álbum; é um legado histórico de representatividade da mulher na música, evidenciando que as brasileiras têm talento e podem contribuir – e muito – para a cultura nacional. Isso é evidente após o seu falecimento, porque até hoje as suas músicas são um sucesso nas principais plataformas digitais de distribuição de músicas, como o YouTube e o Spotify. Para títulos de exemplificação, em 2024, Marília Mendonça foi a primeira brasileira a atingir o patamar de 10 bilhões de visualizações no Spotify, evidenciando que o título de “Rainha da Sofrência” não é e nunca será apenas ilustrativo, e sim representativo por toda uma eternidade. Na minha opinião, a música de maior sucesso é Todo Mundo Vai Sofrer, uma vez que todos nós, brasileiros, sofremos com a morte de uma jovem cantora, que tinha um potencial gigantesco de ser uma cantora avassaladora… E olha como o destino é curioso: ela foi e sempre será a maior, uma verdadeira Rainha.

Aumenta!: Supera
Diminui!: Abandono de Incapaz
Minha Canção Favorita do álbum!: Todo Mundo Vai Sofrer

Todos os Cantos
Artista: Marília Mendonça
País: Brasil
Lançamento: 22 de fevereiro de 2019
Gravadora: Som Livre
Estilo: Sertanejo

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