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Crítica | Torturados Pela Angústia

por Iann Jeliel
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Torturados Pela Angústia

Torturados Pela Angústia é um exemplar típico para uma Sessão da Tarde. Uma história de fácil envolvimento a qualquer membro da família, com o bônus da oportunidade de se conhecer uma cultura diversa e seus estereótipos mais característicos. Poderia até ser um bom filme se assumisse esse lado mais cartunesco de aventura – no qual tem seus melhores momentos –, mas o estranho título Torturados Pela Angústia foi traduzido assim porque se trata também de um drama de uma situação que é sim desesperadora – ter seu filho pequeno perdido em outro país com estranhos –, mas fica nas entrelinhas em ser quase uma diversão também.

Claro que se formos dividir os pontos de vista, essa parte mais dramática vem dos pais das crianças que sofrem a angústia de saber ou não se ele sobreviveu à queda de avião, e depois com a angústia de ele estar perdido por aí no Japão – facilmente qualquer adulto se relaciona. Por outro lado, esse mesmo lado dramático acentuado pelos pais não é correspondido em seu outro ponto de vista, no caso o menino, que por mais que tenha companhia, não parece e nem é intimidado em nenhum momento pela situação – o que faz até sentido pensando numa mentalidade infantil de curiosidade, o quão massa seria ter um país inteiro a se explorar com um amigo.

A narrativa em si passeia por várias locações e pontos japoneses de um modo despretensioso e com uma facilidade que é inegavelmente incômoda para uma aventura que tenta ser dramática também. Os possíveis percalços de segurança de locais como a estação de trem e as praças públicas são desviados sem qualquer desafio, fora a inexistência de uma preocupação dramática para o filho do casal de japoneses que encontra o menino desaparecido. Dá a impressão de que o filme normatiza o abandono infantil na cultura local no disfarce de uma autodependência precoce dos japoneses que nunca é devidamente contextualizada, porque o caminho precisa ser facilitado às crianças no prolongamento do passeio. Não se tem o contexto também para a possível motivação de autoridades que perseguiram os protagonistas a fim de prendê-los, quando na verdade buscavam o resgate do menino.

Então as crianças fogem várias vezes de uma grande incompetência física por parte das autoridades, conferindo ainda mais inverossimilhança à história. O que carrega nossa atenção é a dupla mirim, que apesar de não tão bem interpretada, possui uma química comprável para o gancho da história funcionar. As interações entre eles rendem os melhores momentos do longa, uma vez que utilizam inocências de diferentes culturas em choque para colaborarem e aprenderem um com o outro. Tratando-se de um filme norte-americano, não é tão incômodo a conveniência tremenda de a criança japonesa na década de 50 – e não parte da elite – saber um inglês até mais fluente que o próprio menino americano, porque esse fator acaba não fazendo diferença para a fortificação da química que vai crescendo através das situações.

Há um determinado momento em que o filme flerta com uma separação entre eles, logo no início, e só essa ameaça já é suficiente para sentirmos a pouco lembrada angústia que deveria ser pontualmente retomada no filme. Infelizmente, é só um pequeno susto, e no geral, a narrativa se mantém numa zona confortável, só indo para algo mais tenso no ato final. Uma tensão desnecessária porque sabemos que as autoridades não estão ali para fazer mal às crianças, como já foi dito. E para elas entenderem isso o filme enrola bastante, o que deixa uma clara sensação de que a narrativa poderia ter se resolvido de outra forma, várias outras vezes, em quase todas as cenas de transição das crianças para um novo local, por exemplo.

Entendo que é para ter um momento climático, e a nível de aventura, a ótima trilha sonora ajuda a construir essa grande escala para uma situação pequena, mas ela não é suficiente para nos convencer de que poderia ter sido resolvida de um outro e mais fácil jeito, evitando uma situação de risco que sabemos que não iria dar em nada pela fraqueza dramática da condução do restante. Ainda é divertido pelo passeio cultural, mas igualmente superficial nesse e em todos os outros sentidos.

Torturados Pela Angústia (Escapade in Japan | EUA, 1957)
Direção: Arthur Lubin
Roteiro: Winston Miller
Elenco: Teresa Wright, Cameron Mitchell, Jon Provost, Roger Nakagawa, Philip Ober, Kuniko Miyake, Susumu Fujita, Katsuhiko Haida, Tatsuo Saitô, Clint Eastwood
Duração: 93 minutos

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