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Crítica | Traição (2012)

Um Verhoeven que não é Verhoeven.

por Ritter Fan
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Traição é um dos dois filmes que resultaram de um programa de televisão holandês que tinha como objetivo acompanhar o processo coletivo de criação de obras audiovisuais por dezenas de participantes (o chamado user-generated content, ou “conteúdo gerado pelo usuário”). Basicamente um reality show de produção cinematográfica que levou a dois telefilmes de média metragem de ficção, um deles com o roteiro co-finalizado e dirigido por ninguém menos do que Paul Verhoeven. Em outras palavras, trata-se de uma obra que tem todo o jeitão de experimental.

Mas não interpretem a expressão “obra experimental” como algo hermético, difícil de entender ou diferentona, pois Traição não tem absolutamente nada disso. É um filme bastante comum até, inclusive bem aquém da qualidade usual das obras de Verhoeven, já que falta aquela sutileza ferina do cineasta que, aqui, não faz mais do que o mínimo para uma obra que tem toda a cara de um capítulo de série de TV. A fotografia e o estilo do média metragem já também “denunciam” sua natureza de telefilme de baixo orçamento, o que não é, por outro lado, algo necessariamente ruim.

A história lida com uma família disfuncional com foco no patriarca Remco (Peter Blok) que, no dia de sua festa de 50 anos, descobre que Nadja (Sallie Harmsen), sua ex-amante que vivia há seis meses no Japão, está grávida e possivelmente dele. Entre sua esposa complacente Ineke (Ricky Koole), sua filha viciada em álcool e em drogas Lieke (Carolien Spoor), seu filho Tobias (Robert de Hoog), apaixonado por Merel (Gaite Jansen), por sua vez melhor amiga de Lieke e sua amante atual, além de parceiros de negócio que não são flores que se cheiram, a confusão está armada para que o experimento seja uma sucessão de “traições” ou “engodos” como o títulos em português deixa bem claro.

O roteiro, apesar de não ser exatamente humorístico, mantém o espírito leve que pode ser encontrado em sitcoms americanas, com atuações do elenco que são boa para este específico propósito, com especial destaque para Peter Blok que parece uma versão mais sisuda e preocupada de Al Bundy, de Um Amor de Família. Ricky Koole, como a esposa traída, também funciona bem com seus olhares de sapiência combinados com frustração que leva a uma boa consequência – e, por conseguinte, a lição de moral – nos últimos segundos da obra.

Como um episódio de TV de uma série que não existe, se pudermos fazer essa abstração, Traição é bom e divertido, como média metragem independente, feito para a televisão, ele carece de substância e se torna bastante genérico, ainda que sua duração torne fácil sua absorção. No entanto, como filme de Paul Verhoeven, ele é um ponto completamente fora da curva, potencialmente uma decepção, e não por ele ser muito ruim, pois não é, mas sim porque ele simplesmente não tem quaisquer das marcas do diretor, que mais parece trabalhar completamente no automático para cumprir tabela, o que não deve ser muito distante da realidade considerando a estranha história de sua produção.

Traição (Steekspel – Holanda, 2012)
Direção: Paul Verhoeven
Roteiro: Kim van Kooten, Paul Verhoeven, Robert Alberdingk Thijm
Elenco: Peter Blok, Robert de Hoog, Sallie Harmsen, Duy Huynh, Gaite Jansen, Ricky Koole, Carolien Spoor, Jochum ten Haaf, Pieter Tiddens, Ronald van Elderen, Ab Zagt
Duração: 55 min.

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