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Crítica | Trog, o Monstro da Caverna

por Ritter Fan
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Trog, o Monstro da Caverna foi um dos filmes mais aterradores de minha infância, responsável por diversas noites em claro em razão da terrível criatura pré-histórica que milagrosamente é descoberta viva por três espeleólogos amadores em uma caverna no interior da Inglaterra. Décadas depois, revendo o filme para escrever a presente crítica, meu terror foi ainda maior, mas por razões completamente diferentes.

Meu terror veio, primeiro, por não entender como alguém, em sã consciência, pode ter aprovado um roteiro desses. Depois, ele continuou por constatar  o quanto é ridícula a caracterização deste elo perdido entre símios e humanos feita com uma “semi-fantasia de macaco” usada por Joe Cornelius em que os braços, as pernas e o tórax do bicho são mantidos 100% humanos, como se o ator tivesse se esquecido de vestir o restante. O terror veio também ao descobrir que a protagonista – além de Trog – é ninguém menos do que Joan Crawford, em seu último papel cinematográfico. E, claro, o terror veio ao perceber o quão vergonhoso é alguém sentir medo desse filme, sejam com que idade for.

Este é um daqueles filmes que o espectador assiste de queixo caído, incapaz de entender como, dois anos antes, o mundo deparara-se com os sensacionais 2001 – Uma Odisseia no Espaço e O Planeta dos Macacos com trabalhos de próteses símias sem igual e, aqui, a criatura do título é inacreditavelmente hilária, daquelas que nunca permitem qualquer semblante de imersão na narrativa. Outra coisa que traz estupefação é um roteiro que tinha assuntos de sobra para lidar, como o conflito entre ciência e religião, entre ciência e intolerância e a incapacidade humana de aceitar aqueles que são diferentes resultar em um apanhado de situações jogadas de qualquer jeito no papel por Aben Kandel, em seu penúltimo trabalho, que com certeza ficaria melhor se o próprio Trog tivesse escrito.

E o que dizer do vilão da fita? Michael Gough, conhecido mais recentemente por ter vivido o Alfred da quadrilogia do Batman iniciada em 1989, vive um sujeito asqueroso chamado Sam Murdock que deveria representar o verdadeiro “monstro”, mas que, na verdade, acaba sendo um personagem caricato, sem qualquer semblante de desenvolvimento e sem qualquer motivação minimamente construída ao longo do roteiro que, claro, quer destruir a criatura, como se o destino de uma descoberta científica dessa magnitude fosse ficar na dependência do que um empresáriozinho misógino de uma cidadezinha bucólica no meio do nada com coisa nenhuma.

Aliás, falando em ciência, é inacreditável a anti-ciência que é essa pérola do Cinema. Não que eu esperasse algo realista ou que seguisse explicações científicas de fazer a cabeça explodir de tão mirabolantes. Mas eu também não esperava a mais completa idiotice imbecilizante que é o desfile de sandices desmioladas que passam pela tela. De experiências com brinquedos, passando por intervenções cirúrgicas que caem de paraquedas e que levam ao despertar de memórias impossíveis, até uma explosão de violência que não tem uma sequência que leve logicamente à outra, Kandel cria uma aberração narrativa que, em conjunto com a direção quase amadora de Freddie Francis (por incrível que pareça, ele é um ótimo diretor de fotografia, com trabalhos em Os Inocentes, O Homem Elefante e o Cabo do Medo de Martin Scorsese), até consegue desviar a atenção do espectador da patética prótese símia. O problema é que dá vontade de renegar completamente o evolucionismo se isso significar que Trog é nosso antepassado…

Sei muito bem que memória afetiva é um problema é que é melhor deixar quietas aquelas obras que os recônditos nostálgicos da mente etiquetaram indelevelmente como “boas”, mas confesso que essa foi a primeira vez que um filme desses consegue ultrapassar todos os níveis de desapontamento possíveis, inclusive a confortável barreira do “é tão ruim que é bom”. Trog, o Monstro da Caverna, sinto afirmar, jamais deveria ter sido colocado em celuloide, nem mesmo como uma brincadeira de mau gosto. Definitivamente um terror de todas as maneiras possíveis, menos a pretendida.

Trog, o Monstro da Caverna (Trog, Reino Unido – 1970)
Direção: Freddie Francis
Roteiro: Aben Kandel (baseado na história original de Peter Bryan e John Gilling)
Elenco: Joan Crawford, Michael Gough, Bernard Kay, Kim Braden, David Griffin, John Hamill, Thorley Walters, Jack May, Geoffrey Case, Robert Hutton, Simon Lack, David Warbeck, Chloe Franks, Maurice Good, Joe Cornelius
Duração: 93 min.

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