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Crítica | Tudo Acaba Bem com as Corujas Também (Meg Langslow #6), de Donna Andrews

Assassinato em uma feira de garagem.

por Luiz Santiago
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Esta é a segunda piadinha titular que a escritora Donna Andrews faz em sua série Mistérios de Meg Langslow. No livro anterior a este, a autora fez uma brincadeira com a frase “nós sempre teremos Paris“, proferida em um famoso diálogo do filme Casablanca (1942). Aqui, ela brinca com o título de uma peça de Shakesperare, composta por volta de 1601: Tudo Bem Quando Termina Bem (All’s Well That Ends Well), também conhecida em português por Bem Está o que Bem Acaba. Esse título, que acabaria tornando-se um ditado popular inglês, basicamente quer dizer que “um final feliz compensa tudo o que aconteceu antes“, ou seja, as tristezas do caminho acabam não tendo tanta importância se o desfecho da situação é bom.

Publicado em 2005, Tudo Acaba Bem com as Corujas Também (Owls Well That Ends Well) é o sexto livro desta saga de cozy mysteries com nomes de pássaros, desta vez, trazendo uma feira de garagem onde acontece o assassinato que será indiretamente investigado pela bisbilhoteira Meg Langslow. Ela e seu namorado Michael compram uma casa bem antiga, numa propriedade rural de Caerphilly, Virginia, e colocam à venda as toneladas de coisas que a antiga proprietária acumulava. Como já é de praxe nessa série, o evento reúne um número grande de personagens (tanto da família Langslow quanto de visitantes externos, amigos e curiosos) e isso faz com que o leitor tenha uma boa quantidade de suspeitos, ao mesmo tempo que se diverte com as situações que se sucedem ao longo das páginas envolvendo muitas dessas pessoas.

As corujas do título possuem um papel notável na trama, e embora não recebam uma citação mais orgânica no desfecho, conseguem protagonizar momentos bem humorados e até mesmo de tensão e terror, como a cena em que um “corujão de chifres” aparece no celeiro, à noite, após o pai de Meg ser amarrado por um dos suspeitos de ter assassinado o odiado Gordon McCoy, dono do Antique and Junque Emporium; um comerciante de livros raros e antiguidades em geral. O Dr. Langslow forma um grupo de apoio às corujas (o “Parem de Envenenar Nossas Corujas e Raptores”, ou SPOOR, em inglês) e as cenas em que ele analisa as bolotas de material não digerido e regurgitados pelas corujas-de-igreja (suindaras) que moram no grande celeiro da propriedade são tão engraçadas e tão distrativas, que muitas vezes eu me peguei pensando o quão seria maravilhoso um spin-off com o pai de Meg vivenciando uma trama de mistério e sendo o protagonista da investigação.

Típico dos cozy mysteries, o humor é um dos elementos mais bem trabalhados pela autora aqui, mais até que uma linha investigativa ou maiores detalhes a respeito do assassinato. Particularmente, me diverti quando os personagens começaram a citar coletivos de animais, reais ou inventados, ligando-os às conversas que dominavam a mesa na manhã em que a feira de garagem se iniciaria. É então que lemos sobre parlamento de corujas, murmuração de estorninhos, reunião de cegonhas ou exaltação de cotovias; cada animal e cada situação de coletivo representando uma piadinha de Meg, seu pai ou seu irmão para a grande quantidade de acontecimentos que já se acumulavam naquelas poucas horas do dia. O leitor se diverte tanto no início, que nem percebe como o assassinato demora um tantinho para acontecer.

Um dos possíveis motivos para o assassinato do odiado “Gordon-ladrão” teria sido uma cópia rara do livro The Uttermost Farthing, de R. Austin Freeman, mas este não seria o único. Um certo professor e estudioso de uma poetisa plagiadora chamada Ginerva Breankenridge Pruitt talvez queira esconder, com esse assassinato, alguns documentos que provam a farsa da escritora. Ou talvez a ex-mulher de Gordon queira tomar posse de todos os bens que ele tinha. Ou ainda, o antigo parceiro comercial da vítima queira se vingar do que aconteceu no passado e ganhar alguma vantagem no presente. São possibilidades que Meg encontra ao longo de sua investigação, às vezes acompanhadas de confissões tardias e envergonhadas que me lembraram muito O Terceiro Tiro, uma vez que ninguém parece ter deixado o pobre do morto parado por muito tempo em um lugar só.

Uma queixa constante que eu tenho em relação aos livros da série é que a autora poderia muito bem cortar o tamanho de alguns capítulos transversais, que falam de coisas que não têm diretamente a ver com o assassinato. Em Tudo Acaba Bem com as Corujas Também, existem muitos desses capítulos e blocos narrativos. Eles acabam sendo divertidos e nos distraem, mas o livro fluiria muito melhor se essas linhas paralelas de drama fossem encurtadas. O final também merecia um tratamento mais cuidadoso. A constatação sobre o assassino, a revelação, e tudo o que acontece no livro após isso me pareceu um pouco atrapalhado e acompanhado de informações reticentes. Não que seja um encerramento ruim em qualidade, mas ele seria muito mais claro se tivesse informações completas e diretas sobre os personagens e, claro, sobre as corujas. Em termos de andamento canônico, parece que Meg está deixando o seu medo de compromisso de lado, e deve assumir de vez a relação com Michael, aceitando casar-se com ele. Além disso, algumas frases que falam de alterações de humor e apetite da personagem me fazem suspeitar que ela, na verdade, esteja grávida. Será que a família está para aumentar?

Mistérios de Meg Langslow – Livro 6: Tudo Acaba Bem com as Corujas Também (Meg Langslow Mysteries – Book 6: Owls Well That Ends Well) — EUA, abril de 2005
Autora: Donna Andrews
339 páginas

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