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Crítica | Tudo Bem No Natal Que Vem

por Leonardo Campos
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O cinema brasileiro precisa muito de uma filmografia natalina para demarcar o seu território na ampliação de gêneros para consumo do atual vasto público que temos, desde as demandas das salas de cinema, modificadas face ao atual cenário pandêmico de 2020, aos materiais disponibilizados em serviços de streaming, como foi o caso da distribuição de Tudo Bem No Natal Que Vem, comédia dramática protagonizada pelo histriônico Leandro Hassum, filme que assume o seu diferencial e entrega ao público uma narrativa essencialmente brasileira, algo que o cativante Juntos a Magia Acontece já tinha feito com louvor em 2019. Os símbolos natalinos mais básicos estão todos por aqui: bolas, ceia farta, pinheiro decorado e outros elementos desta época peculiar de nosso calendário, agora sem as características estadunidenses e europeias que geralmente dominam os aspectos estéticos deste segmento de produção, isto é, neve e outros itens climáticos e culturais que em nada se identificam com os aspectos geográficos locais.

Na trama dirigida por Roberto Santucci, cineasta que firma mais uma parceria com Hassum, adentramos na história de Jorge, um homem que aprendeu a detestar o natal. Por ter nascido no dia 25 de dezembro, o seu aniversário sempre sofreu a concorrência com o período festivo. Ele conta a sua experiência na expositiva abertura, por meio de alguns flashbacks fotográficos que explicitam a sua antipatia pelos festejos em questão. Logo adiante, sabemos que ele se casou com Laura (Elisa Pinheiro), a “mulher de sua vida”, pessoa que conseguiu fazê-lo suportar um pouco mais a época tão indesejada. Apaixonada pelo feriado, ela e os filhos amam o clima natalino, enquanto Jorge detesta “muito tudo isso”. Também pudera: ele é quem vai comprar os presentes, organizar as coisas exteriores ao jantar, tudo isso no verão escaldante do Rio de Janeiro, em meio aos engarrafamentos constantes e ao estresse das lojas lotadas e filas gigantescas. O trabalho mais pesado é dele, por isso, acresceu a antipatia ao tal “momento”.  Após um acidente na noite de 24 de dezembro de 2010, um loop constante vai tornar a sua vida um ciclo interminável de festejos natalinos com direito a confusões, idas e vindas em seu casamento, a nefasta piada do “pavê” na ceia, dentre outros momentos divertidos.

Diante do exposto, teremos uma virada no roteiro de Paulo Cursino, algo que toma de empréstimo sem nenhum problema, elementos de filmes conhecidos do estadunidense Adam Sandler, ator associado ao ator Leandro Hassum, aparentemente a “nossa versão” do comediante em território nacional. A comparação que viralizou na internet recentemente foi recebida como elogio, comentada nas redes sociais do brasileiro. Traços de Click, Como Se Fosse a Primeira Vez e Esposa de Mentirinha estão no desenvolvimento de Tudo Bem No Natal Que Vem. Os aspectos infantis, as piadas sem tons muito ofensivos, o clima de retrospectiva da vida e a busca por reencontrar a razão de viver estão no centro nervoso da história que é executada como uma comédia desvairada, mas possui tons dramáticos bem pontuais e possíveis de arrancar lágrimas de alguns mais emotivos e delicados. Em seus 101 minutos, encontramos mensagens sobre a suposta força renovadora do natal, a gratidão aos familiares que podem guerrear dentro de casa, mas muitas vezes são aqueles com quem podemos contar, etc.

Além da mensagem edificante, Tudo Bem No Natal Que Vem consegue dar conta de seus aspectos estéticos com muito esmero. A direção de fotografia de Julio Constantini aproveita o melhor da direção de arte bastante imersiva de Rafael Targat, engrandecida também pelos poucos, mas funcionais efeitos visuais supervisionados por Luciano Cequinel. As mudanças temporais devidamente explicitadas nas paletas dos diferentes momentos históricos na vida da família de Jorge demonstram uma busca por esquemas narrativos burocráticos, mas que funcionam e não estragam a narrativa, sendo assim, se portam como escolhas que acabam valendo. Destaque para a sogra Theodora, interpretada pela ótima Louise Cardoso, e a “antagonista” de Danielle Winits, burlesca, mas interessante em alguns pontos. Ademais, os exageros na atuação de Leandro Hassum podem incomodar os mais exigentes, mas convenhamos, a proposta do filme pede um desempenho dramático dentro do estilo desempenhado pelo ator, figura que até então era neutra em meu feixe de opiniões sobre cinema. Acabou se tornando cativante, mesmo que excessivo demais em determinados momentos.

Tudo Bem No Natal Que Vem (Brasil – 2020)
Direção: Roberto Santucci
Roteiro: Paulo Cursino
Elenco: Arianne Botelho, Danielle Winits, Elisa Pinheiro, Giselle Lopes, José Rubens Chachá, Leandro Hassum, Levi Ferreira, Lola Fanucchi, Louise Cardoso, Miguel Rômulo, Rodrigo Fagundes
Duração: 100 minutos

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