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Crítica | Tudo é Justo (All’s Fair) – 1ª Temporada

Mulheres representam mulheres.

por Felipe Oliveira
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Mesmo sendo conhecido por uma série musical e por uma longínqua antologia de terror, se observarmos, toda premissa inusitada que Ryan Murphy propõe ele consegue levar para TV. Pode ser a coisa mais desastrosa possível ou um derivado de American Horror Story — desprovido de qualidade — mas o roteirista, produtor e diretor sempre surge com uma criação ambiciosa que terá seu toque de exagero para levar a história adiante. Quando se fala de Tudo é Justo, o ponto mais chamativo não está na trama sobre um grupo de advogadas de divórcio que deixam um escritório liderado por homens para abrir a própria firma, e sim no elenco que conta com Kim Kardashian, Glenn Close e Naomi Watts. O que esperar dessa série que promete exalar poder, mas também ser extravagante ao mostrar o universo feminino no campo da advocacia?

Imagine um encontro entre The Bold Type e Sexy and the City, mas ao invés de um grupo de amigas que trabalham para a maior revista de Nova York e os dilemas dos romances contemporâneos discutidos por cinco mulheres brancas temos uma espécie de “como sair vitoriosa do seu divórcio com homens tóxicos” com a melhor firma comandada por mulheres na grande Los Angeles. Junto à aposta no protagonismo de Kardashian, a nova queridinha do Murphy, All’s Fair, quer, de fato, dizer algo ao surgir como uma série protagonizada por mulheres no meio judiciário. Longe de ter o impacto do programa estrelado por Sarah Jessica Parker ou influência narrativa de Desperate Housewives, o autor quer ter um show feminino para chamar de seu, mas até para o selo Ryan Murphy de qualidade, Tudo é Justo fica muito abaixo na média.

Esse plano ostentação da série vai por água abaixo com menos de dez minutos, o mesmo tempo que o primeiro episódio leva para resumir o núcleo principal que leva a Allura (Kardashian), Liberty (Watts) e Emerald (Niecy Nash-Betts) a, com a benção de Dina (Close) abrirem sua própria firma, e atrair o furor da sua concorrente Carr (Sarah Paulson), que foi deixada de lado. É muito interessante como que, de todas as ideias e caminhos que Tudo é Justo poderia seguir para convencer da sua premissa, Murphy, Jon Robin Baitz e Joe Baken escolhem sempre o pior. Se fôssemos avaliar de maneira isolada, os primeiros cinco minutos renderia ao equivalente a um episódio piloto o qual teria preparado o terreno que a série exploraria, mas ao contrário disso, a série abre como uma grande propaganda introdutória a paródia sobre o universo caótico do divórcio, e a sacada nisso tudo é por conta com duas atrizes veteranas do cinema no elenco e Kardashian sendo aclamada dentro e fora da ficção.

Entre o glamour e o sarcasmo conhecidos do estilo de Murphy, é fascinante como conseguem estragar a união mais inesperada de estrelas do que o elenco dos filmes do MCU e transformar o oportuno momento numa piada colossal perdida no próprio exagero. Se alguém estava preocupado que a ascensão e elogios a Kardashian poderia ofuscar o resto do cast assim como roubou American Horror Story – Delicate para si, aqui todas atuam como se fossem receber uma indicação ao Emmy graças a performance exagerada e estereotipada do que seria esse olhar masculino sobre o universo do divórcio para as mulheres. Nenhuma  deste elenco de peso está interpretando uma personagem e sim esbanjando uma caricatura, com direito a troca de perucas e looks chiquérrimos a cada novo take e atuações que gritam o tempo todo como elas são gigantes, irmandade babadeira, amizade inabalável e acima de tudo, são mulheres independentes que apoiam mulheres.

Se as tramas absurdas e os plots não conversam entre si, ou Glenn Close não quis brincar de Patty Hewes, quem mais tira de letra dessa oportunidade única que só Murphy concederia é Paulson. Exagerada, sarcástica e infeliz, ela faz de Carr como se fosse o papel de sua carreira, o maior ato de todos os seus trabalhos e faz disso abraçando o absurdo do roteiro extravagante que pediu ao comando da IA para escrever uma versão com mulheres advogadas misturado a Cinquenta Tons de Cinza, Sex and the City, The Bold Type, inserir piadas aleatórias sobre a cultura pop na tentativa de fazer uma série dramática com humor ácido e então lançar o Todo Mundo em Pânico 5 da TV. Não importa se a crítica especializada detestou a nova sacada de Murphy, pois o que o público precisava era uma nova série tão mal escrita e desenvolvida para poder passar o tempo, e não há nada de injusto nisso.

Tudo é Justo (All’s Fair – EUA – 2025)
Criação: Ryan Murphy, Jon Robin Baitz e Joe Baken
Direção: Anthony Hemingway, Uta Briesewitz, Crystle Roberson Dorsey, Ryan Murphy
Roteiro: Ryan Murphy, Jon Robin Baitz e Joe Baken, Lynnie Greene, Richard Levine, Jamie Pachino
Elenco: Kim Kardashian, Naomi Watts, Niecy Nash-Betts, Glenn Close, Sarah Paulson, Teyana Taylor, Matthew Noszka, Ed O’Neill, O-T Fagbenle, Tamara Taylor, Lorraine Toussaint, Jason Butler Harner, Hari Nef, Judith Light, Jemarcus Kilgore, Ezra Greene, Jennifer Morrison, Jennifer Jason Leigh, Brooke Shields, Grace Gummer, Jessica Simpson, Elizabeth Berkley
Duração: 9 episódios (54 a 44 min, cada)

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