Morgan (James Spader) está em um novo colégio no subúrbio de Los Angeles. Após falência dos negócios de sua família, sua condição de vida muda bruscamente, levando-o a se deparar com nova realidade. Contudo, novos desafios não são uma questão para ele. Nova escola, novos problemas, esse parece ser o lema desse herói problemático. Com pouco tempo de vizinhança, se mete em inúmeras confusões e no colégio, prestes a terminar o ensino médio, se envolve em contratempos com a gangue local, com os moleques-problema do terceirão, o fazendo criar inimigos que vão para além dos muros da instituição. Esta sinopse faz parecer que a trama descrita soe infantil demais ou mesmo desprovida de seriedade, fato é que, embora este seja um drama de amadurecimento, as brigas e as mortes não são nada triviais e diria até que a direção pesa a mão em determinados momentos.
Uma película que é esteticamente embebida pela ideia dos anos 80, Tuff Turf trabalha com toda a mise-en-scène, o figurino, a maquiagem e a trilha sonora de modo que remarque o seu período. Tudo ressoa muito oitentista do início ao fim e isso oferece singularidade ao enredo. Assim, o filme se prende a estabelecer uma trama diurna e não noturna, possibilitando um realce das qualidades estéticas que caracterizam a sua imagem. Talvez a beleza imagética seja o aspecto mais positivo da trama.
Este é um drama de coming of age e seus personagens estão em busca de amadurecimento, o que implica, necessariamente, na descoberta de novas coisas, de modo que grandes temáticas clássicas que aparecem em voga no gênero estão trabalhadas aqui. A trama aposta como motor de enredo num contraste social entre o jovem rico e o pobre (Paul Mones) que se digladiam o tempo inteiro pela mesma garota (Kim Richards), que, por sua vez, não sabe o que quer. A propósito, a personagem feminina é a grande chave de interpretação da película, uma vez que tudo se desenrola a partir da sua figura, mesmo que ela seja absolutamente sem graça e suas motivações, débeis.
O roteiro opta por um modelo dicotômico de ‘herói e vilão’ para se estabelecer em seu esqueleto textual e vai criando uma trama óbvia em que um precisa superar o outro, ganhar a garota e triunfar no final. O roteirista Jette Rinck pesa a mão nos momentos finais e a trama perde sua característica de verossimilhança ao introduzir cenas excessivamente violentas com malabarismos mirabolantes para garotos com 17 anos que, a princípio, só querem curtir a vida. Não combina, de fato, a violência armada ao fim e a insistente resistência de Nick Hauser em se levantar mesmo sendo duramente golpeado inúmeras vezes me pareceu fora de cogitação. As atuações desses personagens são excessivamente performáticas, o que dá um toque de superficialidade aos movimentos.
Os dramas familiares, que refletem a rebeldia dos heróis problemáticos, são mal interpretados e era preciso de muito mais em termos de verossimilhança para que o impacto dessas questões pudesse atingir o público como um problema fundamental da trama. Do modo que coloca, não o é. Fica tudo muito anêmico no todo, aguado mesmo. Entrete, mas não cativa. O filme parece ser descartável após algumas horas assistidas. A solução encontrada para o desenlace da intriga é também algo facilitado por uma estrutura textual que dá o óbvio aos seus personagens e os interconecta com um final feliz boboca, sem arranjo nem criatividade alguma. Ainda Robert Downey Jr aparece em cena no papel de Jimmy Parker e há um bizarro shot fílmico enfocando um muro pichado escrito “The New Avengers” que soa como um easter egg.
Bom, Tuff Turf é muito rebelde na sua proposta e vai ao limite na sua ideia de jovens delinquentes que invadem a cidade para aprontar. No entanto, o enredo é profundamente afetado por um texto ruim, uma construção de personagem debilitada e motivações fílmicas inverossímeis. Salva-se pelo valor afetivo de uma época, sendo mesmo uma caricatura da década de 80, mas não oferece absolutamente nada de memorável em termos de cinematografia. E fica por isso mesmo.
Tuff Turf: O Rebelde (Tuff Turf, Estados Unidos, 1985)
Direção: Fritz Kiersch
Roteiro: Greg Collins O’Neill, Murray Michaels, Jette Rinck
Elenco: James Spader, Kim Richards, Paul Mones, Matt Clark, Claudette Nevins, Robert Downey Jr, Olivia Barash, Catya Sassoon.
Duração: 112 min.