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Crítica | Túnel do Tempo – 1X01: Volta ao Passado

Um clássico atemporal!

por Ritter Fan
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 01
Número de episódios: 30
Período de exibição: 09 de setembro de 1966 a 07 de abril de 1967
Há continuação ou reboot?: Não.

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Sei que o adjetivo gênio é tão usado por aí, que ele já até perdeu boa parte de seu significado e importância. Mas não tem jeito: Irwin Allen era um gênio. O filho de imigrantes russos judeus nascido em Nova York que se mudou para Los Angeles em 1938 e galgou com enorme sucesso cada um dos degraus do mundo do entretenimento – rádio, cinema, televisão – deixou um legado audiovisual que não é menos do que impressionante. No Cinema, ele marcou os anos 60 com a produção, roteiro e direção de O Mundo Perdido, Viagem ao Fundo do Mar e Seis Semanas num Balão e basicamente inventou o subgênero do filme de desastre ao produzir O Destino do Poseidon e Inferno na Torre nos anos 70. Na televisão, ele revolucionou as séries de ficção científica com uma estirada de obras que marcaram época e que permanecem vivas no imaginário popular até hoje: Viagem ao Fundo do Mar (baseada em seu filme homônimo), Perdidos no Espaço, Túnel do Tempo e Terra de Gigantes, todas as quatro formando um tradicional “pacote” na televisão aberta brasileira em priscas eras.

Dessas quatro inesquecíveis séries, Túnel do Tempo é ao mesmo tempo a com o conceito mais fascinante e a que teve vida mais curta, não passando de 30 episódios e apenas uma temporada, apesar de uma audiência forte no complicado slot da sexta-feira, sendo cancelada sem um final em razão da notícia abrupta que veio a reboque de uma escolha equivocadíssima da ABC em focar seus esforços em uma série sobre a polêmica (hoje em dia) figura do General Custer. Em resumo, a premissa da série criada por Allen é a mesma de Perdidos no Espaço, trocando “espaço” por “tempo”, com duas pessoas, o Dr. Douglas “Doug” Phillips (Robert Colbert), líder de uma gigantesca equipe que desenvolve secretamente tecnologia de viagem no tempo e o Dr. Anthony “Tony” Newman (James Darren), principal cientista do experimento, apesar de sua juventude, que entram no literal túnel do tempo e não conseguem mais sair do vórtex temporal, pulando de época em época, para trás e para frente no tempo.

O gatilho para que o “acidente” ocorra no primeiro episódio, intitulado Rendezvous with Yesterday (ou Encontro com Ontem, em tradução direta) e, no Brasil, simplesmente Volta ao Passado, é a investigação do senador Senador Leroy Clark (Gary Merrill) sobre os gastos exorbitantes do Projeto Tic-Toc, como foi batizado, sem que tenha havido qualquer evolução palpável. Sob ameaça de ter seu orçamento cortado, Tony, contra a indicação expressa de todos, espera uma hora erma e ativa o túnel do tempo e lá adentra, indo parar em 1912 dentro do Titanic nem dois dias antes do fatídico momento em que o navio abalroa um iceberg. Como parte da operação de resgate, eis que Doug decide ir atrás do amigo, com a equipe no presente tentando trazê-los de volta, mas só conseguindo salvá-los no último segundo transportando-os para algum outro lugar no espaço-tempo (no caso, o espaço é dentro de um foguete indo para Marte e o tempo é o futuro para a série, 1978), servindo de cliffhanger para o episódio seguinte e assim sucessivamente.

A premissa conhecida, mas com esse twist temporal e a possibilidade de se visitar literalmente qualquer lugar, em qualquer tempo, faz de Túnel do Tempo uma série absolutamente deliciosa, mesmo que, claro, como era comum na época, a estrutura é o tradicional “casos da semana” ou “espaço-tempo da semana”, sempre com Doug e Tony chegando momentos antes de alguma situação calamitosa que eles precisam se virar para resolver – curiosamente sem se preocupar muito com mudar o futuro, já que a primeira coisa que Tony faz ao chegar no Titanic é tentar impedir o acidente -, nunca pousando em cambalhotas em câmera lenta (clássico!) em algum campo idílico em um ano sem grandes acontecimentos. É a televisão americana sessentista de ficção científica em um de seus exemplares mais inesquecíveis.

O curioso e especial de Volta ao Passado é que ele é um episódio cuidadosamente feito para deixar muito evidente ao espectador a grandiosidade da coisa toda. A série não chegou a ser a mais cara de Allen, pois essa “honra” fica com Terra de Gigantes, mas o orçamento do piloto de Túnel do Tempo deve ter sido comparativamente astronômico. Afinal, nele – e só nele – o espectador ganha um tour pelas instalações subterrâneas do Projeto Tic-Toc, com muito uso de efeitos práticos, especialmente jogo de câmera, pinturas matte para estabelecer a profundidade dos “800 andares” (!!!) para debaixo da terra, o uso extensivo de cenários grandiosos, variados e detalhados para o Titanic, além de um número generoso de extras como os passageiros e tripulantes desesperados (alguns não tanto, pois é hilário ver rostos impassíveis em meio ao caos) e assim por diante. Trata-se do típico episódio que serve de isca, pois os demais são bem mais acanhados, com cenários normalmente menores, apenas meia dúzia de extras e as instalações do Projeto Tic-Toc se limitando ao espaço imediatamente em frente à espiral do túnel do tempo. Mas faz parte do jogo, claro, jogo esse que deu muito certo mais uma vez, com a série só sendo cancelada pela estupidez da ABC que mencionei mais acima.

Irwin Allen realmente merece todos os elogios por transformar o simples em espetáculo, algo que é amplificado ainda mais pela trilha sonora composta por ninguém menos do que um jovem – à época – chamado Johnny Williams que já havia composto a música-tema de Perdidos no Espaço e que retorna para outra tão boa quanto, dois anos antes de sua primeira indicação ao Oscar de Melhor Trilha Sonora, por O Vale das Bonecas. Sem dúvida alguma, apenas mais um sinal da genialidade de Allen, capaz de, ele mesmo, revelar outros gênios. Túnel do Tempo teve vida breve, mas o tempo mostrou o quão atemporal a obra é.

Túnel do Tempo – 1X01: Volta ao Passado (The Time Tunnel 1X01: Rendezvous with Yesterday – EUA, 09 de setembro de 1966)
Criação e desenvolvimento:
 Irwin Allen
Direção: Irwin Allen
Roteiro: Shimon Wincelberg, Harold Jack Bloom (baseado em história de Irwin Allen)
Elenco: James Darren, Robert Colbert, Whit Bissell, John Zaremba, Lee Meriwether, Gary Merrill, Susan Hampshire, Michael Rennie
Duração: 50 min.

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