Home LiteraturaAcadêmico/Jornalístico Crítica | Tutto Fellini, de Sam Stourdzé

Crítica | Tutto Fellini, de Sam Stourdzé

por Luiz Santiago
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Tutto Fellini é um livro curioso. Publicado no Brasil em 2012, por uma parceria entre as Edições Sesc São Paulo e o Instituto Moreira Salles, a obra chegou por aqui na esteira da exposição que dá título ao volume (no original, Fellini, la Grande Parade) que ocorreu entre março e junho de 2012 no IMS-RJ e de julho a setembro no SESC Pinheiros (SP).

Concebido por Sam Stourdzé, este catálogo tem por objetivo explorar, numa linha de organização temática, a vida e a obra do cineasta Federico Fellini, que aqui acompanhamos através de quatro blocos diferentes de conteúdo: A Cultura Popular, Fellini em Ação, A Cidade das Mulheres e A Invenção Biográfica. Em cada um desses blocos temos um número muito grande de fotos, jornais, cartazes originais dos filmes do diretor e alguns de seus desenhos que nos fazem conhecer seus sonhos e explicam fases de sua produção artística, de Abismo de um Sonho até A Voz da Lua.

É importante que o leitor saiba que está diante de um catálogo, ou seja, os textos não são extensos, mas possuem um cuidado bem grande do curador ao apresentar para o público detalhes que abarcam a saída de Fellini de Rimini, sua cidade natal, e chegam à cerimônia do Oscar Honorário concedido ao diretor em 1993. Ou seja, quando passamos da introdução, que é o lugar do volume onde temos mais texto (e que infelizmente é construído com trechos daquilo que leremos novamente no interior do livro, um dos poucos pontos negativos aqui), teremos diante de nós um vasto material imagético amparado por informações breves, mas não superficiais. O oposto de Film Noir, de Alain Silver e James Ursini, que em essência carrega a mesma proposta, mas que pouco ou nada de novo traz para o leitor, apenas sinopses estendidas dos filmes, sobrando de verdadeiramente notável no livro, as fotografias.

Uma coisa que me chamou bastante a atenção foi o foco que o autor deu a Cidade das Mulheres em praticamente metade do texto introdutório do catálogo. Abordando elementos psicanalíticos, a ligação desse filme com a fase de leitura e discussão de Jung pelo diretor e mais uma série de comparações artísticas para as feminilidades vistas neste filme — e também em Roma, e Amarcord — Stourdzé tece um pequeno estudo exclusivo em relação a La Città delle Donne, o que nos deixa um pouco confusos em relação a essa atenção pontual justamente na introdução, tirando a oportunidade de abrir o leque nesse espaço e dar ao leitor uma visão mais ampla do cineasta e sua obra para, no momento propício, em um dos blocos, mergulhar em especificidades, como de fato acontece no decorrer do livro.

Com informações muito valiosas sobre a relação de Fellini como seus roteiristas e parceiros de longa data, com a esposa Giulietta Masina, com o escritor Georges Simenon (temos aqui trechos de cartas escritas por Fellini ao amigo belga — cartas essas compiladas no livro Carissimo Simenon: Mon cher Fellini) e o quadrinista Milo Manara (que trabalhou com Fellini em duas ocasiões: Viagem a Tulum e A Viagem de G. Mastorna, Dito Fernet) e ainda a relação de longa data com Marcello Mastroianni e Anita Ekberg (explorando, inclusive, muitas coisas sobre a produção, legado e interpretações de A Doce Vida e Entrevista) o catálogo serve como uma ótima introdução para qualquer um que queira mergulhar ainda mais no Universo felliniano, e certamente trará, nem que seja na parte imagética, muitos detalhes valiosos sobre a obra do diretor. Um catálogo curto, simples, mas muito valioso.
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* Gorete, muito obrigado pelo presente!

Tutto Fellini (Fellini, la Grande Parade) — França, 2009
Autor: Sam Stourdzé
Editora original: Editions Anabet
No Brasil: Edições Sesc São Paulo e Instituto Moreira Salles (IMS), 2012
Tradução: Cecília Ciscato e Samuel Titan Jr.
182 páginas

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