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Crítica | Twin Peaks – The Return: Part 12

por Luiz Santiago
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Bom, vamos começar falando do que interessa: Audrey Horne (Sherilyn Fenn) está de volta ao show! Depois de tanta espera, a personagem volta em uma sequência que trouxe mais dúvidas e estranhamento do que alegria de a vermos mais uma vez.

Para ser sincero, acho que Lynch não foi muito bondoso com a personagem. Notem que praticamente todos os icônicos indivíduos da série dos anos 90 tiveram uma boa reintrodução nesta 3ª Temporada, com uma cena ou dentro de um contexto que nos fazia abstrair a pessoa nesta nova realidade, sem nos preocuparmos com elementos adicionais. Aqui, Audrey surge de maneira desglamourizada pela câmera e toda a sua sequência é marcada por uma inquietação e espera por algo que jamais acontece. No começo, temos um breve travelling, sem mudança de plano, passando pela atriz, e só depois vemos um bom enquadramento dela, com feição de grande insatisfação, olhando para seu marido, Charlie (Clark Middleton) e dizendo que vai atrás de Billy, alguém que está desaparecido.

Há uma linha de construção de roteiro aqui que certamente irá dividir os espectadores e esta não é uma contenda que terá certo ou errado. É apenas uma questão de preferência, porque ambos os argumentos são verdadeiros, se analisarmos bem a questão. Primeiro, os que vão achar o texto tão bem construído a ponto de nos fazer criar grande anseio para ver quem Audrey está procurando e, em última instância, quem é esta Audrey nervosa e afetada por algo que sabemos ter sido traumático para ela no passado. Não há nenhuma explicação sobre o que aconteceu com ela e sobre sua relação com Richard… temos apenas uma tensa (e estranha) sequência de espera onde estamos diante de uma personagem que conhecemos, mas não nesta configuração. Do outro lado da moeda estarão os espectadores que vêm a cena como um verdadeiro desperdício da personagem. A esta altura da temporada, colocar uma procura por alguém — até que se diga o contrário, aleatório –, justamente no momento de reapresentação de uma das principais personagens da mitologia da série não foi algo aplaudível, correto?

Para completar o caminho de estranhezas, temos Sarah Palmer (a sempre ótima Grace Zabriskie) e sua bizarra reação para “algo que está chegando”. Ou temos mais um caso de possessão ou temos uma personagem fortemente afetada pelo passado e que acabou tendo contato com as forças do Black Lodge, que dão a ela o conhecimento de que algo está para acontecer, como um radar de forças de outro mundo. Tanto a engraçada e angustiante cena do supermercado quanto a cena em que Hawk vai visitar Sarah em casa destacam isso através de ângulos mais inclinados e indicações medonhas via edição de som, especialmente na primeira vez que ela aparece. Outra coisa: vocês notaram o plano caraterístico no ventilador de teto?

As informações sobre o Projeto Blue Book e a Força-Tarefa Blue Rose vêm em primeiro lugar aqui, na melhor sequência de todo o capítulo. Mesmo que a entrada de Tammy (Chrysta Bell) não seja exatamente a coisa mais emocionante do grupo — particularmente não confio muito na personagem — toda a confidencialidade, a forma como Albert fala de OVNIs, casos encerrados e posteriormente abertos “sob outro caminho investigativo” nos traz a sempre emocionante atmosfera de Twin PeaksArquivo X e isso é excitante de se ver. Curiosamente, toda a emoção é posta quando Diane é oficialmente integrada ao time, soltando o icônico “Let’s rock!” para coroar a situação. Mais tarde, os SMS voltam a aparecer e fica cada vez mais difícil saber se ela está ou não trabalhando para o lado negro da Força. Eu me recuso a acreditar que sim.

A fala de Trick, no final, talvez indique que ele cruzara com Richard Horne na estrada, fugindo da cidade. Como ainda não entramos na seara de arrumar a casa para dar as merecidas respostas (sim, isso é muito preocupante, mas eu já cansei de reclamar do mesmo problema nas críticas, então vou apenas aceitar e esperar o que vier) não dá para saber a que bloco ele estará ligado mais à frente. Uma coisa é certa: a pesquisa de Diane no celular não foi à toa. A localização geográfica indica um afunilamento das tramas para um único lugar, Twin Peaks.

Com uma aparição de apenas alguns segundos de Dougie e Sonny Jim, este episódio 12 tentou nos esclarecer alguma coisa (que ainda não sabemos) e restabelecer alguns personagens, algo não muito necessário mas feito com grande maestria, tanto que a hora passa e nem percebemos. Como sempre, Lynch faz um grande trabalho na direção, mas o roteiro, apesar de continuar interessante pelas cutucadas no cânone, parece não querer se abrir para nós, de jeito nenhum.

Tomara que não haja mais esta repetição chateante do programa do Dr. Jacoby. De resto, só temos que esperar pelas respostas. Sinto que a série encontrou o seu nível de esgotamento de tramas de construção e apresentações. A 6 episódios do final, eu realmente espero que a linha estrutural dos roteiros comece a nos dar mais respostas e nos fazer menos perguntas.

Twin Peaks – The Return (3ª Temporada): Part 12 (EUA, 30 de julho de 2017)
Direção: David Lynch
Roteiro: Mark Frost, David Lynch
Elenco: Kyle MacLachlan, Elizabeth Anweis, Chrysta Bell, Richard Beymer, Scott Coffey, Ana de la Reguera, Laura Dern, Miguel Ferrer, Robert Forster, Pierce Gagnon, Michael Horse, Ashley Judd, Luke Judy, David Patrick Kelly, Jennifer Jason Leigh, Sarah Jean Long, Bérénice Marlohe, Zoe McLane, Clark Middleton, James Morrison, Wendy Robie, Tim Roth, Harry Dean Stanton, Russ Tamblyn, Grace Zabriskie, Sherilyn Fenn
Duração: 57 min.

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