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Crítica | Twin Peaks – The Return: Part 13

por Luiz Santiago
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Com quê então Philip Jeffries (personagem vivido por David Bowie em Os Últimos Dias de Laura Palmer) contratou Ray (George Griffith) para matar o Sr. C! Isso muda um pouco a nossa perspectiva sobre que lados são realmente bons e que lados são realmente maus nessa saga de retorno das forças do Black Lodge, que no presente episódio, parecem estar rondando todos os lugares, mas são mantidas adormecidas ou ocultas pela câmera de David Lynch. Não fosse a exímia direção e alguns momentos de retorno da história, com Bobby, Norma, Big Ed e o bad Cooper em cena (não, James, eu não fiquei animado em ver você de novo…) teríamos apenas um estranho filler e a diferença deste episódio para um filler é uma linha tênue de interpretações, por isso, muita gente deverá vê-lo como uma “desnecessária hora onde nada acontece“. E essas muitas pessoas, a seu modo, não estarão erradas.

A 5 episódios do final da temporada é possível dizer com muita confiança que The Return apresentou problemas muito grandes de ritmo. O nível de contemplação exigido por Mark Frost e David Lynch aqui é imenso, pautado por repetições, planos vazios, programas malucos como o do Dr. Jacoby e um nível de ação que foge ao normal (até aí, ótimo), mas adentra a um território onde a autoindulgência parece reinar. O fato de Lynch ser um excelente diretor mascara justamente esse excesso de vazio da série, tendo ainda os episódios ou cenas que se sustentam pela emoção experimental e surrealista causada em uma parcela dos espectadores mas que, em análise fria, não tem nem metade da força dramático-narrativa que deveriam (sim, refiro-me especialmente ao alardeado e adorado Episódio 8, que é apenas um bom episódio e nada mais).

Em Parte 13, temos um espelho cercado de luzes levemente mais frágeis que as de Parte 12, com algumas cenas de continuidade imediata — embora aqui se firme uma confusão de sequências em ralação ao espaço-tempo em que os personagens estão — e outras que parecem ser apenas algumas horas ou dias depois. Dessa forma, vejo as cenas de Audrey e Charlie acontecendo minutos depois das cenas do episódio anterior, enquanto as cenas com Dougie e os irmãos Mitchum (mais estendidas do que deveriam), a sequência com o Sr. C, a sequência no RR Diner, o estranhíssimo encontro entre Nadine e Jacoby e a medonha sequência na casa de Sarah Palmer em um tempo difícil de medir, dadas as relações com os últimos episódios e a orgânica, porém, irrastreável passagem entre dias e noites na série.

Uma coisa a se pensar é a fala de Audrey sobre “se sentir outra pessoa” e sobre “se sentir em outro lugar“. Em um episódio com o anel conectado ao Black Lodge, com uma real passagem de corpo para esta dimensão, com o Sr. C preocupado com as coordenadas para um importante lugar e um cerco claramente se fechando sobre ele (já não era sem tempo!), não temos outra alternativa que não pensar em duplicidades, até porque o caso do banco, no final da 2ª Temporada, não foi explicado, tampouco a maternidade de Richard Horne. Seria esta Audrey um segundo corpo?

O nível de tensão em algumas cenas aqui é enorme, favorecido por uma pontual mas bem utilizada trilha instrumental e fotografia de cores quentes com falsa intenção de aconchego. O espectador fica à espreita, imaginando que a qualquer momento alguma força espiritual, BOB ou alguém do tipo irá surgir na tela. A sequência da queda de braço (olha o braço aí outra vez!) e na casa de Sarah Palmer nos fazem temer pelo que acontecerá a seguir. Infelizmente, nada acontece. Mas a tensão é inegável. Lynch já cansou de mostrar que é um baita diretor. Aliás, a esta altura do campeonato, ele não precisa mais mostrar. Todavia, sua concepção para o retorno de Twin Peaks não tem sido, ao menos até aqui, a grande sensação que imaginamos vinda de um grande diretor. Tecnicamente, a maioria dos episódios são aplaudíveis. Já em termos de roteiro e estrutura dramática de temporada, a série tem sido um estranho enigma. Eu não imaginei que diria isso, mas estou feliz que esteja acabando.

Twin Peaks – The Return (3ª Temporada): Part 13 (EUA, 6 de agosto de 2017)
Direção: David Lynch
Roteiro: Mark Frost, David Lynch
Elenco: Kyle MacLachlan, Russ Tamblyn, Naomi Watts, Grace Zabriskie, Mädchen Amick, Tom Sizemore, Patrick Fischler, Dana Ashbrook, Larry Clarke, Eric Edelstein, Eamon Farren, Jennifer Jason Leigh, David Koechner, Robert Knepper, Andréa Leal, Peggy Lipton, Wendy Robie, Amanda Seyfried, Tim Roth, George Griffith
Duração: 59 min.

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