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Crítica | Twin Peaks – The Return: Part 16

por Luiz Santiago
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Quando comentei da presença de “elementos menores” nesta 3ª Temporada de Twin Peaks, especialmente nos episódios 5, 6, 8, 10, 13 e 15, a minha colocação estava pautada pelo julgamento da imensa qualidade de direção de David Lynch e por sua capacidade de escrever histórias insanas e geniais, aqui, ao lado de Mark Frost. E um capítulo absolutamente bem concebido como este 16 é prova disso. Mesmo quando desacelera um pouco, mesmo quando nos faz parar para ver Jerry Horne “olhando” de maneira errada por um binóculo que nem parece funcionar, o texto não parece apenas dado ao embasbacamento gratuito, a uma contemplação proto-lírica que mais parece aquelas imagens de grande beleza que ficam nas televisões de lojas de eletrônicos e que muita gente para para assistir, atraídos pela imagem, mas sem ter nada além dela para ir adiante. Ou seja, estesia pura e simples.

Aqui, porém, estamos em outro patamar. Vemos a qualidade típica das obras de Lynch e notamos sua capacidade em trabalhar com diversos ritmos em um único ambiente textual (pensem em Veludo Azul como uma comparação externa, caso precisem de outro parâmetro), tornando todos os detalhes como parte de um todo em si mesmo (o episódio) e fazendo-o ligar-se harmoniosamente a um todo maior (a temporada). É exatamente por isso que indivíduos chatos como eu em relação a narrativas jamais verão as contemplações bobas dos fillers da temporada como perdoáveis. Primeiro, porque os roteiristas e diretor sabem e deveriam fazer muito melhor. Depois, porque mesmo não sendo ruins (e aqui assumo que a dupla de capítulos restantes serão geniais e então posso afirmar que a temporada não teve episódios ruins, apenas fracos), esses seriais tomaram o tempo de elementos que poderiam se resolver mais rápido ou como parte de uma estrutura mais coesa.

E sim, é possível fazer um bom mistério, cheio de misticismo com esta linha mais escrupulosa de construção de roteiros, lembremos da Parte II da 2ª Temporada da série. Ali também haviam fillers, mas com um nível maior de acontecimentos em torno de um arco que, aos poucos, se construía. Por este motivo disse a alguns leitores nos comentários que, em nível pessoal, via os episódios menores dos anos 90 muito superiores aos da atual temporada. Porque ali não existia a deixa do andamento para cobrar do público um olhar perdido sobre o nada e querer que isso fosse visto como uma coisa boa e genial. E de novo, vindo de um grande cineasta como Lynch, isto chega a ser uma piada de mal gosto. Todavia, mesmo que o estupendo final da série não apague os tropeços anteriores, certamente nos farão ter a noção de que ao menos aquilo se encaixava em algum lugar. A máxima da peça sem graça em um quebra-cabeça que é uma obra-prima, visto de cima, algo que este episódio 16 nos faz ver claramente.

A primeira parte do capítulo tem montagem mais lenta, fotografia escura e significados macabros. O Sr. C e Richard vão até o “lugar onde as duas coordenadas combinam” e são vistos de longe por Jerry Horne, que vimos correr da última vez em pleno dia e que parece ter chegado a um lugar importante. Sem planos de contexto, a câmera acompanha parte da viagem pela estrada e depois alterna-se entre grandes planos gerais e planos de detalhe nos dois homens maus, na rocha e em Richard sendo eletrocutado por uma força certamente ligada ao Black Lodge. Mudança de cenário. Cena diurna e uma tocaia de Chantal e Hutch na rua de Dougie, que acaba na morte gratuita (banalidade do mal?) dos dois. Uma sequência editada de maneira suave, cheia de contrapontos e com grande tensão, fazendo-nos esperar por algo ruim que deve acontecer a qualquer momento. A tensão é sustentada perfeitamente até o seu belíssimo desfecho violento, previamente coroado pela de Rodney Mitchum: “As pessoas andam muito estressadas, Bradley“.

Tudo bem que estas sequências, assim como as de Cole, Albert e Tammy falando com Diane (revelada como um Tulpa) estão mais ou menos alternadas com as do hospital, mas boa a divisão do roteiro nos faz ter a perfeita imagem de blocos dramáticos, com duas imensas cerejas do bolo: Cooper FINALMENTE!!! acordando (e sim, sempre vou defender que foi um grande erro do diretor demorar tanto tempo para trazê-lo de volta), em um dos melhores momentos da série e com mais uma grande oportunidade para Kyle MacLachlan brilhar; e Audrey chegando ao Bang Bang Bar e sendo chamada à pista para dançar, nos dando toda aquela sensação clássica da série, com o tema jazzístico da personagem e uma boa performance de Sherilyn Fenn, que ao dançar, parece rejuvenescer 25 anos diante dos nossos olhos. E por falar nela, o que foi aquele final? Que incrível mudança de perspectiva, não é mesmo? Então ela de fato está sonhando ou presa em outro lugar! Esta Audrey que conhecemos é um Tulpa também?

Mais uma semana e chegamos ao fim de Twin Peaks. As verdades, mentiras e duplos espalhados pelo mundo, enfim, serão domados e colocados em seus devidos lugares. Há algumas sementes sendo criadas (Dougie voltará!) e algumas promessas de retorno. Mas algumas dúvidas persistem. Quem é Judy? Quem é Billy? As deixas da Parte 8 voltarão a aparecer? A frase “Laura é a escolhida” será realocada em algo específico dentro da temporada, assim como o barulho no Great Northern Hotel? O que será de BOB? E Naido? Quais dessas perguntas deverão ficar sem resposta? O fim está próximo.

Twin Peaks – The Return (3ª Temporada): Part 16 (EUA, 27 de agosto de 2017)
Direção: David Lynch
Roteiro: Mark Frost, David Lynch
Elenco: Kyle MacLachlan, Chrysta Bell, James Belushi, Jonny Coyne, Giselle DaMier, Owain Rhys Davies, Laura Dern, Josh Fadem, Eamon Farren, Sherilyn Fenn, Jay R. Ferguson, Miguel Ferrer, Pierce Gagnon, David Patrick Kelly, Robert Knepper, Andréa Leal, Jennifer Jason Leigh, Bellina Logan, Clark Middleton, Don Murray, Tim Roth, Amy Shiels, J.R. Starr, Naomi Watts
Duração: 57 min.

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