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Crítica | Twisted Metal – 2ª Temporada

Estragaram o guilty pleasure...

por Ritter Fan
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  • spoilers.

Embarquei na primeira temporada de Twisted Metal sem esperar absolutamente nada, até porque, em priscas eras, já não havia gostado do pouco que joguei dos jogos em que a série foi baseada. Talvez justamente por isso o resultado tenha sido uma surpresa, um genuíno guilty pleasure do tipo que dá gosto de ver tamanhas são as bobajadas e aquela pegada típica de obras B que ficariam perfeitas nas mãos de Roger Corman. Esperei a segunda temporada com exatamente o mesmo espírito, ou seja, de que os showrunners oferecessem somente mais do mesmo, pois esse é um daqueles casos em que é simplesmente impossível esperar algo mais, o que seria meu impulso natural. E essa expectativa era duplamente justificada pela simplicidade da premissa, ou seja, nada mais do que reunir diversos personagens peculiares pilotando veículos tunados em um mundo pós-apocalíptico que resultasse em uma versão aguada e de baixíssimo orçamento – mas agradável – de Mad Max. Infelizmente, porém, mesmo prometendo entrar no derby de destruição é a base dos jogos homônimos, a produção conseguiu errar e entregar significativamente menos do mesmo.

Tudo começa com o novo status quo estabelecido ao final da temporada inaugural: o ex-leiteiro desmemoriado John Doe (Anthony Mackie) “dentro dos muros”, vivendo em Nova São Francisco, na mesma casa em que morava quando criança ao lado de sua irmã, e a ex-muda sem um dígito Quiet (Stephanie Beatriz) “fora dos muros”, vivendo em harmonia com o grupo mascarado de mulheres autodenominado Dolls ou Bonecas que vive de saquear desavisados e que é liderado por Dollface (Tiana Okoye) que sim, você adivinhou, é a irmã “perdida” de John Doe. Com o anúncio do torneio automobilístico por um misterioso Calypso (Anthony Carrigan) que promete como prêmio a concessão de um desejo – qualquer desejo – ao vencedor, todo mundo converge para lá, sejam os personagens sobreviventes da temporada anterior (inclusive Mike – Tahj Vaughans – que não havia morrido), além de todos os novos personagens, incluindo aí a verdadeira líder de Nova São Francisco, a gótica Raven (Patty Guggenheim).

Infelizmente, porém, entre o começo com um novo status quo que é desfeito quase que imediatamente, já que, obviamente, John Doe volta a fazer dupla com Quiet, com Dollface e a jovem enxerida Mayhem (Saylor Bell Curda) a tiracolo e o efetivo começo do torneio, o que a temporada faz é enrolar, enrolar e enrolar. Temos as reapresentações de praxe, com Sweet Tooth (corpo de Joe Seanoa e voz de Will Arnett) e Stu (Mike Mitchell) agora juntos, e as apresentações de personagens dos jogos, especialmente Mr. Grimm (Richard de Klerk), o motoqueiro mascarado com transtorno dissociativo de identidade que passa por “absorção de almas” e Axel (Michael James Shaw), o homem semi-cibernético que é o literal eixo de duas rodas enormes com convenientes metralhadoras na base. Mas tudo acontece da maneira mais cansativa e sem graça possível, fazendo os quatro episódios preambulares mais parecerem 18 episódios de 2h de duração cada, tamanha foi minha dificuldade de ultrapassá-los. Nada realmente funciona, da completamente perda da química entre Mackie e Beatriz, com a entrada de Okoye e Curda ajudando muito pouco, se alguma coisa), passando pela subutilização completa de Sweet Tooth e até mesmo a pancadaria automobilística, que só vale mesmo pelo design veicular de Axel, que ficou realmente muito bom.

Mas então eu pensei com os meus botões: ah, mas tudo vai mudar quando o campeonato começar!

E o campeonato começou efetivamente no quinto episódio com a apresentação de mais personagens, inclusive várias buchas de canhão que são eliminados quase que imediatamente, um pouco mais de Calypso que, apesar de todo o mistério ao redor e, ao que tudo indica, seus poderes sobrenaturais, não passa de um mestre de cerimônias com maquiagem, peruca e figurino ruins. Quando a eliminatória inicial acabou, lembrei-me do mais decepcionante episódio da temporada anterior, que é justamente aquele que lembra que os jogos são sobre derbys de demolição e apresenta um que foi muito mal feito, daqueles de dar vergonha alheia. Foi o que aconteceu com a eliminatória e o que então passa a acontecer com cada fase da corrida, pois, ao que tudo indica, não conseguiram contratar ninguém capaz de criar coreografias automobilísticas interessantes e ousadas, o que esvazia por completo toda e qualquer tentativa de se criar algum semblante de tensão ou de mero divertimento mesmo. É tudo muito… bobo…, lento e cansativo, sem nenhum momento de fazer os olhos brilharem, com todos os pilotos – talvez com exceção de Axel e, com boa vontade, de Sweet Tooth – parecendo versões genéricas do que vemos no clássico Corrida da Morte – Ano 2000, só para usar um exemplo do citado Roger Corman.

As sequências que se passam entre as fases dos derbys são um pouco melhores e levemente mais inspiradas, especialmente a que conta com uma tropa de assassinos que tiveram suas terminações nervosas cortadas para resistir à dor e do baile de formatura, com direito a Sweet Tooth dançando de terno rosa e todo o imbróglio entre Stu, Mike e o supostamente ex-canibal Dave (Johnno Wilson) tendo uma recaída. O resto é descartável, inclusive o “super ciborgue” cuja identidade só não acerta quem vê série mexendo no celular, e todo aquele dénouement preparatória de uma nova temporada na cabana da família de John Doe que foi um grande exemplo de perda de tempo que poderia ser mais bem empregado até mesmo assistindo novela da Globo. No final das contas, o segundo ano de Twisted Metal – que ganhou mais dois episódios que o anterior não sei bem por que – até pode continuar sendo chamado de guilty pleasure, mas, para mim, o prazer foi reduzido a níveis quase imperceptíveis e tudo o que restou foi mesmo a culpa em doses cavalares…

Twisted Metal – 2ª Temporada (EUA – 31 de julho a 28 de agosto de 2025)
Data de transmissão no Brasil: de 10 de agosto a 26 de outubro de 2025)

Desenvolvimento: Rhett Reese, Paul Wernick, Michael Jonathan Smith (com base em videogame da Sony criado por
David Jaffe e Scott Campbell)
Direção: Phil Sgriccia, Bill Benz, Iain B. MacDonald, Bertie Ellwood
Roteiro: Michael Jonathan Smith, Jorge Thomson, Alison Tafel, Hadiyah Robinson, Grant Dekernion, Shaun Diston, Alyssa Forleiter, Gilli Nissim, Taylor Santiago Berger, Becca Black, Kirsten Rezazadeh-Jakob
Elenco: Anthony Mackie, Stephanie Beatriz, Joe Seanoa, Will Arnett, Anthony Carrigan, Mike Mitchell, Tahj Vaughans, Tiana Okoye, Patty Guggenheim, Saylor Bell Curda, Richard de Klerk, Michael James Shaw, Lisa Gilroy, Johnno Wilson, Katherine East, Clare McConnell, Nikki Duval, Dan Beirne, Lily Gao, Jon Daly, André Dae Kim, Tyler Johnston, Jimmi Simpson, Devon Sawa
Duração: 380 min. (12 episódios)

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