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Crítica | Ultimate Wolverine (2025) – Vol. 1: O Soldado Invernal

Uma boa história de ação reciclada.

por Kevin Rick
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O relançamento do Universo Ultimate pela Marvel teve como proposta ousada reinventar personagens clássicos de forma radical, muitas vezes subvertendo arquétipos e expectativas. Quando o Wolverine finalmente surgiu nesse cenário, a expectativa é inevitavelmente alta. Afinal, Logan é um dos pilares da mitologia mutante e, na linha Ultimate original, sempre teve um papel central. Em Ultimate Wolverine (2025), escrito por Chris Condon com arte de Alessandro Cappuccio e cores de Bryan Valenza (e participação de Alex Lins), o personagem retorna sob um novo manto: não apenas o mutante selvagem de sempre, mas uma versão que carrega o fardo da programação mental do Soldado Invernal.

Essa escolha narrativa dá o tom de todo o primeiro volume: Logan como uma arma sem identidade, controlado pelo Conselho do Maker — Magik, Colossus e Omega Red — e lançado contra antigos aliados como se fosse apenas mais um peão de guerra. A ideia soa impactante no papel, mas logo revela seu maior problema: a sensação de reciclagem. A trama da manipulação mental, da perda de identidade e da luta para recuperar memórias não é novidade nem para o universo Marvel em geral (já explorada com Bucky Barnes) nem para o próprio Wolverine, que há décadas é retratado como o homem quebrado que precisa se reconstruir. A diferença, aqui, é mais cosmética do que substancial.

Se a narrativa é derivativa, a forma em que ela é apresentada é o grande trunfo do quadrinho. Cappuccio traz para Logan uma brutalidade quase animalesca, um traço que transmite ao mesmo tempo o controle externo e a selvageria inata do personagem. O quadrinho é um espetáculo gráfico de violência e paranoia, que transforma a ação em energia visual, fazendo com que, mesmo sob um roteiro limitado, a arte dá densidade e brutalidade suficientes para prender o leitor. O primeiro número é eficiente ao introduzir o conceito: Wolverine como uma arma de guerra, lançado sem paraquedas, programado para matar. Daí pra frente, a trama é uma espiral de encontros violentos, às vezes com excesso de gore, mas de maneira geral uma narrativa bem intensa e divertida de folhear.

Apesar das fragilidades, há uma contribuição importante de Ultimate Wolverine para esse renascimento do Universo Ultimate: a consolidação da posição dos mutantes nesse cenário. Enquanto Ultimate X-Men tem um caráter mais autocontido, aqui a série mostra a perseguição clássica aos  mutantes, os experimentos, a manipulação e até a resistência organizada. É uma narrativa que oferece um vislumbre mais claro do espaço dos mutantes nessa realidade. Nesse sentido, gosto da participação curta do Maker no arco, trazendo um pouco da sua ótima presença no selo. As diversas releituras de outros mutantes também são boas, com destaque para Kitty Pryde, Gambit e principalmente Creed, que ganha uma edição inteira completamente reinventado – sem falar que estou curioso com o que vão fazer com Jean Grey e David Haller. 

A sexta edição, enfim, traz o fechamento esperado: Wolverine lutando contra as “correntes” que o prendem, confrontando fantasmas e figuras monstruosas de seu passado imediato. É o capítulo mais abertamente metafísico, com uma participação assertiva de Alex Lins na arte. E esse desfecho conecta Wolverine a um tema maior que atravessa todas as séries do selo: a ideia de revolução contra o domínio do Maker. Se até aqui Logan era apenas um fantoche, o arco inicial prepara o terreno para que ele se torne insurgente.

O primeiro volume de Ultimate Wolverine é limitado. Por um lado, entrega um quadrinho visualmente deslumbrante, que sabe transformar a violência em espetáculo estético, que insere Logan de forma brutal e direta no tabuleiro do novo Ultimate, e que prepara sua transição para um papel ativo na revolução mutante. Mas por outro, tem um texto bastante limitado que, em termos de conceito, não oferece nada realmente novo: recicla a trama do Soldado Invernal, reitera traumas já vistos no próprio Wolverine, e constrói uma história bem superficial. Fica a expectativa de que, agora, com o Wolverine liberto, possamos vê-lo finalmente se juntar à guerra contra o Maker.

Ultimate Wolverine – Vol. 1: O Soldado Invernal (Ultimate Wolverine – Vol. 1: The Winter Soldier) | EUA, 2025
Contendo: Ultimate Wolverine #1 a 6
Roteiro: Chris Condon
Arte: Alessandro Cappuccio, Alex Lins
Cores: Bryan Valenza
Letras: Cory Petit
Editoria: C.B. Cebulski, Will Moss, Michelle Marchese
Editora: Marvel Comics
Páginas: 160

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