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Crítica | Ultra Q – 1X01: Derrote Gomess!

por Ritter Fan
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Bem-vindos ao Plano Piloto, coluna semanal dedicada a abordar exclusivamente os pilotos de séries de TV.

Número de temporadas: 1
Número de episódios: 28
Período de exibição: 02 de janeiro a 03 de julho de 1966
Há continuação ou reboot?: Sim. Inaugurou a “Série Ultra”, levando a Ultraman no mesmo ano e quase 40 outras séries nas décadas seguintes, até hoje em dia.

Lá pela década de 60, considerando o sucesso de Godzilla nos cinemas japoneses em 1954, os filmes de kaiju (ou de monstros) eram uma febre avassaladora nas produções cinematográficas do país. Eiji Tsuburaya, da Tsuburaya Productions, teve, então, uma ideia simples e, vista em retrospecto, bastante óbvia: seria possível alcançar o mesmo sucesso na televisão? Considerando a participação da Toho como investidora em sua produtora e o acesso que a grande criadora de tokusatsus do cinema deu à Tsuburaya, nascia, então, a primeira séries da linha “Ultra” que, no mesmo ano, levaria ao aparecimento de seu mais famoso personagem, o Ultraman.

Mas, diferente do que se poderia esperar, Ultra Q não conta com um super-herói para unificar as narrativas, tendo muito mais um semblante de antologia de monstros com uma equipe humana de dois aviadores e um repórter correndo atrás de cada fenômeno do que qualquer outra coisa, de certa forma lembrando a estrutura de Além da Imaginação. Como japonês é muito bom de marketing, a escolha da partícula “Ultra” no título – que não tem qualquer relação com nada dessa primeira série – vem da, acreditem, equipe masculina japonesa de ginástica olímpica que, em 1960, nas Olimpíadas de Roma, já havia começado a conseguir vitórias significativas e que, em 1964, nas Olimpíadas de Tóquio, anunciou que usava a técnica Ultra-C, já que C era a nota mais alta e eles iriam “além do C”. E, com isso, a expressão Ultra-C – mais especificamente Ultra – literalmente passou a fazer parte do vocabulário japonês, com Tsuburaya, então, usando isso para chegar ao seu Ultra Q.

Além disso, com a possibilidade de economizar muito dinheiro com a abertura do armazém da Toho para que qualquer prop fosse garimpada, o que a série acabou mostrando ao longo de seus 28 episódios foram variações de monstruosidades já conhecidas, a começar pelo ameaçador Gomess que nada mais é do que um dinossauro construído a partir de uma fantasia do próprio Godzilla, apenas acrescentando caninos enormes nas laterais da boca e um chifre único retorcido na cabeça. No lugar de uma origem atômica, algo mais singelo: a construção de uma rodovia que levaria de Tóquio a Osaka despertou o monstro que começou a impedir as obras, além de ter revelado a existência de um ovo misterioso que o garoto Jiro (Junji Muraoka) logo conclui ser de uma Litra, ave pré-histórica inimiga de Gomess. O que acontece a partir daí é o de sempre: o ovo é chocado, Litra já sai crescida lá de dentro e direto para “bicar” o monstruoso, mas não tão gigante assim, Godzilla de baixíssimo orçamento, com os humanos sendo apenas extras correndo de um lado para o outro sem maiores objetivos.

A fotografia em preto e branco (o episódio é também facilmente encontrado na forma colorizada, com um resultado bastante profissional, vale salientar) ajuda a esconder seu baixo orçamento e os diversos problemas de perspectiva. Mas, claro, é ainda muito pouco e os monstros variam enlouquecidamente de tamanho, com a superposição das imagens falhando em diversos momentos de maneira muito óbvia, quase amadora mesmo. Enquanto a “roupa” de Gomess é particularmente bem feita – afinal, trata-se de Godzilla, já figurinha fácil na Toho -, Litra parece um pássaro empalhado por um taxidermista de primeira viagem, o que resulta em uma versão ainda mais hilária, e voadora, do Garibaldo, da Vila Sésamo.

Mas os elementos técnicos serem de baixa qualidade já era algo absolutamente esperado em Ultra Q, pois mesmo os longas cinematográficos de kaiju sofriam – e ainda sofrem – nesse quesito, efetivamente fazendo parte do que se espera deles. O que impede o episódio de decolar de verdade, portanto, não tem relação única com isso. A narrativa do roteiro de Toshihiro Iijima é praticamente inexistente, com tudo acontecendo apesar dos humanos ao redor e com conexões muito fracas entre o conflito entre os monstros e o drama na construção rodoviária. Teria sido mais honesto simplesmente deixar os bichos lutarem como em uma rinha de galo sem tentar dar ares mais complexos com a inserção de lendas e de um garoto nerd metido a paleontólogo.

No final das contas, porém, Derrote Gomess!, mesmo não tendo obtido o nível de sucesso desejado, tem o mérito de ser a porta de entrada para o futuro dos kaijus na televisão japonesa e o começo efetivo de Ultraman, mesmo que o super-herói espacial sequer apareça nesta primeira série. Quem diria que um cospobre de Godzilla lutando contra o Garibaldo geraria uma das franquias mais famosas do mundo, não é mesmo?

Ultra Q – 1X01: Derrote Gomess! (ウルトラQ:  ゴメスを倒せ! / Urutora Kyū: Gomesu o Taose!, Japão – 02 de janeiro de 1966)
Direção: Hajime Tsuburaya
Roteiro: Toshihiro Iijima (como Kitao Senzoku)
Elenco: Kenji Sahara, Yasuhiko Saijô, Hiroko Sakurai, Yoshifumi Tajima, Nakajirô Tomita, Tatsuyoshi Ehara, Junji Muraoka
Duração: 25 min.

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