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Crítica | Um Certo Capitão Lockhart

por Luiz Santiago
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estrelas 4,5

Um Certo Capitão Lockhart foi o último western da dupla Anthony Mann & James Stewart, uma parceria interrompida devido a desentendimentos envolvendo a produção (especialmente a cadeira de direção) do filme A Passagem da Noite (1957).

A característica principal dos filmes de Mann com Stewart no elenco era a forte exploração da psicologia do protagonista, que aparecia em grande conflito interno e externo, lutando para encontrar-se no mundo e/ou para vingar-se de alguém que tenha marcado negativamente sua vida. Esse modelo de “jornada de expiação” já é perceptível na trama de Winchester ’73 – o primeiro da pentalogia – e segue sob outras camadas em E O Sangue Semeou a Terra, O Preço de um Homem e Região do Ódio.

A base para Um Certo Capitão Lockhart foi a história de Thomas T. Flynn, que trazia o drama denso de Rei Lear para um rancho de Coronado, no Novo México. Num primeiro momento, temos apenas a indicação de que o Capitão Will Lockhart possui intenções além daquela de simplesmente levar algumas carroças cheias de mantimentos da cidade de Laramie até Coronado. Conforme os minutos avançam, vemos que existe uma questão familiar em jogo e a promessa de vingança feita a si mesmo. Lockhart almeja encontrar o homem que vendera rifles de repetição para os apaches que massacraram uma divisão da cavalaria americana, na qual se encontrava seu irmão caçula.

Mas Mann nos esconde por um bom tempo a maioria das coisas que veríamos durante o longa. Sua direção cria um ambiente bem próximo ao suspense, ao menos na fixação de uma atmosfera que indica uma tragédia vindoura, mas que demora chegar. Nessa edificação, o diretor faz bom uso da música de George Duning e vemos o interessante equilíbrio que William A. Lyon dá à montagem, alternando de maneira suave a duração de determinados planos e trabalhando de forma muito competente as transições de cena.

Os toques shakespearianos do roteiro começam a aparecer quando a tragédia anunciada no início do longa dá as caras. E então estamos diante do western mais violento de Anthony Mann, que passa a analisar a maldade como elemento orgânico das relações humanas, assim como sua outra parte, reprimida ou acossada durante um longo tempo.

Nesse ponto já estamos nos domínios da família Waggoman e a questão da herança e do mal caráter aparecem de mãos dadas, focalizando três homens como protagonistas de um conflito que se afunilará para a vingança pretendida por Lockhart desde o início. E diferente dos outros westerns de Mann, este filme não amplia tanto as paisagens e não investe uma linha narrativa de caminhada pelas pradarias, rebanhos e quilômetros e quilômetros de terra. É verdade que a câmera faz belas panorâmicas sobre os domínios de Alec Waggoman (interpretado de maneira imponente e amargurada por Donald Crisp), mas estes takes são apenas para um contexto geográfico, sem muita exploração dramática exceto a bem construída sensação de claustrofobia.

A resolução dos problemas apresentados na fita dá um salto em certo momento da reta final, mas o choque é benéfico se consideramos o todo. A descoberta do culpado, a vingança e o triunfo do bem não dão à obra uma camada simplista ou clichê, antes, exploram cada um desses pontos dentro da mitologia do western e fecham um ciclo de obras notáveis de Anthony Mann sobre homens cujo passado são verdadeiros grilhões que precisam ser quebrados no presente. Este é o maior triunfo do diretor e de James Stewart – que aqui dá mais um show de interpretação – o de mostrar que o intocável herói do oeste podia ser tão humano, falível, patético e heroico como qualquer outro homem.

Um Certo Capitão Lockhart (The Man from Laramie) – EUA, 1955
Direção:
Anthony Mann
Roteiro: Philip Yordan, Frank Burt (baseado em história de Thomas T. Flynn)
Elenco: James Stewart, Arthur Kennedy, Donald Crisp, Cathy O’Donnell, Alex Nicol, Aline MacMahon, Wallace Ford, Jack Elam, John War Eagle, James Millican, Gregg Barton
Duração: 104 min.

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