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Crítica | Um Conto de Sereia

Uma narrativa chatinha, pouco divertida e insossa, mas bonitinha.

por Leonardo Campos
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Um filme “feio” que me fez lembrar algo “bonito”. Paradoxal, não é mesmo? Mas é isso: Um Conto de Sereia me lembrou uma reportagem recente sobre sereismo, conteúdo jornalístico que consegue ser melhor que os 92 minutos deste filme juvenil insosso, arrastado e equivocado em seus requisitos estéticos e dramáticos. Para quem não sabe, o sereismo não é um movimento novo, mas algo que tem crescido bastante nos últimos anos, era da conexão de muita gente com elementos da natureza, num processo constante de maior conscientização diante da importante manutenção com o ecossistema que nos cerca. E interessante é observar que este movimento tem conquistado homens e mulheres, haja vista a não distinção de gênero que caracteriza esta onda que tem ganhado o mundo da moda com acessórios, maquiagens, sapatos, etc. Há até pessoas que investem em cabelos multicoloridos para se aproximar da imagem das sereias perpetrada pelo imaginário cultural. Estilo de vida voltado aos interessados no mar, na natureza e nos animais, o sereismo preza pelo meio ambiente e por quem externa esses sentimentos.

A protagonista de Um Conto de Sereia, por exemplo, é um modelo cabal desta prática. Ela se sente ligada ao espaço natural que a cerca e tem um forte senso de proteção. Quando se torna amiga de uma sereia de verdade, o encanto se estabelece na narrativa e o que poderia ser apenas alegórico se torna parte integrante de seu cotidiano. Sob a direção de Dustin Rikert, o filme com foco no público juvenil toma como ponto de partida o texto dramático escrito pela dupla formada por Fred Hagge e Rafael Jordan, e nos conta a trajetória de Ryan (Caitlin Carmichael), uma garota que acaba de se mudar para a cidade de Santa Clara, uma região litorânea que vive da prática pesqueira. Ela segue com o pai, Matt (Jerry O’Connel), ambos ainda em um dos estágios do luto por causa da morte da matriarca. Lá, Matty vai reencontrar Jenna (Jaime Paige), interesse amoroso da juventude que pode agora ser o seu novo relacionamento. Entre eles há ainda o rancoroso e teimoso Ary (Barry Bostwicky), avô de Ryan, um homem com temperamento complicado, mas parte de uma estrutura arquetípica de bondade por debaixo da superfície aparentemente grosseira.

Certo dia, Ryan passeia pelo balneário e encontra Coral (Sydney Scotia) presa numa rede de pescadores. A garota que na verdade é uma sereia sabotava os pescadores que estavam prejudicando a sua colônia na região quando foi pega e não conseguiu se soltar. Encantada e surpresa ao mesmo tempo, a humana torna-se amiga da menina sereia e uma forte relação surge entre as duas, a ponto de se cogitar, de ambos os lados, mudança de estilo de vida para manter a amizade intensa. O que poderia ser uma saga alegórica sobre relacionamentos humanos acaba por se tornar uma extensa e dispersa narrativa sobre adolescentes em seus cotidianos fúteis. Depois de resgatar Coral, algo que ocorre por volta dos primeiros vinte minutos, adentramos no arrastado e insosso segundo ato, uma sequencia de acontecimentos que nem parecem se desenvolver numa história sobre sereias. Os diálogos não colaboram com nada, o ritmo é péssimo, a discussão sobre escassez de suprimentos de pesca na cidade por intervenção das sereias não acrescenta muita coisa e até mesmo o debate sobre luto perde qualquer apelo dramático diante da maneira como os roteiristas desenvolve este conflito, totalmente descompromissado.

Se os problemas fossem apenas de ordem dramática, tudo bem. Mas não é só isso. O desenvolvimento estético de Um Conto de Sereia é muito parco. Os efeitos visuais são constrangedores, o que nos faz questionar os motivos de não investimento apenas na maquiagem e nos efeitos especiais com próteses e outros recursos para simular a famosa cauda da sereia, marca registrada da criatura mítica. Sem inspiração, a direção de fotografia de A. J. Raitano entrega um trabalho bastante irregular, sem momento algum de beleza nas cenas subaquáticas ou nas passagens pela praia e pelas ruas da cidade por onda as meninas circulam. O design de produção de Daniel Koening também é um fiasco, talvez por causa do orçamento baixo, o que ocasionou a falta de recursos. Na condução musical, Tim Blast entrega um trabalho sonoro opaco, pouco expressivo, da mesma maneira que a estrutura estética geral desta produção que além de irregular como exercício da linguagem cinematográfica, também é muito chata e para piorar, nada contribui para o imaginário das sereias e suas representações na cultura contemporânea. Ademais, para um filme de 2017, Um Conto de Sereia é demasiadamente pecaminoso em seus atributos narrativos.

Um Conto de Sereia (A Mermaid’s Tale) — EUA, 2017
Direção: Dustin Rikert
Roteiro: Fred Hogge, Rafael Jordan
Elenco: Caitlin Carmichael, Sydney Scotia, Jerry O’Connell, Barry Bostwick, Ronnie Gene Blevins, Jaimi Paige, Nancy Stafford, Hannah Fraser
Duração: 92 min.

 

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