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Crítica | Um de Nós Está Mentindo – 1ª Temporada

Não há segredo para ser revelado.

por Felipe Oliveira
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Pretty Little Liars, Gossip Girl e 13 Reasons Why geraram um fruto, e isso não é um elogio e muito menos algo interessante a ser considerado, porque não há nada de original em Um de Nós Está Mentindo, apenas mais um produto que sabe seguir a receita. Se lembrarmos um pouco do histórico das duas primeiras séries, são queridinhas com ressalvas, e a última, rendeu tantas polêmicas que levou a uma questão: deveria passar do piloto?

Que mal tem querer uma série de mistério teen com controvérsias para passar o tempo? Por isso, a adaptação da série literária de Maldosas, durou até onde deu na trama que iniciou trazendo um quinteto de amigas sendo abalado após o sumiço da líder do grupo. Um ano se passa até que um stalker desconhecido assinando por “- A” ameaça expor alguns segredos. A outra, também tinha em sua base trabalhar com exposições, com uma figura anônima chamada de Gossip Girl fofocando tudo em seu blog sobre a classe socialite adolescente da Upper East Side, principalmente Serena van der Woodsen (Blake Lively).

Ambas as atrações ainda seguem com uma base de fãs antenada, tendo Gossip Girl ganhando um revival prometendo não repetir os arcos problemáticos sem discussões sobre os personagens e a falta de diversidade. O que Os 13 Porquês tem a ver? Nada, mas entra como terceiro elemento que resulta em One of Us is Lying. Baseada no livro de Jay Asher, a série da Netflix que estreou em 2017 conseguiu ir longe além do argumento extremamente absurdo e problemático e durou quatro temporadas. Dentre muitas coisas que se propôs a discutir numa abordagem questionável, o programa tinha como maior característica a romantização da culpa. 

Quando digo que essas três produções distintas geraram um fruto, não é forçação. A premissa que também segue o livro homônimo de Karen M. McManus, lançado em 2017, coloca cinco estudantes em detenção, quando um deles morre e os restantes viram suspeitos, já que todos ali têm segredos. Por trás dessa base, a realidade do colégio é marcada pela presença de um site que revela os atos hipócritas de vários, e todos conhecem o autor, e obviamente, é o mesmo que morre. O que tem demais na trama de mistério dramático que examina um a um, até alcançar as devidas peças do quebra-cabeça e descobrir quem matou? Mas no meio dessa patacoada ilógica, não se tinha uma autoridade na escola para tomar providências sobre alguém que sabe quem cola na prova, porque primeiro, isso é um grande segredo. Pois, só UMA pessoa é tão corruptível moralmente na escola inteira para realizar uma cola. Mas com tantos “segredos” para serem expostos, os que importam são o do grupinho de quatro pessoas que se tornaram suspeitas.

No meio dessa iniciativa absurda, Simon mostrou que aprendeu bem com “A” e a Garota do Blog porque para se garantir nas fofocas, chantageava o alvo em troca de outro “segredo”, mas claro, é a só a alternativa encontrada para ir tapando os buracos para este história louca que se diz conversar com a juventude. Além de coisas banais de quem colou na prova, ou traiu namorado, a história de McManaus  adaptada por Erica Saleh, quer se mostrar moderna e capaz de discutir com o público moderno ao encorpar em seu enredo tópicos que circundam a adolescência, ou mais precisamente, ter essa camada plástica de que está retratando suas realidades de maneira consciente. Vejamos. Estereótipos não faltam para integrar as subtramas dramáticas que pincelam “as camadas” de seus personagens, e de longe, o arco de Cooper (Chibuikem Uche) consiga se destacar e se mostrar proveitoso narrativamente, não há nada inspirado nas histórias de Addy (Annalisa Cochrane), Bronwyn (Marianly Tejada) e Nate (Cooper van Grootel) que não sejam pastéis de vento em prol de criar hesitação e suspense nos episódios.

Mas nem isso é um artifício convincente, já que a série se utiliza do exercício pífio de levantar a dúvida e derrubar logo em seguida, sendo que até professor da escola o Simon conseguia chantagear porque sabia de segredo… Mas pior do que do NADA surgir no roteiro um “acredite nas mulheres” em situações que nada tem a ver com pautas relevantes no movimento feminista, ou ridiculamente querer pintar que é uma série que trabalha com texto metalinguístico ao citar filmes no meio de diálogos “O que é isso, Onze Homens e um Segredo no Halloween? Mas aqui é a realidade, têm consequências…“, ou que retrata exemplos de relações abusivas com parceiros controladores – o critério foi catar o que “tem sido mais debatido atualmente” e mostrar que a série é teen, mas fala de tudo –  é romantizar a sua verborragia absurda.

Por fim, depois de “tanto mistério”, a trama revela o que aconteceu quando apenas 5 alunos e um professor estavam numa sala da escola para a detenção. Como parte de um plano de fazer “todos” enxergarem a hipocrisia daqueles adolescentes, Simon aceita – porque a ideia veio do real autor do crime –  consumir óleo de amendoim o qual é alérgico para então causar uma cena de que teria sido alvo de ataque dos adolescentes presentes, e que por muito pouco, foi poupado com uso de choque anafilático. Mas como está claro, o esquema não ocorreu como previsto pela vítima, que foi traída pela mente maquiavélica e tirou todas as injeções de adrenalina do alcance. A ideia por trás disso vem de duas pessoas que nutriam aversão aos demais alunos, pregavam peças, e chegaram no limite de bolar esse cenário.

Mas como Um de Nós Está Mentindo vem do showrunner de Élite, Darío Madrona, foi encontrado um jeito de retornar essa história à segunda temporada. Daria pra apontar de várias formas a falta de noção da história, mas se isso “passou despercebido” na sala de roteiristas, a série é só mais uma a se juntar a essa tendência de trazer narrativas que romantizam situações perigosas como plano de fundo de um suspense genérico sendo construído. A série quer inserir um plot sobre aborto como ferramenta de falsa pista do que aparentemente é um whodunit aqui; assunto delicado que é elemento de exposição de um personagem problemático que se acha menos hipócrita do que a quem aponta o dedo. Não dá pra ser as duas coisas, quando falta o mínimo de senso na hora de costurar um subgênero tão prestigiado na literatura e outras mídias numa abordagem banal que não tem nada a dizer.

Um De Nós Está Mentindo – 1ª Temporada (One of Us is Lying – EUA, 2021)
Criação: Erica Saleh
Roteiro: Erica Saleh, Molly Nussbaum, Anthony Johnston, Darío Madrona, Dayna Lynne North, Harrison David Rivers
Direção: John Scott, Benjamin Semanoff, Sophia Takal, Jennifer Morrison
Elenco: Annalisa Cochrane, Chibuikem Uche, Marianly Tejada, Copper van Grootel, Barrett Carnahan, Jessica McLeod, Mark McKenna, Melissa Collazo
Duração: 45 a 50 min (8 episódios, cada)

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