Você já pensou em terceirizar o seu próprio suicídio? Jean Darrow pensou. E olha, a ideia é perturbadora e maravilhosa: uma mulher descobre que tem 6 meses de vida, não consegue se matar, então contrata um assassino para fazer o serviço. Pronto, problema resolvido. Ou quase isso… A premissa disso aqui é ouro puro. Jean entra num bilhar imundo, toda arrumadinha no meio dos predadores. O leitor sente o desconforto dela. Os caras babando, ela determinada e o assassino de aluguel recebendo a encomenda mais bizarra da carreira. Quando ela entrega a própria foto como alvo, é de arrepiar. Só que aí a história resolve se sabotar.
Do nada… milagre médico! Jean pode ser curada! Que conveniente, não? E quando ela tenta cancelar o contrato, adivinha: ‘Red’ morreu atropelado. Que sorte a dela, né? O universo conspirando para salvá-la de si mesma, que fofa! É como se os roteiristas tivessem entrado em pânico na metade da história e decidido: “nossa, isso está muito pesado, vamos resolver tudo com coincidências”
O problema real é que Jean não aprende nada. Ela não enfrenta o monstro que criou, não lida com as consequências, não precisa olhar nos olhos do cara que contratou para matá-la. Simplesmente mente para o policial e toca a vida como se nada tivesse acontecido. Patético. A história tinha tudo para ser um soco no estômago sobre arrependimento (numa cadência bem cinema noir), sobre como certas escolhas não têm volta, sobre o peso de encomendar a própria morte. Em vez disso, virou uma fábula moral de boteco onde tudo se resolve no final e todo mundo vai para casa feliz. Começou absolute cinema, terminou novela das sete.
Crime SuspenStories #1: A Snapshot of Death! (EUA, outubro de 1950)
Roteiro: Bill Gaines, Albert B. Feldstein
Arte: Graham Ingels
Capa: Johnny Craig
Editora original: EC Comics
6 páginas