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Crítica | Um Trânsito Muito Louco

A autoescola como punição.

por Leonardo Campos
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Conseguir a carteira de habilitação é um processo que deixa muita gente tensa. Alguns passam de primeira e outros dependem de oportunidades adicionais para a aprovação de algo que está cada vez mais burocrático, haja vista a necessidade dos órgãos de fiscalização e educação ampliarem as exigências para os candidatos ao posto de condução, um “trono” que pede muita responsabilidade e inteligência emocional para ser ocupado. Assim, para aqueles que conseguiram a aprovação e já conduzem os seus automóveis, perder a licença é algo talvez ainda mais doloroso. Por leviandade, muitos perdem não apenas pontos, mas zeram as chances de manter os seus respectivos documentos de habilitação, algo que parece representar o retrocesso para alguém que um dia, foi avaliado e recebeu liberação para dirigir. Esse é um tema que podemos observar presente por meio do humor escrachado em Um Trânsito Muito Louco, comédia estadunidense dirigida por Neal Israel, lançada em 1985. Será que mesmo após a experiência como condutores, os personagens dessa comédia vão desobedecer a sinalização semafórica, avançar sobre o meio-fio e bater nos cones nesta etapa inesperada de suas vidas?

Responsável pelo roteiro, escrito em parceria com uma ampla equipe de dramaturgos, composta por Pat Proft, Paul Proft e Paul Boorstin, o cineasta conduz os seus personagens ao longo dos 90 minutos desta trama sobre um grupo de indivíduos que perdem a licença e atravessam um longo e terrível pesadelo. O grupo é composto por um paisagista, uma mulher com graves problemas de visão, um hipocondríaco, um cientista de foguetes, dentre outros. Eles recebem a sentença da juíza Nedra Henderson (Sally Killerman), representante do Estado que os obriga a participar de um curso de direção para obter novamente as suas licenças. Como obstáculos, os envolvidos neste processo terão que enfrentar o instrutor Hank (James Keach), homem que possui planos burlescos para que todos eles falhem no processo, personagem catalisador das situações exageradas e humor que nos faz lembrar a atmosfera cômica do clássico moderno Loucademia de Polícia (o primeiro e todas as sequências).

É assim que em Birch County, cidade fictícia da Califórnia, uma turma de motoristas despreparados precisa lidar com as carteiras e automóveis apreendidos, pessoas que cometem tantos absurdos que infelizmente não fazem parte apenas da ficção, mas são na verdade, radiografados cotidianamente por câmeras ao longo das grandes metrópoles e zonas interioranas. Acompanhados pela trilha sonora de Ralph Burns, constantemente a fazer gozação dos sofrimentos desse de “aloprados”, os personagens circulam pelos espaços concebidos pelo design de produção de Virginia Field, profissional responsável por criar um ambiente de “educação para o trânsito” para permitir que o tema seja exposto não apenas nos diálogos, mas também na visualidade da narrativa. É um filme bobo, sem grandes momentos dramáticos, mas que visto pela ótica da educação como caminho para conscientização no trânsito, pode ser útil como recurso pedagógico, além de ter alguns momentos divertidos que prometem instâncias de diletantismo para o público que se coloca como espectador.

Ademais, a produção nos faz observar o quão rigoroso é um exame de aprovação para conseguir a carteira de habilitação, símbolo de liberdade para muita gente que não sonha apenas em atravessar estradas em busca de novos rumos para a vida, como a personagem de Patrícia Clarkson em Assumindo a Direção, mas também dependem da licença para exercício da cidadania e cumprimento dos planejamentos profissionais que levam renda para o sustento da família. Há, sim, um rigor, mas também é uma oportunidade para as pessoas testarem os seus limites, bem como a capacidade de conduzir a si e dividir o espaço da mobilidade urbana com os demais. Temida por muitos, o exame é considerado a última parte do processo, posterior aos exames e autoescola. Domínio de legislação, observação de placas, semáforos e circulação: esses são alguns requisitos avaliados, posteriormente ao deslocamento em vias públicas e realização das balizas removíveis, momentos que causam bastante tensão em muita gente. Tal como deve ser no cotidiano após a aprovação, esse é um momento para não exceder a velocidade regulamentada nas vias, tampouco cometer outras infrações, algo que na trajetória dos personagens de Um Trânsito Muito Louco, é uma situação corriqueira que passa por punição.

Um Trânsito Muito Louco (Moving Violations, Estados Unidos/ 1985)
Direção: Neal Israel
Roteiro: Neal Israel, Pat Proft, Paul Proft, Paul Boorstin
Elenco: Jennifer Tilly, Fred Willard, Nedra Volz, Wendie Jo Sperber, John Murray, James Keach, Clara Peller, Lisa Hart Carroll, Nadine Van der Velde, Ben Mittleman, Victor Campos, Sally Kellerman, Willard E. Pugh, Brian Backer, Ned Eisenberg
Duração: 90 min.

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