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Crítica | Uma Aventura Lego 2

por Gabriel Carvalho
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“Nem tudo é incrível.”

A continuação do excelente Uma Aventura Lego exemplifica perfeitamente bem o porquê do original ter sido tão interessante para vários públicos. Mesmo com Phil Lord e Christopher Miller continuando no projeto, mas agora assinando apenas o roteiro, a franquia se encaminhou a um terreno mais comum, que não se importa muito com a expansão de mundo prevista anteriormente. O interesse que principia a nova empreitada mora numa premissa ordinária, justamente uma que já havia sido antecipada no longa-metragem anterior: as interações da irmã do menino, representante corporal da ação prevista na animação, com o garoto que movimenta os personagens de Lego. A conversa entre a realidade e a brincadeira, mundos inerentes um ao outro, pelo menos permanece, apesar do contorno ser muito menos emocional e coerente dentro da narrativa da obra, assumidamente para um público menor. Os erros da sequência são opostos aos méritos passados.

O convencional esquema metalinguístico do primeiro filme, que pautou os acontecimentos da narrativa como paralelos e associados à realidade em live-action da obra, é competentemente reiterado como primeira instância dessa segunda parte. Já a execução coesa, como se as peças se encaixassem completamente, não é retomada. A trajetória de Emmet (Chris Pratt), antes, era sobre se tornar incrível, tão incrível quanto a criatividade do jovem que, até então, não podia mexer no Lego do seu pai, justamente o inimigo da primeira animação, o Senhor Negócios. Aqui, a irmã também é a inimiga que incorpora uma personagem maligna, porém, a trajetória do protagonista com rosto amarelo nada tem a ver com isso. Emmet continua sorridente apesar de anos se passarem em meio a trevas. Seu arco é baseado em, do nada e por nada, tornar-se durão. Lucy (Elizabeth Banks), em contrapartida, também deve se redescobrir outra pessoa que não essa atual.

Mas Uma Aventura Lego já consolidava todos como incríveis. Quando o mundo dessa franquia se torna ruínas, recorrentemente destruído pelas cruéis criaturas do Planeta Nuplo, então o que resta para os roteiristas é embutir o enredo com cargas dramáticas gratuitas – com direito até mesmo a um retcon engraçado, mas descarado. O valor social da animação é extinguido, ao mesmo tempo. Os conceitos de brincadeiras comuns às crianças, suas idades e gênero, como viagens no tempo absurdas e matrimônios inesperados, são o que resta para a metalinguagem sair um pouco das profundezas do genérico. Enquanto o antigo longa-metragem acabava rompendo desnecessariamente – porém, pontualmente – com essa linha entre o ficcional e o real, Uma Aventura Lego 2 é constantemente bombardeado por cenas com atores reais. A extensa participação de Maya Rudolph, a exemplo, expõe variados problemas na comédia, muito insegura.

Surge uma piada sobre pisar em Lego, porque ninguém mais possui sacadas inteligentes para a aventura. Em um outro plano importantíssimo, os pais dessas crianças mostram ser os mais irresponsáveis possíveis. Por que os personagens de Maya Rudolph e Will Ferrel, em cinco anos, não conseguiram impedir as constantes destruições de mundo pela garota? Como que o pai, um amante rigoroso de Lego, torna-se tão despreocupado com os seus antigos colecionáveis, resignando qualquer empatia com o que está acontecendo na grande mesa do porão? Já a participação de Rudolph surge como uma manivela extremamente artificial e burocrática, incorporando uma mãe que, como não conseguiu educar as suas crianças, decide destruir as suas construções. O núcleo humano deixa de ser uma desnecessária adição expositiva à narrativa para, agora, interromper seriamente a progressão rítmica do longa-metragem e o seu descompromisso.

Uma Aventura Lego 2, portanto, poderia ser sobre qualquer entretenimento infantil, desde videogames a esportes. O que tem de Lego aqui basicamente morre no live-action, não na animação. O seu intrínseco acaba se tornando uma coleção de gags sobre tropeçar: umas duas vezes com Emmet e umas duas vezes com uma banana. O tempo de comédia de Mitchell é quase nulo. E contrariando a animação antecessora, as referências são o que o conjunto possui de mais interessante, como nas citações a Duro de Matar. Já o Batman, interpretado por Will Arnet, que ignora o seu longa solo, é simplesmente redundado pelo inexorável tom sombrio do personagem. O projeto, entretanto, é mais bem sucedido nas suas cenas de ação e na introdução da Rainha Wa’nabi (Tiffany Haddish), carismática assim como um certo salvador das galáxias. Eis uma espirituosa ficção-científica, que é mais um musical nem tão incrível assim que outra coisa melhor.

Uma Aventura Lego 2 (The Lego Movie 2) – EUA, 2019
Direção: Mike Mitchell
Roteiro: Phil Lord, Christopher Miller
Elenco: Chris Pratt, Elizabeth Banks, Will Arnett, Tiffany Haddish, Stephanie Beatriz, Alison Brie, Nick Offerman, Charlie Day, Maya Rudolph
Duração: 107 min.

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