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Crítica | Uma Dupla em Ponto de Bala

por Kevin Rick
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Antes de explodir em 1976 com o filme A Profecia, o cineasta Richard Donner teve um duvidoso início de carreira, transitando entres episódios de séries de televisão e filmes medíocres. Uma Dupla em Ponto de Bala não escapa do começo artístico inexpressível do diretor americano, mas é possível ver alguns vislumbres técnicos de um bom cineasta sem o material adequado. Além disso, por ser um projeto protagonizado por Sammy Davis Jr. e Peter Lawford, dois membros do célebre Rat Pack, um grupo de artistas famosos dos anos 50 e 60 encabeçado por Frank Sinatra, percebe-se o ganho de espaço e oportunidade dado à Donner, ainda que seja um veículo narrativo pobre para colocar dois figurões em tela.

O começo desse filme é tenebroso. Nós conhecemos Salt (Sammy Davis) e Pepper (Lawford), dois sócios que comandam uma boate londrina, que se veem em apuros após descobrirem o corpo de uma agente no seu clube. Eles começam a ser perseguidos pelo incompetente inspetor Crabbe (Michael Bates), além de caírem ao acaso em uma trama de destruição global. Mas calma, antes da narrativa descambar para a ação e a espionagem, o roteiro decide nos enrolar por uns 30 minutos entre os personagens tramitando em diferentes clubes e quartos com piadas racistas, objetificação feminina e uma completa falta de senso em estabelecer a introdução do que viria a ser o restante da obra. É um núcleo completamente perdido e preconceituoso, que mesmo para a época, se distancia bastante de qualquer contextualização com seu humor de mal gosto.

Passado esse início desconexo, a narrativa melhora um pouco – bem pouco – quando finalmente desenrola sua proposta de pastiche de 007. Com o sucesso da franquia protagonizada por Sean Connery no período, muitos filmes tentaram emular a charmosa trama de ação/espionagem, enquanto outras fitas procuraram parodiar a história do Bond com o humor ridículo e exagerado. Uma Dupla em Ponto de Bala parte do segundo estilo, e há um bom comprometimento com o contexto mais bobo, como a dinâmica do charme britânico de Lawford com a atuação maneirista e paspalhona de Sammy Davis, mas a execução se restringe ao roteiro genérico, cheio de frases de efeito medonhas, o contínuo humor de mal gosto que citei, que também não consegue ser um bobo inteligente, e preza pela infantilidade em diálogos frívolos sobre roupas, pegar mulheres e fumar cigarros.

Richard Donner até tenta dar um sabor à aventura tediosa com algumas sequências criativas, como um carro cheio de apetrechos ou uma luta no interior de um submarino, mas o texto é firme na sua proposta de tornar cada conversação uma leitura cansativa de exageros infantilizados, com personagens gritando a todo momento ou expressando obviedades narrativas que identificam o espectador como imbecil. Além disso, as piadas de baixo escalão, os contornos preconceituosos, a boa química dos protagonistas resignada a conversas expositivas e irritantes, a montagem cansativa do primeiro ato, entre outros (vários) pontos negativos, colocam Uma Dupla em Ponto de Bala no seu lugar esquecível de um filme que tenta ser pastiche de 007, mas é apenas uma versão ruim de espionagem misturada com buddy cop.

Uma Dupla em Ponto de Bala (Salt and Pepper) – Reino Unido, 1968
Direção: Richard Donner
Roteiro: Michael Pertwee
Elenco: Sammy Davis Jr., Peter Lawford, Michael Bates, Ilona Rodgers, John Le Mesurier, Graham Stark, Ernest Clark, Jeanne Roland
Duração: 102 min.

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