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Crítica | Uma Sepultura na Eternidade

por Guilherme Coral
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estrelas 3,5

Baseado na minissérie britânica Quatermass and the Pit e continuação de Terror que Mata Quatermass 2Uma Sepultura na Eternidade funciona plenamente como uma obra fechada em si própria, não requisitando um conhecimento prévio do espectador sobre as histórias anteriores do protagonista, o Prof. Bernard Quatermass (Andrew Keir). O filme segue uma estrutura bastante típica da ficção científica da época, com uma produção e roteiro que muito nos lembram episódios de Doctor Who, especialmente a era do Terceiro Doutor, vivido por Jon Pertwee, que pode ser facilmente comparado a Quatermass, que, no caso, o precedeu por alguns anos.

Iniciamos a projeção em uma escavação, uma expansão do metrô de Londres, onde encontram estranhos esqueletos de humanóides. A descoberta, porém, não se encerra por aí. Uma espécie de espaçonave também é encontrada, embora muito rejeitam a noção, considerando apenas um vestígio dos ataques nazistas durante a Segunda Guerra. Não muito longe dali Bernard Quatermass descobre o incidente e é praticamente forçado a investigar, tanto por ordens quanto pela sua própria curiosidade. Mal sabia, contudo, que o material encontrado está longe de estar inativo.

Uma Sepultura na Eternidade lida com diferentes conceitos tanto da ficção científica quanto do folclore ocidental. Une as noções de alienígenas e antigas crenças, procurando oferecer uma explicação para a origem da raça humana, ao mesmo tempo que mantém sua narrativa em um constante suspense que rapidamente engaja o espectador. Utilizando uma linguagem da televisão da época, mantendo uma estrutura clássica, o longa enfatiza unicamente a progressão da trama, apoiando-se nos efeitos práticos, alguns especiais e no trabalho de direção, que traz dos diversos personagens o espanto que procura causar na audiência.

Nesse aspecto notamos claramente que o filme sofreu um pouco com o passar dos anos, atuações exageradas preenchem as cenas mais agitadas, onde o incrível, agora em 2015, não passa de apenas mais um exemplo da ficção científica já tanto explorada. A tentativa de criar uma maior tensão, portanto, acaba sofrendo especialmente considerando que, na maior parte da obra, apenas vemos alguns objetos voarem de um lado para o outro da tela. O realismo acaba se perdendo em inúmeros pontos da narrativa, mas felizmente nossa imersão é resgatada no frenético clímax, que surpreendentemente mantém o tom de suspense presente em todo o filme.

Nesse aspecto, Uma Sepultura na Eternidade se sobressai a outros exemplos do gênero, tanto de sua época quanto da atualidade. Não há uma superexposição do elemento estranho que gera toda a problemática da trama. Ele é mantido em uma aura de mistério, mais explicado por teorias que por fatos em si. O resgate de elementos do misticismo, mesclados com explicações científicas funciona em todos os aspectos da obra, tornando esta uma ficção científica por excelência. A ausência de atos de heroísmo ainda amplia essa noção, criando uma sórdida sensação de desamparo no espectador, especialmente nos momentos finais que encerram a narrativa de forma abrupta, mas satisfatória, deixando aquele notável “gosto de quero mais”.

Trata-se, portanto, de um longa-metragem bastante simples, que claramente foi retirado de episódios feitos para a televisão. Mas em nenhum ponto isso é algo ruim, há uma nítida despretensão que apenas nos faz gostar mais da maneira como é conduzido. É marcado, sim, por alguns deslizes, mas, em geral, Uma Sepultura na Eternidade é um ótimo exemplo de como o sci-fi não precisa de granes megalomanias para nos cativar, bastando incentivar nossa criatividade e trabalhar em um nível mais psicológico, ao invés do puro espetáculo de explosões e lasers.

Uma Sepultura na Eternidade (Quatermass and the Pit – Reino Unido, 1967)
Direção:
 Roy Ward Baker
Roteiro: Nigel Kneale
Elenco: James Donald, Andrew Keir, Barbara Shelley, Julian Glover, Duncan Lamont, Bryan Marshall
Duração: 97 min.

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