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Crítica | Uma Verdade Mais Inconveniente

por Guilherme Coral
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Não é tarefa fácil realizar a sequência de um documentário sobre mudanças climáticas (provocadas pelo homem), em essência, o que poderia ser mostrado em relação a dados sobre o aquecimento global seriam apenas desdobramentos do que já vimos em Uma Verdade Inconveniente, documentário vencedor do Oscar, lançado em 2006. Dito isso, o que eu esperava ver aqui em Uma Verdade Mais Inconveniente – tradução que tira grande parte da mensagem passada pelo título original – era algo na linha da versão atualizada da série Cosmos, apresentada primeiro pelo saudoso Carl Sagan e, na mais recente, por Neil deGrasse Tyson. A obra, porém, não se trata de mera atualização e sabe firmar sua relevância ao lidar com assuntos relacionados extremamente pertinentes ao aquecimento global.

Logo de início ouvimos trechos de entrevistas e depoimentos de personalidades políticas ou da mídia desmerecendo os esforços de Al Gore em conscientizar o público e os políticos sobre o fenômeno que afeta nosso planeta. Tais vozes em off já nos preparam para um dos focos do documentário: a resistência por parte do governo (influenciado por grandes empresas) em combater o aquecimento global. Continuamos, através de imagens de arquivos e filmagens exclusivas ao longa-metragem, assistindo como a energia renovável é colocada em segundo plano pelas companhias ligadas ao petróleo, além de enxergar os efeitos do baixo investimento em sustentabilidade, com geleiras derretendo e outros fenômenos como a onda de alagamentos no sul dos EUA.

Similarmente ao seu antecessor, Uma Verdade Mais Inconveniente é capaz de nos manter atentos através dos dados oferecidos, todos profundamente relevantes dentro do nosso cenário atual. Mais uma vez a obra foca, de maneira até dramática, na luta de Al Gore, quando poderia deixá-lo mais como porta-voz e menos como protagonista, mas nada que efetivamente estrague a mensagem do longa, que é a de que precisamos mudar nossas ações a fim de criar um futuro para as gerações futuras. Nesse sentido, é interessante observar como essa sequência leva em conta o impacto da obra anterior, deixando bem claro que, mesmo sua alta repercussão, não foi o suficiente para causar as mudanças necessárias – foi apenas um passo na direção certa.

Por mais envolvente que seja, ainda mais lidando com o conturbado cenário político atual, o longa carece do apelo cinematográfico de seu antecessor, a tal ponto que sentimos a ausência do diretor Davis Guggenheim, que sabia muito bem transformar as palestras de Al Gore em algo dinâmico na telinha, fugindo do mero “teatro filmado”. Não que Bonni Cohen e Jon Shenk sejam incapazes de criar algo imersivo, mas ele certamente não nos prende tanto, visto que a dupla não ousa tanto, optando mais pela câmera estática em planos mais “convencionais”. Similarmente, a montagem de Don Bernier e Colin Nusbaum não traz a mesma fluidez do primeiro filme, intercalando mais burocraticamente entre as imagens de arquivo e as filmagens em si.

Uma Verdade Mais Inconveniente, portanto, demonstra estar aquém de seu antecessor, mas não por isso quer dizer que seja uma obra menos relevante. Trata-se de uma sequência que não apenas atualiza, mas expande as informações oferecidas em Uma Verdade Inconveniente, comprovando sua importância no cenário atual, afirmando que será preciso mais que a conscientização para presenciarmos uma efetiva mudança quando se trata do aquecimento global. Resta torcer para que o impacto da obra seja tão relevante quanto o que é mostrado nela.

Uma Verdade Mais Inconveniente (An Inconvenient Sequel: Truth to Power) — EUA, 2017
Direção:
 Bonni Cohen, Jon Shenk
Roteiro: Al Gore
Com: Al Gore, George W. Bush, John Kerry,  Angela Merkel, Barack Obama,  Vladimir Putin, Donald J. Trump
Duração: 98 min.

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