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Crítica | Universidade Monstros

por Davi Lima
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O que é assustador é o conflito moral, o que faz graça é a tentativa de assustar e o que dramatiza é o terror. São vários termos que se revertem ou se mostram estranhos nesse filme, ambos centrados em como o protagonista Mike Wazowski, em sua ousadia e autoestima assustadoramente propositiva, alcança sua epifania transgressora para o universo dos monstros da Pixar.

Nesse prólogo descarado do filme Monstros S.A, com cada referência explicada e contextualizada, o universo Pixar expõe seu projeto de criatividade sem suspensão de descrença. Não há acomodação de uma narrativa dentro de um mundo Pixar implicitamente verossimilhante que vai ser descoberto. A proposta do diretor Dan Scanlon parece ser limitada a expectativas objetivas ou a reversos blasés, pois em sua história a apresentação da Universidade Monstros, e a caracterização do mundo real da instituição Universidade para o mundo dos monstros, segue o sentido contrário quanto ao estúdio Pixar provocar universos animados a partir da criação de seus personagens roteirizados e desenhados antes do projeto 3D. Assim, toda verossimilhança é um mero espelhamento, uma piada dentro do campus se torna redundante, porque ao se adentrar no filme cada estranhamento e diferencial é explicado para se compreender o espaço narrativo do protagonista Mike Wazowski como a criança monstro determinada e admiradora da arte de assustar.

Mas o filme, em seu tema principal, nem é sobre a arte de assustar ou sobre como a universidade funciona para explicar como os conhecidos personagens Mike (Billy Cristal) e Sulley (John Goodman) chegaram a serem os melhores assustadores da empresa de sustos chamada Monstros S.A. Se o diretor Dan Scanlon exercita a obviedade de seu mundo ele também busca quebrar a expectativa paulatinamente dentro dele, como água pedra dura tanto bate até que fura. Se o seu meio de caracterização universitário é juvenil e Mike tem uma personalidade indizível quanto a seu sonho, os conflitos se baseiam na infantilidade competitiva do jovem, em que o desafio é o que leva o filme progressivamente entre a raiva silenciosa da diretora da universidade Hardscrabble (Helen Mirren) e a sorte conveniente de monstros assustadores perderem por trapaça, ou por tentarem assustarem adolescentes. O filme se arranja de maneira mais consistente quando visualmente, em rapidez de montagem, representa treinamentos de susto dos personagens, tudo para o espírito competitivo surgir e a impossibilidade essencial do universo de monstros se mostrar evidente, o implícito interior que o diretor desenvolve: nem todo monstro é realmente assustador, e nem todo monstro é um monstro de fato como se define nominalmente na verossimilhança do que esse universo “pixalado” sempre se divertiu em tratar

Nisso consta o conflito, entre a alta exposição da criatividade do mundo de monstros, em todo o seu 3D pixelado de qualidade e o mundo real com crianças, adultos, sem monstros, apenas seres humanos. Esse mundo realista da realidade do espectador é que fato se mostra realmente assustador para os universitários, os monstros universitários. Porém, o protagonista Mike é célebre, o personagem instituído como vitorioso desde do princípio do filme cria a expectativa finalmente em como ele e Sulley se tornarão os grandes assustadores da S.A, mas agora sem direcionamento protocolar explicativo para isso. É o reverso preparado na constância inerte dos desafios para os grupos de fraternidade universitária, pois tanto a moral de Sulley quanto a assustadora vitória corrompida de Mike transfigura o reflexo do troféu da competição de sustos em verdadeira vergonha assustadora. Na jornada universitária, a vergonha vem do espírito competitivo como prólogo para se conquistar o melhor emprego sem a moral inerente.

Logo, apenas o universo realista, não mais verossimilhante, poderia transpor a impossibilidade de Mike ser assustador. O conflito de universos, onde Sulley é mais assustador ele sente medo, e onde Mike é assustado pelas crianças ele se sente corajoso. A antítese perfeita de uma dupla, a quebra de expectativa que se baseia na forma de assustar como um verdadeiro filme de terror. No auge do entretenimento, um último ato em que o estúdio Pixar se mostra conhecedor da arte do susto dos filmes de terror, Mike é o pintor da obra, enquanto Sulley posa para o quadro aterrorizante. O diretor Dan Scanlon não verbaliza o que seu final representa, ele afunila toda a sua trama de reversos, descrevendo, assim, o limiar do humor e terror, a quebra de expectativa em sua alta honestidade de entregar ao público a recompensa de um suspense expositivo.

Enfim, Universidade Monstros é um filme autodestrutivo e limitado dentro de suas formulações criativas, mas segue à risca sua proposta em fazer um prólogo protocolar e aproveitando as possibilidades que uma inércia narrativa pode fomentar. Isso é assustadoramente estranho, mas isso é cinema e isso é animação, sempre tendo mais possibilidades que o realismo por já trabalhar com as variadas dimensões em disposição do artista, seja no digital 3D ou no 2D.

Universidade Monstros (Monsters University) – EUA, 2013
Direção: Dan Scanlon
Roteiro: Daniel Gerson, Robert L. Baird, Dan Scanlon
Elenco: Billy Crystal, John Goodman, Steve Buscemi, Helen Mirren, Peter Sohn, Joel Murray, Sean Hayes, Dave Foley, Charlie Day, Alfred Molina, Tyler Labine
Duração: 104 min.

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