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Crítica | Valérian e Laureline: Terras em Chamas

por Luiz Santiago
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Seguindo imediatamente os eventos de A Cidade das Águas Movediças (1968), Terras em Chamas foi originalmente publicada na revista Pilote, entre as edições #492 a 505 (10 de abril a 10 julho 1969). Já neste terceiro arco da série Valérian e Laureline, os autores conseguiram avançar muito em termos de inserções complicadas de elementos da ficção científica, uso de tecnologia de diferentes períodos da História da Terra e incrível organicidade do roteiro em uma trama que aparentemente não tem “nada demais”.

Saímos das terras inundadas da Costa Leste dos Estados Unidos, passamos pelos Apalaches e chegamos às Montanhas Rochosas, mais especificamente ao Estado do Wyoming. As cenas neste cenário são excelentes. Passamos por cânions, cavernas e pelo Parque Nacional de Yellowstone na perseguição a Xombul, com uma linha de acontecimentos bem mais madura do que nas histórias passadas. Sem resoluções fáceis, esta história já denota um grande amadurecimento de Pierre Christin nos roteiros e sua exposição dos agentes espaço-temporais ao perigo, a boa divisão da história em atos e a forma como ela caminha para a conclusão — sem a necessidade de dar todas as repostas mastigadas, o que também é ótimo — são ingredientes que fazem de Terras em Chamas uma saga eletrizante pelos Estados Unidos distópico de 1986.

Aqui nós temos a oportunidade de conhecer o gênio Dr. Schroeder, que é baseado em Julius Kelp, o personagem interpretado por Jerry Lewis em O Professor Aloprado (1963). Ele é uma adição muito interessante à história, bem mais que o músico e gângster Sun Rae, que começou bem, mas aos poucos caiu em um espaço onde Christin parece que não sabia o que fazer com ele, então o colocou em algumas escolhas típicas de gângster e o deixou no QG de Xombul, em Yellowstone. No final da história o personagem volta a ter relevância — e quando digo “no final da história” é realmente no último quadro –, porque serve como contraponto às pesquisas para reconstrução do mundo que o Dr. Schroeder encabeçaria, junto aos cientistas do mundo inteiro reunidos na Universidade de Brasília.

plano critico xombul valerian e laureline

O covil de Xombul e Valérian, Laureline e o Dr. Schroeder, dentro de suas bolhas-prisão, pegos por uma erupção vulcânica.

Trazido por Valérian e Laureline para o Brasil, o Dr. Schroeder será a base intelectual do “novo mundo”, certamente uma ironia e ao mesmo tempo uma boa jogada de humor de Pierre Christin. E o mais interessante é o fechamento de um pequeno arco aberto lá em Os Maus Sonhos, quando Brasília é um centro de recepção e continua sendo nesta trama, por onde Laureline consegue chegar ao ano de 1986 e por onde ela e Valérian fogem.

Outra coisa interessante dessa história é a sua independência em relação a A Cidade das Águas Movediças, mesmo sendo uma continuação dela. A trama só toma o contexto locacional como foco, ou seja, o fato de os agentes espaço-temporais e Sun Rae estarem em uma Terra destruída, após a explosão de uma bomba nuclear no Pólo Norte e o fato de a Terra estar respondendo à altura, com aumento absurdo do nível dos oceanos, tempestades, radiação se espalhando, grandes terremotos e erupções vulcânicas intensas, ao que parece, em todo o mundo. Um verdadeiro cenário apocalíptico.

Após o rápido período de adaptação à jornada de Terras em Chamas, logo nas primeiras páginas (demora um pouquinho para esta segunda parte da missão engatar) começamos a entender muitos mistérios do futuro em Galaxity e tanto o texto quanto a arte ficam bem mais interessantes ao retratar elementos espaciais e cenários grandiosos. Os desenhos de Jean-Claude Mézières e as cores de Évelyne Tranlé se adaptam muito bem a cada bloco geográfico, dos grandes centros urbanos em completo caos, passando pela natureza descontrolada e chegando ao satélite na órbita da Terra, o lugar onde as sementes de uma nova sociedade seriam plantadas (ou encontradas) séculos adiante. Um fechamento coerente para uma história de catástrofe que, se adaptada, daria um ótimo filme de grandes desastres naturais.

Valérian e Laureline: Terras em Chamas (Valérian et Laureline: Terre en Flammes) — França, abril a julho de 1969
No Brasil: Valérian Integral N°1 (Edição Especial – Sesi-SP Editora, 2017)
Roteiro: Pierre Christin
Arte: Jean-Claude Mézières
Cores: Évelyne Tranlé
28 páginas

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