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Crítica | Vamos Salvar a Baleia!, de Thomas Brezina

Uma aventura havaiana juvenil envolvendo conspirações e proteção aos cetáceos.

por Leonardo Campos
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A literatura infanto-juvenil tem uma importante missão na formação de leitores. Se tivéssemos um mundo com mais pessoas leitoras, com certeza poderíamos desfrutar de índices menores de desigualdade social e indivíduos no desenvolvimento pleno de suas respectivas cidadanias. Vamos Salvar a Baleia, de Thomas Brezina, escritor do ramo no campo literário alemão, teve a sua publicação veiculada por aqui em 1999, pela editora Ática. Vinculado ao selo Vaga-Lume Júnior, o livro é uma aventura divertida, dinâmica, com mescla de elementos de diversos gêneros, dando ainda ênfase ao processo de conscientização ambiental, tão em voga na contemporaneidade. Ao longo de suas 112 breves páginas, a maioria ilustrada por Magdalene Hanke-Basfeld, acompanhamos a jornada de três jovens numa viagem para o Havaí, o 50º estado do território estadunidense, região que é um agrupamento de ilhas, tendo Honolulu como capital. Lu é o personagem que encara a postura protagonista, com sua boina de marinheiro, tomando as rédeas da resolução dos conflitos que encontrarão pelos caminhos que traça com os seus amigos. Temos ainda o preguiçoso Bastian e a pequena Lina, dona do cachorrinho Bob Bond.

Com as aulas suspensas na instituição de ensino onde estuda, o trio embarca para uma aventura nas belíssimas paisagens do Havaí. Lá, eles pensam inicialmente em diversão, mas acabam inseridos numa rede de intrigas, uma trama conspiratória no olho do furacão da perigosa caça aos cetáceos, hoje ameaçados de extinção e tópico temático dos debates no âmbito dos discursos ambientalistas. É assim que o proativo Lu, a dona do cachorrinho cheio de protagonismo e o brincalhão Bastian enfrentarão grandes desafios, colecionando aventuras para contar ao longo do resto de suas longas vidas. Nos 18 capítulos de Vamos Salvar a Baleia, dialogamos com essas situações empolgantes, mas todas mornas, talvez ideais para o público alvo, numa proposta que preza pelo “discurso correto”, mas acaba mergulhado, tal como os jovens desta aventura, em alguns estereótipos corriqueiros, como a representação da cientista especializada em baleias, tratada como alguém exótica, estranha, o mesmo acontecendo com um dos professores dos meninos, um profissional das ciências, alguém retratada como um homem esquisito, bobagens que parecem ser coisas de quem está pensado demais, mas na verdade, está conectado com a formação do leitor jovem e o respeito diante das “diferenças”.

O livro, como já mencionado, publicado por aqui no final da década de 1990, pode não ser uma aventura envolvente para os leitores adultos, haja vista a sua perspectiva amena dos conflitos apresentados, uma espécie de simplificação absoluta do que poderíamos contemplar, por exemplo, numa obra-prima existencialista ao estilo Moby Dick, de Herman Melville, ou então, no tom aventureiro mais acessível de Nathaniel Philbrick, conhecido pelo ótimo No Coração do Mar, transformado em filme por Ron Howard em 2015. Mas, ainda assim, Vamos Salvar a Baleia pode ser considerada uma leitura suportável, mesmo que o foco maior do livro, para os interessados em vida marinha e questões biológicas, estejam envoltas no cachorrinho Bob Bond, um daqueles animais humorados e antropomórficos comuns na ficção. E, por falar no famoso cachalote branco do romance clássico de 1851, mesmo que não tenha associações diretas, costumo introduzir o complexo livro de Melville para os estudantes do Ensino Fundamental com este livro de Thomas Brezina, num feixe de intertextualidades que costuma ser benéfico nos processos de ensino e aprendizagem de literatura. No geral, uma proposta de conexões.

Ao passo que escrevia este texto, pensava o quão forçada poderia ser uma associação com o clássico de Herman Melville, talvez porque a ligação imediata seja realizada pelo tema envolvendo uma baleia. Mas não é. Tudo bem que no ato da compra do livro, minha pesquisa tratava de qualquer literatura sobre o tópico temático em questão, no entanto, percebi ao longo da leitura e da estrutura de Vamos Salvar a Baleia. Tanto na abertura quanto no desfecho da publicação, temos uma série de informações sobre o território havaiano, peculiaridades sobre o seu alfabeto sonoro, sua geografia, dentre outros aspectos. Há também uma menção ao universo das baleias, suas espécies, etc. Isso é realizado, salvaguardadas as devidas proporções comparativas, por Ismael, narrador testemunha de Moby Dick, romance conhecido por colocar filosofia, sociologia, economia baleeira e cetologia, ramo da zoologia que estuda a vida dos cetáceos, isto é, os mamíferos marinhos que, durante muito tempo, foram associado ao grupo dos peixes. Aqui, encontramos informações sobre cachalotes, jubarte, dentre tantas outras baleias que, segundo o título do livro, precisam ser salvas da extinção.

Vamos Salvar a Baleia (Wer Jagt Den Buckelwal?) — Alemanha, 1996
Autor: Thomas Brezina
Tradução: Maria Estela Heider Cavalheiro
Editora no Brasil: Ática (1999)
Ilustrações: Magdalene Hanke-Basfeld
Páginas: 112

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