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Crítica | Vencer ou Morrer

por Ritter Fan
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Querendo ou não, os longas dos primeiros anos da carreira de Jean-Claude Van Damme, mesmo os piores, continham alguns elementos marcantes que os diferenciavam dos demais filmes B lançados na época. Sejam os espacates dolorosos, as câmeras lentas exageradas, as caras e bocas cômicas, ou sequências como a da crucificação em Cyborg: O Dragão do Futuro ou a da “dancinha” em Kickboxer: O Desafio do Dragão, sempre havia algo para tornar o ridículo de alguma forma memorável. Vencer ou Morrer, o primeiro de um pacote de três filmes do ator/lutador belga para a Columbia Pictures que foi lançado no ano seguinte ao bem-sucedido Soldado Universal, não tem um desses elementos, o que acaba resultando em uma obra apenas comum que se fia no carisma e sucesso do protagonista, além da presença de Rosanna Arquette no elenco, para sair do puramente genérico e derivativo.

O roteiro é uma costura de clichês do gênero de drama misturado com ação. Temos Sam Gillen (Van Damme), um homem condenado por um crime que não cometeu que escapa da prisão com a ajuda de seu parceiro, temos a chegada dele a um rancho onde a bela viúva Clydie Anderson (Arquette) vive com seus dois simpáticos filhos, Mookie (Kieran Culkin) e Bree (Tiffany Taubman) e temos o inescrupuloso especulador imobiliário Franklin Hale (Joss Ackland) que, com seu capanga Mr. Dunston (Ted Levine) e corrompendo o xerife Lonnie Poole (Edward Blatchford), que por sua vez tem um caso com Clydie, faz de tudo para expulsar os fazendeiros da região. E, claro, entre um tropo e outro, mais alguns são inseridos, como a conexão imediata do fugitivo e Mookie, que sente falta de seu pai e, claro, a conexão amorosa entre Sam e Clydie, além da valentia de Sam em lutar contra as sabotagens constantes dos malvadões.

Sempre digo que clichês não são inerentemente problemáticos, já que muitos deles, com variações aqui e ali, fazem parte da infraestrutura de como se contar uma história. O que realmente interessa é como eles são usados em uma obra audiovisual, especialmente se eles apresentam características que vão além do mero “copia e cola”. Em Vencer ou Morrer, porém, os clichês são apenas clichês mesmo, sem absolutamente nada de especial neles. Sim, a história é coerente e sim, o resultado consegue ser agradável naquela linha básica que, assim que os créditos sobem, esquecemos o que ocorreu ou começamos quase que imediatamente a confundir o que acabamos de ver com outras centenas de obras parecidas. Trata-se de um filme que fica ali perdido na vala comum a que tantos outros são destinados, não conseguindo se destacar nem para cima (como Leão Branco, o Lutador Sem Lei) e nem para baixo como o já citado Cyborg, ainda que, surpreendentemente, ao final, não vejamos aquele encerramento redondinho e feliz que parecia ser inevitável.

Nem mesmo as famosas lutas de Van Damme conseguem trazer algo que tirem o longa de seu padrão quase que cirurgicamente mediano. Para começar, elas são poucas e bem espaçadas. Além disso, a coreografia, mais para o lado de “briga de rua” do que para uma demonstração de artes marciais, é paupérrima, sem nenhum momento que consiga levantar sobrancelhas. A direção de Robert Harmon, que só teve um acerto real em sua carreira, o inesquecível A Morte Pede Carona, de sete anos antes, é inexpressiva mesmo nos momentos mais movimentados, ainda que uma ou duas sequências muito rápidas sejam inspiradas, como o travelling rápido em direção a um buraco de bala feito na cerca por uma carabina e o arremesso de Mr. Dunston no para-brisa de uma viatura policial.

Mas mesmo sendo apenas joio em meio a uma seca de trigo, o filme é inegavelmente confortável. Sabem aquelas comidas processadas e nada saudáveis que volta e meia é tudo o que queremos por alguns minutos? Pois Vencer ou Morrer é bem isso, uma besteira qualquer para passar tempo sem compromisso, sem pedir mais do que um gostinho familiar na boca, ainda que fique aquela sensação de que não precisava de muito para ele ser mais do que apenas descartável.

Vencer ou Morrer (Nowhere to Run – EUA, 1993)
Direção: Robert Harmon
Roteiro: Joe Eszterhas, Leslie Bohem, Randy Feldman (baseado em história de Joe Eszterhas e Richard Marquand)
Elenco: Jean-Claude Van Damme, Rosanna Arquette, Kieran Culkin, Tiffany Taubman, Joss Ackland, Ted Levine, Edward Blatchford, Anthony Starke, James Greene
Duração: 95 min.

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