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Crítica | Vende-se Imóvel

por Leonardo Campos
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O horror como gênero permeado no sistema de produção cinematográfica brasileira é um caminho sem volta, para o bem do nosso esquema de realização transformado numa plataforma de narrativas múltiplas, distante do exclusivismo em relação aos produtos da Globo Filmes, bem como as comédias com elenco de celebridades das telenovelas e blogueiras famosas nas redes sociais. Há tempos saímos também da via de mão-dupla entre o sertão e a favela, marco do Cinema Novo que se fez presente em longos momentos do que se convencionou a chamar de Cinema da Retomada. Agora, podemos dizer que temos um cinema de horror forte, cada vez mais solidificado, haja vista o numeroso volume de lançamentos com casas assombradas, presenças espirituais, assassinos em série e até mesmo tramas com exorcismos e possessões demoníacas. Há, ainda, uma trilha a ser percorrida para que tenhamos mais representação neste segmento, indo além da nossa maior referência até pouco tempo, José Mojica Marins, o icônico Zé do Caixão, nome importante da cinematografia brasileira, não mais o único no bojo das narrativas de horror.

No desenvolvimento de Vende-se Imóvel, lançado em 2019, temos 72 minutos de uma narrativa bastante próximo do que o público e a crítica chamam de cinema amador, estratégia talvez proposital de Jean Grimaud Gauthereau, responsável por dirigir, escrever, montar, fotografar, conceber a arte e a cenografia, conduzir musicalmente e finalizar o seu filme de casa assombrada e presenças sobrenaturais. Na trama, Anderson (Giggio Mariani) viaja em busca de uma casa de campo por uma estrada deserta, ampla, algo que oferta uma atmosfera ominosa, principalmente pelo fato dele dirigir de maneira imprudente, sempre a olhar para os lados ou conversando, sem cuidado na condução. A sensação é a de um acidente para logo mais, no entanto, somos driblados por essas expectativas quando ele, ao viajar com a namorada e a irmã, passa diante de uma placa relacionada ao título do filme. Param, decidem investigar e são convidados para ficar no local.

Quem os recepciona é a proprietária, uma senhora aparentemente gentil. Ela mora com o seu filho, um rapaz que não fala uma palavra sequer, vítima de um acidente no passado que o impossibilitou de administrar um dos sentidos. Interessada no espaço, a namorada de Anderson não ousa negar o convite da anfitriã para passar a noite no local, algo que ele nega inicialmente, mas depois cede. Será então no domínio da noite trevosa que acontecimentos inexplicáveis começam a acontecer, deixando-os apavorados, temerosos acerca do destino de suas vidas depois dessa empreitada sobrenatural. O que será os estranhos sons oriundos de locais variados da casa? E o ranger de objetos? Onde estão os proprietários? Será que eram o clichê dos anfitriões mortos? Nos desdobramentos de Vende-se Imóvel, o cineasta Jean Grimaud Gauthereau coloca os seus personagens em situações adversas, mas aproveita muito pouco até mesmo dos clichês do subgênero casas assombradas, recurso que em último caso, daria algum ritmo ao filme.

Arrastada, a produção é a típica narrativa de gênero bastante específico, com direcionamento de público bem delineado. E, ainda no interior deste segmento de nicho, peca por não contemplar bem os conflitos que inicialmente nos remetem ao clima de Ash em A Morte do Demônio, mas depois caminha para outro lugar. Da narrativa de Sam Raimi, há a irmã quieta demais, contemplativa e misteriosa, o lugar abandonado, a casa sombria e o tom fantasmagórico. Ademais, fora o clima estabelecido em sua abertura e nos primeiros momentos, Vende-se Imóvel demonstra que possui uma boa proposta, mas executada irregularmente. A direção não dá conta adequadamente do seu elenco e fora o protagonista de Giggio Mariani, os demais personagens são caricatos, desempenhados num modelo de encenação teatral, não condizente com o tom que se espera de uma narrativa cinematográfica. Passo computado na trajetória histórica do horror como autêntico gênero brasileiro, o filme de Gauthereau carece de melhor desenvolvimento e desfecho.

Vende-se Imóvel — Brasil, 2019
Direção: Jean Grimard Gauthereau
Roteiro: Jean Grimard Gauthereau
Elenco: Ana Almeida, Giggio Mariani, Vanessa Ribeiro, Vera Diez, Wellington Astorga
Duração: 100 min.

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