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Crítica | Venom (2018) – Vol. 2: O Abismo

por Ritter Fan
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Parafraseando Calvin Candie, Donny Cates tinha minha curiosidade, agora ele tem minha completa atenção. E isso principalmente por ele não tentar fazer mais com Venom e sim menos, mas sem perder sua capacidade de reinventar o personagem. O Abismo, segundo arco da nova publicação solo do personagem na iniciativa Fresh Start da Marvel Comics, larga o lado cósmico que mudou tudo o que sabíamos sobre o simbionte e foca no sempre sofrido Eddie Brock, mas também mexendo em seu passado.

O começo do arco já coloca Eddie nas garras do Criador, a versão interessante e de capacete de Reed Richards vinda do Universo Ultimate. Ao longo de toda as duas primeiras edições, aprendemos que houve um salto temporal de cinco semanas entre os eventos cataclísmicos no final de Rex e os eventos da primeira página, com Eddie imobilizado e de barba. Nesse meio tempo, aparentemente muita coisa aconteceu – o Criador obteve uma amostra do deus-dragão que fora incinerado, mas que acabou sendo roubada dele -, mas Eddie nada se lembra. Seu simbionte, aliás, permanece ali, mas sem consciência, sem conversar com seu hospedeiro, mas ainda defendendo-o e com os mesmos poderes originais, sem os extras temporariamente obtidos no arco anterior. O Criador quer saber de Eddie o que houve com a amostra, mas o próprio Eddie não sabe.

A memória tem um papel importante ao longo de todo o arco, notadamente depois que as duas primeiras edições bem estabelecem o novo status quo, permitem uma lembrança muito interessante de Flash Thompson como Agente Venom e colocam Eddie – não o simbionte, que agora é um cachorro, separado fisicamente dele – em uma jornada pessoal de redescoberta que começa com uma visita a seu pai em São Francisco e inclui a revelação de que ele tem um meio-irmão, Dylan. Donny Cates, portanto, troca os fogos de artifício de sua abordagem anterior e traz a narrativa para um lado íntimo que remexe e muda bastante o passado de Eddie Brock com sua família, o que o leva a uma revelação chocante, mas muito bem inserida sobre a exata natureza de sua relação com o simbionte.

Já por diversas vezes tive a oportunidade de me manifestar sobre retcons e minha posição é muito simples: eles são necessários em quadrinhos mainstream, quase que como uma troca de pele que os répteis fazem para crescer. Tudo o que peço é que eles sejam bem feitos. E, por mais insanas e bizarras que tenham sido as alterações introduzidas por Cates no volume anterior, elas foram muito bem trabalhadas, ampliando em muito a presença de Venom na tessitura do universo cósmico Marvel. E, agora, ao olhar para o lado pessoal, Cates acerta novamente mesmo que ele tenha que recorrer ao desfazimento dos mega-poderes que Venom ganhara em seu embate em larga escala com o deus dos simbiontes (mas desconfio que eles voltarão mais cedo ou mais tarde) e também inserindo algumas conveniências de roteiro, como a presença do Criador como “veículo explicativo” para o leitor (mas que prepara toda uma outra linha narrativa a ser explorada no futuro) e usando o artifício do enxerto de reviravoltas em cima de reviravoltas que talvez cansem um pouquinho os leitores mais avessos à esse tipo de “golpe narrativo”, como é meu caso. Mas ele acerta muitas vezes também, para compensar, ao abordar de maneira surpreendente o momento de “origem” por assim dizer do Eddie Brock que conhecemos e o consequente azedamento com a relação com o pai, além de lidar com assuntos difíceis e doloridos como violência doméstica contra crianças.

Ryan Stegman volta como o artista do arco, mas não trabalhando-o por inteiro. Os dois números iniciais ficaram com Iban Coello e os dois últimos com Joshua Cassara (que dividiu o penúltimo com Stegman). No entanto, muito provavelmente para manter a unicidade visual, não só os dois outros artistas foram escolhidos a dedo por estilos que conversam bem com o de Stegman, como claramente foi feito um esforço para que a arte do desenhista principal fosse a linha mestra. Com isso, não há grande solução de continuidade entre um volume e outro e, mesmo dentro do volume, as flutuações na arte são leves, o que emprestam uma visão de conjunto harmônica. No entanto, diferente de Rex, aqui não há a necessidade de grandes arroubos criativos, com variações dos simbiontes ou um dragão simbionte. E é bom ver que Stegman e os demais conseguem se adaptar às exigências menos, digamos, histéricas de anteriormente, o que empresta a necessária pessoalidade ao drama familiar de Eddie Brock.

E é por isso que, no final das contas, Donny Cates triunfa novamente e sedimenta seu nome não só como um artista que gosta e sabe lidar com exageros e maluquices, como também um roteirista comedido e sensível quando quer ser, o que aumenta consideravelmente sua latitude narrativa. Seu Venom é a prova que, mesmo em doses cavalares, retcons podem ser bons. Está aí uma mente criativa a ser fielmente seguida.

Venom (2018) – Vol. 2: O Abismo
Contendo: Venom (Vol. 4 – 2018 – ) #7 a 12
Roteiro: Donny Cates
Arte: Iban Coello (#7 e 8), Ryan Stegman (#9 10, 11), Joshua Cassara (#11 e 12)
Arte-final: JP Mayer (#9 10, 11), Joshua Cassara (#11)
Cores: Andres Mossa (#7 e 8) Frank Martin (#9 10, 11), Rain Beredo (#12)
Letras: Clayton Cowles
Editoria: Devin Lewis, Lauren Amaro, Danny Khazem
Editora original: Marvel Comics
Data original de publicação: dezembro de 2018 a março de 2019
Páginas: 136

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