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Crítica | Verão de 85

por Kevin Rick
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Verão de 85, o mais recente filme do prolífico cineasta francês François Ozon, é um conto agridoce de amor e morte no coming of age romântico de dois jovens franceses opostos, complexos e apaixonados principalmente pelo ideal um no outro – pior maneira de se iniciar um relacionamento, não? -, proposto na viagem nostálgica aos anos 80, sempre naquela busca vibrante pelo retrô e vigor sensual do período.

Baseado no romance Dance on My Grave, de Aidan Chambers, é complicado não assistir Verão de 85 sem se lembrar do recente Me Chame Pelo Seu Nome, pois atravessa a mesma temática de duas almas que se encontraram por uma única temporada e como isso moldou a identidade sexual de um jovem daqui para frente. Contudo, a maneira como este estudo da sexualidade juvenil é concebido na obra de Ozon se difere bastante do louvado filme de 2017, pois insere a tragédia – não necessariamente romântica, mas de morte – como justaposição dramática do mórbido e obsessivo amor jovem.

Alex (Félix Lefebvre), um adolescente inseguro dos seus próximos passos, desde seguir o sonho de escritor ou começar a trabalhar como seu pai quer, encontra nesse tempo de incertezas o confiante, caótico e sedutor David (Benjamin Voisin), quando seu barco vira e o galante David vem a seu auxílio. A partir daí, a narrativa assume duas linhas temporais, sendo a primeira a crescente de paixão e obsessão dos dois personagens, posto como o flashback da principal proposta da obra: desvendar o mistério da segunda linha narrativa, no qual vemos um “atual” Alex sofrer com a morte de alguém, implicitamente David, personificado na palavra “cadáver” continuamente reiterada durante a obra.

Enquanto retrato de um intenso e inebriante primeiro amor, Verão de 85, apesar de familiar e até mesmo convencional na construção romântica dos protagonistas, encontra na estética e na dinâmica quase parasita (Alex) e egoísta (David) do romance, uma bela bolha de intimidade oitentista através da descoberta pessoal. As lentes nostálgicas de Ozon são vistas na cinematografia desbotada do verão, cheia de luzes quentes e uma câmera apaixonada por suas ambientações, e a textura da obra assume um teor de supersaturação da imagem; todos esses elementos proporcionam uma amplificação de emoção sensual e vibrante, além do recorte temporal visualmente uma memória melancólica.

Em suma, o comum coming of age dramático e sexy (o corpo dos jovens está sempre em evidência), é eficiente narrativamente ao trazer problemáticas de obsessão, trauma, desilusão e a quebra da eternidade idealizada da juventude, e esteticamente encantador e imersivo no recorte temporal do verão. Os problemas do filme residem na inserção do mistério da morte de David, desenvolvida em torno de uma narração em off pífia e redundante, além das chatíssimas tentativas dramáticas de preencher o thriller com uma pegada filosófica pobre nas várias frases sobre mortalidade, cadáveres e cemitérios. A direção de Ozon faz bem pouco para exercer suspense, utilizando-se da montagem e narração para construir o desconexo clímax trágico de uma história sobre relacionamento íntimo, no qual sequer temos um desfecho emocional na tão reverberada morte que acontece fora de tela.

A conclusão de Verão de 85 se torna ainda mais problemática ao se encontrar com um único personagem em evidência, pois perde justamente o poder da fita: o relacionamento. Alex não consegue carregar o restante da obra que lentamente cai no enfadonho e até esperançoso final – não fazendo muito sentido com o campo mórbido e desiludido do enredo. Felizmente, há sim o que gostar em Verão de 85, especialmente na conexão e desconexão do casal, além de como a unidade estilística do filme pega a trama clichê e propõe a nostalgia, o brilho lírico e a imagem vibrante no discurso de idealização do amor (ou diversão) no outro, mas o paralelo do drama e o suspense de Ozon concebem o monótono, o desinteressante e, bem, o mediano.

Verão de 85 (Été 85) – França, 2020
Diretor: François Ozon
Roteiro: François Ozon (baseado no livro Dance on My Grave, de Aidan Chambers)
Elenco: Félix Lefebvre, Benjamin Voisin, Philippine Velge, Valeria Bruni Tedeschi, Melvil Poupaud, Isabelle Nanty, Laurent Fernandez, Aurore Broutin, Bruno Lochet, Yoann Zimmer, Antoine Simoni, Patrick Zimmermman, Samuel Brafman-Moutier
Duração: 90 min.

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