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Crítica | Viagem ao Fundo do Mar (1961)

Modernizando e diluindo Jules Verne.

por Ritter Fan
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Viagem ao Fundo do Mar, terceiro longa-metragem de ficção dirigido e co-escrito por Irwin Allen (em sua dobradinha com Charles Bennett que continuaria em Cinco Semanas num Balão, seu filme seguinte), daria origem à primeira série sci-fi de Allen três anos depois e, com o sucesso, levaria o produtor a marcar sua época na TV com Perdidos no Espaço, Túnel do Tempo e Terra de Gigantes. Pode-se dizer, portanto, que este longa abriu importantes portas para Allen que se firmaria como um dos grandes nomes do gênero ao longo dos anos 60 e 70, também ganhando reconhecimento por seus filmes-desastre O Destino do Poseidon e Inferno na Torre.

O longa que nos apresenta ao icônico submarino de pesquisas (mas que tem mísseis e é tecnicamente do governo do EUA) Seaview, ao brilhante, mas turrão e insensível Almirante Harriman Nelson (Walter Pidgeon) e ao desafiador Capitão Lee Crane (Robert Sterling), personagens que seriam mantidos na série, mas com outros atores, é uma óbvia releitura e modernização do clássico Vinte Mil Léguas Submarinas, de Jules Verne. Seaview é a versão mais, digamos, realista do Náutilus, mantendo, claro, as janelas de vidro, com o Almirante Nelson, cientista e militar, sendo um novo Capitão Nemo, com o filme muito focado nas relações humanas dentro da traquitana submarina, exatamente como no livro.

Mas o roteiro de Allen e Bennett pega emprestado elementos fáticos então bem recentes, especialmente o sucesso do USS Nautilus, o primeiro submarino nuclear do mundo, em sua missão de cruzar do Pacífico ao Atlântico via o Polo Norte, pois é justamente assim que o longa começa, com o caríssimo Seaview, passando pelo escrutínio de um senador, um almirante e uma psiquiatra, cruzando o Ártico quando, de repente, em razão de uma chuva de meteoros, o Cinturão de Van Allen, então também recém-descoberto, pega fogo, pintando o céu da Terra de vermelho e aumentando tremendamente a temperatura. Cabe então ao polivalente fumador de charuto Almirtante Nelson, com a ajuda do Comodoro Lucius Emery (Peter Lorre), bolar um plano para “apagar o fogo”, consistente em atirar um míssil nuclear em dia, hora e local precisos, algo que a comunidade científica mundial, representada pelo Dr. Dr. Emilio Zucco (Henry Daniell), é completamente contra. Começa, então, uma longa viagem contra o tempo e contra toda a sorte de ameaças para o Almirante Nelson provar que certo e que ele e sua geringonça submarina são as últimas esperanças sob o mar.

Não se pode dizer que Allen não se esforçou para criar ameaças variadas, que vão desde icebergs (que afundam, mas tudo bem…), passando por criaturas submarinas (a obrigatória lula gigante dentre eles) e chegando a tripulação em revolta, sabotadores e um fanático religioso. A cada obstáculo, o padrão se repete: Lee quer resolver com cabeça fria, na base da conversa, dá uma ordem que é, ato contínuo, desfeita pelo almirante que se mostra cada vez mais irascível e frio. Aliás, nesse ponto vale dizer que Walter Pidgeon consegue construir um personagem completamente antipático que torna difícil a tarefa do espectador de torcer por ele, com Robert Sterling vivendo um comandante que muito lentamente enfrenta seu superior com mais do que apenas cara feia, o que também não ajuda em nada seu personagem.

Se os conflitos internos são repetitivos, seguindo um padrão óbvio que só aumenta em intensidade em razão das ameaças que a tripulação enfrenta, Allen merece comenda pela qualidade dos efeitos especiais de seu longa. Não só os cenários que dão vida ao interior do submarino são muito eficientes em evocar um ambiente altamente moderno e tecnológico, como sobretudo o uso de miniaturas, filmagens submarinas, marionetes e sobreposição de imagens é exemplar, fazendo com que, mesmo depois de tantos anos, a obra se segure muito bem nesse quesito técnico.

Viagem ao Fundo do Mar é uma aventura submarina divertida que é construída em cima do clássico literário de Jules Verne, mas sem pretender ter a densidade e a qualidade da obra do francês na construção de seus personagens e dos conflitos que derivam daí. É, por assim dizer, é fazendo um trocadilho infame, uma versão aguada e rasa do Capitão Nemo e do Náutilus que, porém, sabe o que é e não tenta ser mais do que isso. É aquela clássica diversão garantida por algumas horas que não deixa marcas no espectador muito tempo depois que o “the end” aparece na tela, mas que tem grande importância para a carreira de Irwin Allen que, no agregado, mudaria o cenário da ficção científica tanto na TV quanto no cinema. Nada mal, não é mesmo?

Viagem ao Fundo do Mar (Voyage to the Bottom of the Sea – EUA, 1961)
Direção: Irwin Allen
Roteiro: Irwin Allen, Charles Bennett (baseado em história de Irwin Allen)
Elenco: Walter Pidgeon, Joan Fontaine, Barbara Eden, Peter Lorre, Robert Sterling, Michael Ansara, Frankie Avalon, Regis Toomey, John Litel, Howard McNear, Henry Daniell, Robert Easton, Mark Slade, Charles Tannen, Del Monroe
Duração: 105 min.

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