Home QuadrinhosArco Crítica | Viúva Negra Vol.5 #1 a 6: O Fio Belamente Tecido

Crítica | Viúva Negra Vol.5 #1 a 6: O Fio Belamente Tecido

por Daniel Tristao
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Natasha Romanova, a Viúva Negra, é uma personagem que nunca teve apelo junto ao público para sustentar um título próprio. Teve algumas oportunidades, mas com pouca longevidade, sendo sempre escalada para participações em outros títulos, edições especiais ou minisséries. Porém, desde 2012, com o sucesso do filme Os Vingadores (e de Scarlett Johansson no papel da espiã russa), os holofotes se voltaram à personagem e a Marvel decidiu que era o momento de re-engatar um título para aproveitar o sucesso do filme. Foram escolhidos Nathan Edmondson para o roteiro e Phil Noto para os desenhos e é esta série que chega agora ao Brasil em formato encadernado pela Panini.

A premissa da série é mostrar o que a ex-agente da KGB faz quando não está em missões pelos Vingadores ou pela S.H.I.E.L.D. Natasha atua em missões selecionadas e intermediadas pelo seu advogado, cujos objetivos, segundo ela própria, não são somente o lucro.

Mais de uma vez, o texto deixa claro que Natasha tem motivações pessoais para fazer o que faz, mas sem dar ao leitor maiores detalhes. Vemos a espiã aceitar trabalhos que se enquadram aos seus princípios éticos (se é que isso é possível quando se é uma espiã internacional conhecida pela eficiência e frieza, haha), mas a realidade acaba por aumentar o sentimento de culpa que parece persegui-la. “Você faz o que pode, mas não significa que está certo”.

Gosto muito desse tipo de história, pois permite que conheçamos melhor a personagem e permite ao escritor explorar aspectos às vezes subaproveitados em super-heróis. Fugir um pouco da ação desenfreada e investir nas tramas mais rotineiras e intimistas é um bom caminho para definir a psique do personagem, pois o aproxima do público, nos faz perceber que o herói/heroína é, no fundo, ‘gente como a gente’. Apesar do caminho acertado, na minha visão, o autor não se aprofunda, parece tímido ao adentrar na cabeça da personagem. Há passagens reflexivas, mas com pouca imersão; os dilemas e anseios da personagem, nestas edições iniciais, não são totalmente expostos e a complexidade emocional da espiã é pequena, fazendo com que Natasha pareça meio distante. Talvez a intenção tenha sido justamente essa, dar ao leitor a impressão de que está conhecendo a personagem aos poucos enquanto a acompanha nas viagens, missões e voltas para casa.

Mas isso não significa que não há ação. Até a edição #3 o tom é mais despretensioso, com uma aventura isolada a cada edição e sem uma trama que sirva de pano de fundo. A partir daí um cenário maior começa a aparecer e do número #4 em diante temos a trama principal revelada, que se estende até a edição final. O jogo de espiões apresentado não é tão intrincado, é até simples, mas bom o suficiente para despertar interesse. Minha crítica sobre o roteiro vai para as soluções adotadas para as sequências de ação. A missão de extração do presídio, o atentado ao avião e a fuga do navio (após ser capturada e torturada) são fáceis e convenientes demais. Com algumas coincidências, faltou um tanto de veracidade e realismo para que as sequências pudessem de fato empolgar.

Sobre a arte, é um ponto muito positivo da série. Phil Noto tem um estilo parecido com o de Alex Maleev (Demolidor, Cavaleiro da Lua). Em alguns momentos os desenhos, que às vezes não têm contornos, parecem pintados, não coloridos digitalmente. As cores opacas reforçam a impressão de distanciamento da personagem, dando um tom lúdico ou introspectivo, principalmente nas sequências dentro do apartamento de Natasha. A espiã, aliás, fica linda e jovial no traço de Phil Noto, especialmente nos enquadramentos em close.

Destaque também para a diagramação, que não segue um padrão regular a cada página, podendo variar de acordo com a dinâmica e o ritmo da história. A única página dupla de todo o volume foi muito bem escolhida, sendo ela a explosão da embaixada da Ucrânia. Consegue transmitir a sensação exata de perigo iminente, principalmente pela escolha do artista de colocar no topo da página a expressão de Natasha quadro a quadro, momento a momento antes da explosão, passando realmente a ideia de surpresa e urgência.

Considero válida a iniciativa da Marvel em dedicar novamente um título próprio à Viúva-negra e gostei da forma como foi concretizada pelos autores. Poderia ter dado maior profundidade à personagem e trabalhado melhor o roteiro em alguns momentos, mas a história é boa, entretém e tem potencial para evoluir. Vou continuar acompanhando!

Black Widow Vol.5 #1 – 6 (EUA, março a julho de 2014)
All-New Marvel Now! Point One 1 (EUA, janeiro de 2014)
Publicação no Brasil: Viúva-negra 1 (Panini)
Roteiro: Nathan Edmondson
Arte: Phil Noto
Letras: Clayton Cowles
Capas: Phil Noto
148 páginas (edição da Panini)

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